Na eleição de um novo Papa, a tradição da “fumata” mantém um papel central no ritual do conclave. Este sinal visual, emitido pela queima dos boletins de voto na Capela Sistina, determina se o consenso foi alcançado: a fumata branca anuncia que um novo Papa foi eleito, enquanto a fumata negra indica que ainda não se obteve a maioria necessária.
A prática remonta ao início do século XIX, quando o povo romano se reuniu para assistir à queima dos votos. Inicialmente, a cor do fumo era obtida com métodos simples – como a utilização de palha molhada –, mas com o passar do tempo, técnicas mais sofisticadas foram adoptadas. Hoje, após cada sessão de votação, os boletins, juntamente com os apontamentos dos cardeais, são queimados numa estufa especialmente concebida para o fim. O fumo resulta da combinação da combustão dos votos com produtos químicos que alteram a sua cor: para a fumata negra utiliza-se uma mistura de perclorato de potássio, antraceno e enxofre, enquanto que para a fumata branca são empregados clorato de potássio, lactose e colofónia.
Desde o conclave de 2005, a tradição foi modernizada com a introdução de um aparelho auxiliar que, através de fumígenos artificiais, garante uma distinção mais nítida entre os sinais. Este dispositivo, instalado junto à estufa tradicional, permite a emissão de fumo durante alguns minutos, de modo a acompanhar o ritual e evitar confusões. Para além da cor, o som dos sinos da Basílica de São Pedro tem sido incorporado ao anúncio oficial da eleição, reforçando a clareza do comunicado.
A responsabilidade pela queima dos votos e controlo do lume recai sobre os cardeais, sob rigorosas normas litúrgicas. Tradicionalmente, o cardeal que preside o conclave – muitas vezes o Protodiácono – acompanha o processo e, após a queima e eleição bem sucedida, dirige-se à varanda da Basílica para anunciar o resultado com o tradicional “Habemus Papam!”. Este anúncio, acompanhado pelo repique dos sinos, marca o início de um novo capítulo na Igreja Católica.
A evolução deste ritual reflecte tanto a manutenção de tradições centenárias quanto a adaptação a métodos modernos que garantem a fiabilidade do sinal. Embora episódios de incerteza tenham sido registados em eleições passadas – nomeadamente pela dificuldade em interpretar as primeiras fumatas – os recentes aperfeiçoamentos tecnológicos têm permitido que a cor do fumo seja claramente distinguida. Assim, a fumata não é apenas um ritual simbólico, mas também um procedimento técnico cuidadosamente planeado, que integra história, química e liturgia.
Em suma, a tradição das fumatas na eleição Papal continua a ser um dos momentos mais aguardados e emblemáticos dos conclaves. Seja pela fumata negra ou pela fumata branca, o ritual serve de elo entre a antiga prática e a modernidade, garantindo que o mundo saiba, de forma inequívoca, quando o novo pontífice foi escolhido.