O General e ex-Presidente da República Ramalho Eanes foi hoje homenageado em Castelo Branco, no âmbito das comemorações dos 252 anos de elevação a cidade, numa cerimónia que ficou marcada pela falta de elegância e protocolo dos anfitriões.
O município de Castelo Branco, para assinalar mais um aniversário, decidiu este ano dar destaque e homenagear em vida um dos seus filhos mais importantes, através da atribuição do nome Avenida General António Ramalho Eanes a uma das principais artérias da cidade, na entrada sul. A louvável iniciativa camarária de agradecimento e reconhecimento ao antigo Chefe de Estado ficou, contudo, manchada por um laxismo na organização da sessão de boas-vindas, que em nada se coaduna com a postura de rigor irrepreensível do General.

A organização foi de franco amadorismo, revelando pouca estruturação e pouca preocupação protocolar na receção a uma das figuras com mais peso institucional da nação, que merecia maior cuidado na homenagem que lhe foi dirigida.
A ex-primeira dama Manuela Ramalho Eanes, que chegou um pouco mais tarde, não tinha cadeira disponível na primeira fila. Alguém teve de lhe ceder lugar. O filho, que preparou uma surpresa ao pai ao estar presente, ficou de pé. O presidente da Câmara Municipal Leopoldo Rodrigues não preparou discurso. E, à última hora, em cima do acontecimento, num rebuliço, foram colocadas mais cadeiras quando se aperceberam que a afluência de pessoas seria muito maior do que a esperada, ou não estivéssemos a falar de um antigo Presidente da República, oriundo da vizinha vila de Alcains, muito reconhecido e respeitado pelo seu sentido de justiça e rigor em toda a sua prestação política e militar em Portugal. Tudo tratado como se de um improviso se tratasse.
No seu ar austero, mas sempre amável e respeitoso, Ramalho Eanes sublinhou ter ficado sensibilizado com a homenagem que lhe foi feita pela autarquia de Castelo Branco.
“Sensibiliza-me muito esta ideia da avenida com o meu nome. Eu sinto-me tão alcainense como albicastrense, por razões que se prendem com a minha infância e da minha vida adulta. Foi aqui que vivi os tempos mais felizes da minha vida, tempos de despreocupação e encanto”, referiu.
Aos 88 anos, o primeiro Presidente da República democraticamente eleito após a Revolução de 25 de Abril mantém uma lucidez e coerência ímpares nos seus ideais. Questionado sobre o estado do país, quase 50 anos após o 25 de Abril de 1974, o antigo chefe de Estado disse que Portugal “melhorou de uma maneira extremamente interessante”.
“O país hoje não tem nada a ver com o Portugal que era antes do 25 de Abril. Os fundos europeus permitiram que nós realizássemos milagres. Um dos milagres é termos um Estado social igual aos estados sociais europeus”, sustentou, apesar de considerar que, posteriormente, “não fizemos aquilo que era indispensável: definir um projeto de vida em comum, que fizesse com que todos se sentissem unidos no trabalho para chegar a um objetivo”.
Relativamente ao recente e polémico caso dos militares do navio Mondego, o General Ramalho Eanes sente-se “profundamente desgostoso enquanto militar e enquanto cidadão. Mas, não vou substituir-me a quem, no Estado, tem a responsabilidade de comentar esta questão e, inclusivamente, esclarecer os portugueses sobre aquilo que se passa”, afirmou.
Afastado da vida política ativa, Ramalho Eanes continua, enquanto elemento da sociedade civil, a intervir em assuntos que considera de relevância, especialmente cívica e cultural, nomeadamente através da sua participação em congressos e conferências sobre diversos temas (culturais, políticos, sociais e sociológicos, geopolíticos e geoestratégicos), em fóruns especializados, autarquias e universidades, entre outros, em Portugal e no estrangeiro.
Atualmente, é, por inerência (como todos os Presidentes, que tenham já cumprido os seus mandatos e tenham sido eleitos na vigência da atual Constituição), conselheiro de Estado vitalício.