Finalmente, as preces dos agricultores portugueses chegaram “aos ouvidos” dos governantes. Há vários meses que os agricultores portugueses alertam o Governo para o perigo de ficarem em risco culturas de Norte a Sul do país e, pelos vistos, as suas preces chegaram à ministra da Agricultura que prometeu estudar mais medidas de apoio para aos agricultores e produtores pecuários fazerem frente à crise que se adivinha.

Alentejo, Algarve e Nordeste Transmontano são, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), as regiões mais afetadas pela situação de seca que o país atravessa. A seca já faz antever um ano agrícola mau e os agricultores desesperam com a falta de água e de pastagens. A presidente da Associação de Agricultores do distrito de Portalegre considera que a situação “é muito grave”, explicando que, depois do excesso de precipitação, em dezembro do ano passado, o que dificultou a instalação das culturas de outono e Inverno, agora a seca “acaba por ser muito pior” uma vez que as searas não se desenvolveram.
Segundo os agricultores, a falta de chuva traduz-se também na ausência de pastagens o que coloca em causa a manutenção dos efetivos dos criadores de gado da região.
Às preocupações dos agricultores, o Governo responde com a promessa de ir estudar novas medidas de apoio para os agricultores e produtores pecuários enfrentarem a situação de seca que atravessa uma parte do país, revela a ministra da tutela.
“Estamos a estudar e a ver aquilo que é possível fazer”, respondeu à ministra da Agricultura e Alimentação, Maria do Céu Antunes, ao ser questionada pela agência Lusa sobre se estão previstas novas medidas de apoio contra a seca, em Beja.
A governante realçou que o seu ministério está a “trabalhar internamente para perceber que outro nível de apoios é que será necessário” adotar para ajudar agricultores e produtores pecuários, admitindo que “a situação é, de facto, muito gravosa”.
Segundo a ministra, com o reconhecimento de seca severa e extrema em cerca de 40% do país, os agricultores passaram a beneficiar de medidas para que “não sejam penalizados nas suas obrigações quando receberem os apoios a que se candidataram”.
“No caso de uma seara que o nível de produtividade faz com que não seja possível fazer a colheita, essa seara pode ser utilizada para a pastorícia” e o agricultor pode invocar a seca para não perder as ajudas a que tinha direito, exemplificou.
A utilização de terras em pousio sem penalização, uma produção de arroz que não atinja um determinado nível mantém os apoios ou a produção de animais em modo biológico, ou integrada poderá utilizar alimentos não certificados são outros exemplos.
Maria do Céu Antunes refere que o Governo português tem defendido junto da Comissão Europeia que as ajudas extraordinárias devem advir de “fundos comunitários e não exclusivamente dos orçamentos nacionais”.
“Há uma penalização dos Estados-membros, nomeadamente os que têm menos recursos e orçamentos menores, e isso coloca os nossos agricultores, num mercado que é comum, em desvantagem”, argumentou.
Nem o porco preto escapa
Entretanto, o presidente da Associação de Criadores de Porco Alentejano (ACPA), com sede em Ourique (distrito de Beja), Nuno Faustino, afirmou que a seca está a ter um impacto “muito negativo” no setor do porco alentejano, cujo efetivo teve uma redução de cerca de 30% a 50% nos últimos anos.
Nuno Faustino afirmou que o impacto da seca no setor é sentido, desde logo, na fase de recria, devido à falta de alimentação no campo. “Não havendo erva no campo, tivemos de compensar essa falta de pastagem com mais rações, aumentando obviamente os custos de produção”, explicou.
A seca tem igualmente “uma repercussão direta no montado”, utilizado pelos produtores na chamada ‘fase de montanheira’, entre outubro e março, para engordar os animais com uma alimentação à base de bolota. “A seca faz com que a produção de bolota seja sempre uma incerteza muito grande e, regra geral, muito pouca. E também tem influência na saúde do próprio montado”, disse.
Esta realidade, associada aos maiores custos de produção e ao facto de os preços de mercado não estarem a crescer, “pressiona negativamente a produção de porco alentejano”, com impactos já evidentes.