A circulação de comboios está parada em todo o país, uma situação que se poderá prolongar pelos próximos dias, segundo a Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações (FECTRANS), que aponta uma adesão de 100% devido à greve de trabalhadores convocada por vários sindicatos. Um facto é que milhares de passageiros foram afetados pela greve dos trabalhadores da CP. Muitas pessoas viram-se obrigadas a encontrar alternativas de transporte — o que, para muitos, não foi fácil. No fundo, quem se lixa é o mexilhão
Sem comboios a circular, os autocarros tornaram-se a alternativa para centenas de passageiros. Os autocarros estavam sobrelotados e os tempos de espera eram superiores ao habitual na estação de Agualva-Cacém, onde a polícia foi chamada para tentar repor a ordem. No Porto, os sinais da greve assumiram contornos diferentes. A estação de Campanhã apresentava-se quase vazia, com avisos sonoros a serem emitidos de cinco em cinco minutos. Em Coimbra, o cenário era semelhante: uma estação fantasma, praticamente sem passageiros e sem comboios a circular.
Foram várias as viagens perdidas, que obrigaram milhares de trabalhadores a ‘faltarem’ ao trabalho ou a pagarem um táxi para os seus locais de trabalho. Com implicações gravosas para os orçamentos familiares, dado que a maioria dos utentes da CP são trabalhadores com ordenados mínimos, porque quem ganha “relativamente bem” utiliza, normalmente, o seu carro para se deslocar para o seu local de trabalho.
Por este motivo, a CP já veio a público lamentar o impacto que a greve está a ter na vida dos passageiros e afirmar ter contestado, junto do Tribunal da Relação de Lisboa, a ausência de serviços mínimos.
“A CP – Comboios de Portugal lamenta os graves transtornos e impactos que as greves em curso estão a trazer ao dia a dia de todos os seus clientes”, afirmou, em comunicado, acrescentando estar consciente dos danos causados.
O Tribunal Arbitral do Conselho Económico e Social não decretou serviços mínimos para esta greve, uma decisão que a empresa adiantou ter contestado junto do Tribunal da Relação de Lisboa, tendo em conta que a paralisação afeta o acesso ao trabalho, saúde e educação.
A CP disse ainda ter feito todos os esforços, em conjunto com a tutela, apresentando aos sindicatos uma proposta de reestruturação das tabelas salariais, no valor de 5,75 milhões de euros, e acrescentou continuar disponível para dar continuidade ao processo, assim que estiverem reunidas as condições.
Pinto Luz acusa sindicatos…
Já o ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz, acusa os sindicatos que representam os trabalhadores da CP de terem parado o país com uma greve marcada por interesse político, em altura de eleições.
“Os sindicatos conseguiram parar o país por interesse político e tem a ver com o ‘timing’ em que estamos, em eleições”, entende o ministro cessante, para quem a greve “só serve os interesses dos sindicatos” e não os da empresa e dos seus trabalhadores.
O ministro das Infraestruturas e Habitação sublinha que o Governo “não cede a pressões” e que tentou negociar com os sindicatos, “indo ao limite” do que a lei permite a um executivo em gestão.
E sindicatos acusam ministro
Apesar de reconhecer que esta greve afecta, em muito, os trabalhadores que ganham ordenados inferiores a mil euros, José Manuel Oliveira, dirigente da Fectrans, revelou que “o ministro em vez de andar a fazer discursos públicos, devia ter, de facto, maleabilidade para discutir e não chegar a uma reunião e dizer “é isto ou nada”, isto não é uma posição de negociação”.
O sindicalista salientou que “o ministro tem de ter em conta que nós estamos a reivindicar um acordo que foi feito e, até nas palavras dele, sustentado nas posições do ministério. Esse acordo foi feito no dia 24 de abril, não se percebe porque é que dois dias depois, a CP diz que não o pode aplicar porque não tem aval do ministro”.
Entre os partidos, quem já reagiu foi o PCP pela voz de Paulo Raimundo. Questionado pelos jornalistas sobre a greve da CP, o secretário-geral dos comunistas disse que “todas as consequências negativas que a greve tem na vida das pessoas, na movimentação, na mobilidade, tudo isso é da única responsabilidade do Governo”.
Relativamente às declarações do ministro das Infraestruturas, Paulo Raimundo considerou-as “vazia de sentidos” e deixou um conselho: “em vez de perder tempo em fazer campanha eleitoral», deveria «fazer hoje aquilo que não fez ontem, nem anteontem, nem noutro dia, nem neste ano todo, que é resolver os problemas de quem trabalha na CP”.
Já o Chega, revelando sempre o que é, ao invés de ficar do lado dos trabalhadores, de forma oportunista, optou por acusar o Governo de incompetência por causa da greve da CP e exigiu a privatização da empresa.