Os trabalhadores do Metropolitano de Lisboa decidiram avançar com uma greve ao trabalho suplementar e aos eventos especiais já a partir do mês de Maio. A decisão, tomada por maioria em dois plenários realizados nos dias 21 e 22 de Abril, poderá ter impactos significativos, nomeadamente na operação da final da Liga dos Campeões de futebol feminino, agendada para 24 de Maio, no Estádio José Alvalade.
De acordo com Sara Gligó, dirigente da Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações (Fectrans), os plenários deixaram claro que os trabalhadores se encontram disponíveis para “todas as lutas possíveis que os sindicatos considerem necessárias”, numa clara manifestação de descontentamento face à actual situação laboral no seio da empresa.
Em causa estão reivindicações antigas e ainda por resolver, como o aumento do subsídio de refeição e a redução do horário de trabalho para as 35 horas semanais. Apesar da insistência sindical, a administração do Metro de Lisboa tem-se mantido inflexível, alegando limitações impostas por decreto-lei que impedem aumentos salariais significativos.
A sindicalista sublinha que “os trabalhadores não servem apenas para os eventos especiais”, denunciando uma alegada exploração da mão-de-obra apenas quando convém à empresa. “A empresa vive para os eventos, mas esquece os seus trabalhadores no dia-a-dia”, acusou.
Durante uma reunião com o Conselho de Administração, agendada para 30 de Abril, os sindicatos pretendem reiterar a entrega de um acordo referente às variáveis remuneratórias, como trabalho suplementar e feriados. No entanto, segundo Sara Gligó, “nada foi cumprido com excepção dos anos de 2023 e 2024, nem sequer foi apresentada qualquer contraproposta”.
Na terça-feira, uma delegação sindical esteve também reunida com o gabinete do ministro das Infraestruturas e da Habitação, Miguel Pinto Luz. Para além das preocupações salariais, foi entregue uma Carta Aberta sobre o acidente ocorrido no ano passado junto à estação de Alvalade, documento que já havia sido igualmente remetido ao Conselho de Administração do Metro.
Relativamente ao Regulamento de Carreira, os sindicatos acusam a administração de “vender à tutela uma nova categoria profissional como sendo a melhor coisa do mundo”, sem que tenham existido negociações efectivas com os trabalhadores. “O executivo não disse que não havia dinheiro para as variáveis, apenas indicou que fosse negociado com os sindicatos — algo que nunca aconteceu”, afirmou Gligó.
O Metropolitano de Lisboa opera diariamente com quatro linhas — Amarela, Verde, Azul e Vermelha — e funciona entre as 06:30 e a 01:00. A paralisação agora decidida, focada no trabalho suplementar, poderá comprometer seriamente o reforço de serviços habitualmente implementado em grandes eventos.
Os sindicatos alertam que, caso não ocorram mudanças concretas, novas formas de luta serão postas em prática. A greve ao trabalho suplementar representa apenas o primeiro passo numa escalada de protestos, com impacto potencial na mobilidade de milhares de utentes e em acontecimentos de dimensão internacional.