O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Antonio Guterres, saudou o acordo de cessar-fogo em Gaza entre Israel e o Hamas anunciado nesta quarta-feira (15 de janeiro), e enfatizou que a “prioridade agora deve ser aliviar o tremendo sofrimento causado por esse conflito”. O acordo de três fases, que só será votado esta quinta-feira pelo governo de Benjamin Netanyahu, prevê também a entrega dos corpos de reféns e combatentes e o início da reconstrução.
O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, saudou esta quarta-feira o acordo para um cessar-fogo em Gaza e para a libertação dos reféns e instou as partes envolvidas a garantirem que seja totalmente implementado.
Numa breve declaração à imprensa, na sede da ONU em Nova Iorque, António Guterres, secretário-geral da ONU, indicou que a prioridade a partir de agora deve ser “aliviar o tremendo sofrimento causado por este conflito”.
“As Nações Unidas estão prontas para apoiar a implementação deste acordo e aumentar a entrega de ajuda humanitária sustentada aos inúmeros palestinianos que continuam a sofrer”, afirmou.
Esta declaração de António Guterres foi proferida após o primeiro-ministro do Qatar ter anunciado, também esta quarta-feira, um cessar-fogo na Faixa de Gaza. O acordo entre o Hamas e Israel põe fim a quinze meses de guerra.
Mohammed bin Abdulrahman Al Thani referiu que o acordo alcançado abre o caminho para dezenas de reféns israelitas regressarem a casa, confirmando a libertação de 33 reféns israelitas durante a primeira fase da trégua na Faixa de Gaza, cenário de uma guerra entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas desde 7 de outubro de 2023.
Como vai ser
O governante especificou que a primeira fase da trégua tem uma duração prevista de 42 dias. “O Hamas vai libertar 33 prisioneiros israelitas, incluindo mulheres civis (…), crianças, idosos, civis doentes e feridos, em troca de vários prisioneiros detidos nas prisões israelitas. Os pormenores das fases dois e três da trégua serão finalizados quando a primeira fase for concretizada”, acrescentou numa conferência de imprensa.
Os primeiros cativos do Hamas podem ser libertados no domingo. Em Telavive, os familiares celebraram mas continuaram a exigir a entrega de todos os reféns.
Nos próximos dias, inicia-se a retirada militar de Gaza. A saída das tropas israelitas será gradual durante seis semanas, acompanhada pelo regresso das populações ao norte do enclave e pelo envio de seiscentos camiões de ajuda humanitária.
O acordo de três fases, que só será votado na quinta-feira pelo governo de Netanyahu, prevê ainda a entrega dos corpos de reféns e combatentes e o início da reconstrução.
Mediadores vigilantes
Nas mesmas declarações, Mohammed bin Abdulrahman Al Thani anunciou que o Qatar, o Egito e os Estados Unidos, países que passaram o último ano a tentar mediar o fim da guerra na Faixa de Gaza e a libertação dos reféns, vão controlar a aplicação do acordo de tréguas através de um mecanismo de vigilância estabelecido no Cairo.
“Será criado um mecanismo de vigilância gerido pelo Egito, o Qatar e os Estados Unidos. Com sede no Cairo, este mecanismo vai envolver uma equipa conjunta dos três países para acompanhar a aplicação do acordo”, afirmou.
“Um ano de esforços implacáveis”
Momentos depois das declarações do líder do Qatar, o Presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, descreveu o acordo como o resultado de “mais de um ano de esforços implacáveis de mediação egípcios, qataris e americanos”.
Em comunicado, enfatizou “a importância de agilizar a chegada de ajuda humanitária de emergência ao povo de Gaza para lidar com a atual situação humanitária catastrófica”.
O Hamas defendeu, também em comunicado, que o acordo de cessar-fogo em Gaza foi o resultado da “tenacidade” do povo palestiniano e da “valente resistência” do movimento.
“O acordo de cessar-fogo é o produto da lendária tenacidade do nosso povo palestiniano e da nossa valente resistência na Faixa de Gaza durante mais de 15 meses”, afirmou o movimento.
O acordo, adiantou, abriu “o caminho para a concretização de as aspirações do povo pela libertação”.
O conflito em curso em Gaza foi desencadeado por um ataque sem precedentes do grupo islamita palestiniano Hamas em solo israelita, em 7 de outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns.
Após o ataque do Hamas, Israel desencadeou uma ofensiva em grande escala na Faixa de Gaza, que já provocou quase 47 mil mortos, na maioria civis, e um desastre humanitário, desestabilizando toda a região do Médio Oriente.
Governo e Marcelo saudam cessar-fogo
Entretanto, o Governo português saudou e manifestou esta quarta-feira o seu apoio ao acordo entre o Israel e o Hamas para um cessar-fogo em Gaza e para a libertação de reféns, sublinhando que permitirá “avançar rumo a uma solução política duradoura”. Também o Presidente da República e o antigo primeiro-ministro saudaram o acordo.
“O Governo português saúda e apoia o acordo entre Israel e o Hamas para a libertação de reféns e pausa nas hostilidades na Faixa de Gaza. O cessar-fogo permitirá aliviar o sofrimento das populações envolvidas e avançar rumo a uma solução política duradoura”, pode ler-se, numa publicação do Ministério dos Negócios Estrangeiros na rede social X.
Também o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, saudou o acordo de cessar-fogo que “abre a porta ao regresso dos reféns na posse do Hamas” e “ao fim do sofrimento imenso da população palestina” em Gaza.
“Portugal apoiará todos os esforços para fazer deste acordo uma realidade e estabilizar a situação na Faixa de Gaza e na região”, afirma Marcelo Rebelo de Sousa, numa nota publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet.
Acesso imediato da ajuda humanitária
Já o presidente do Conselho Europeu, António Costa, disse esperar que o acordo permita o “acesso imediato” da ajuda humanitária ao enclave.
“Saúdo o acordo de cessar-fogo e de libertação de reféns alcançado hoje. Espero que este acordo ponha fim ao sofrimento dos civis e que aqueles que estão em cativeiro possam reunir-se com os seus entes queridos”, sublinhou o ex-primeiro-ministro português.
Para António Costa, o cessar-fogo “deve permitir o acesso imediato à ajuda humanitária tão necessária e criar as condições para a recuperação e reconstrução de Gaza”.
“A UE continua empenhada numa paz abrangente, justa e duradoura, baseada na solução dos dois Estados”, destacou ainda o ex-primeiro-ministro português.
Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, primeiro-ministro do Qatar, país mediador e que tem acolhido as negociações indiretas, confirmou hoje um acordo de cessar-fogo entre Israel e o movimento islamita palestiniano Hamas na Faixa de Gaza, após 15 meses de conflito, avançando que a trégua deverá entrar em vigor no domingo.