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Habemus Papam?

A quem caberá suportar o peso da herança de Francisco? Continuará, na sua senda, a tornar a Igreja mais adaptada ao mundo de hoje, ou seguirá pressões no sentido de voltar à “pureza” inicial? A possibilidade de demora para a escolha é real, pois terá de ser alguém que encarne que ventos da Igreja Católica vão soprar nos próximos anos.

Papa Francisco abalou os alicerces tradicionais da Igreja, chegou a lançar “blasfémias”: “é preferível viver como ateu do que ir todos os dias à igreja e passar a vida a odiar e a criticar os outros” (1 de janeiro de 2019). Numa mensagem de Natal perante a hierarquia eclesiástica, o pontífice recordou uma entrevista ao arcebispo de Milão, o cardeal Carlo Maria Martini, publicada dias antes da sua morte, em 2012: “A Igreja está duzentos anos atrasada. Por que não abanar? Temos medo? Medo em vez de coragem? No entanto, o fundamento da Igreja é a fé”. Sobre a implementação da reforma na Cúria Romana, o Papa defendeu que “nunca teve a presunção de fazer como se não tivesse existido antes”, considerando que, “pelo contrário, pretende valorizar tudo o que de bom foi feito na complexa história da Cúria”. Contudo, disse, “a memória não é estática, é dinâmica, pela sua natureza implica movimento” e que “tudo isto tem uma importância particular neste tempo, porque não estamos a viver simplesmente uma época de mudanças, mas uma
mudança de época”

A Igreja é uma instituição conservadora. Papa Francisco deu alguns passos na reforma dessa visão ultrapassada e mesmo reacionária. Afirmou que “a atitude saudável” é “deixar-se questionar pelos desafios do tempo presente”, com discernimento e coragem, em vez de deixar-se seduzir pela inércia confortável de deixar tudo como está”. Ao longo da história, a Igreja esteve sempre, ou quase sempre, do lado dos poderosos, apesar de apregoar a humildade e a defesa dos mais pobres, pregando a “mera” caridade e não no sentido de construir sociedades mais justas.

A nível social, a estrutura hierárquica é machista e não inclusiva. O Papa afirmou que a Igreja Católica não deve estar fechada aos pecadores como “uma alfândega pastoral”. “Somos muitas vezes controladores da fé, em vez de facilitadores”, disse.
Jorge Bergoglio deu como exemplo um padre que recusa batizar uma criança filha de uma mãe solteira. “Esta mulher teve a coragem de continuar a gravidez […]. E o que encontra? Uma porta fechada”, afirmou. “Isto não é zelo, isto é distância de Deus. Quando fazemos este caminho com esta atitude não estamos a ajudar o povo de Deus”.

As mulheres têm um papel menor, não permite o casamento dos padres e ocultou a pedofilia. É contra a liberdade de cada um amar quem quiser, rejeitando receber os homossexuais no seu seio. O Papa Francisco decidiu simplificar e abreviar os procedimentos de reconhecimento da nulidade dos casamentos católicos e pedir a sua gratuitidade. Realçou o apoio aos emigrantes e clamou que devem ser incluídos
na sociedade: a sua primeira viagem foi a Lampeduza.

Em 2015 apresentou a encíclica “Laudato si. Sobre a proteção da casa comum”, na qual apelava para a responsabilidade de todos na proteção do planeta, “que está a ser destruído”. Nesta encíclica, publicada seis meses antes da conferência sobre as alterações climáticas, em Paris, o Papa pediu à humanidade, que aponta como principal causadora do aquecimento global, que atuasse o mais depressa possível para salvar o planeta.

A Igreja muitas vezes teve a violência como aliada: basta lembrar a Inquisição e as
Cruzadas.

“Esta economia mata” foi uma das ideias mais fortes do seu pontificado, que referiu na sua exortação apostólica ‘Evangelii Gaudium’, em 2013, e que serviu ao longo dos anos para ilustrar as suas críticas aos efeitos da crise económica. “A crise que estamos a viver é a crise da pessoa, que já não conta; só o dinheiro conta”, disse, numa ocasião, e, noutro momento, comentou: “O [sem-abrigo] que morre não é notícia, mas se as bolsas caem 10 pontos é uma tragédia. Assim, as pessoas são descartadas”. Repetidamente, o Papa manifestou a sua preocupação com os pobres, os desempregados, enquanto condenava a acumulação do lucro e o culto do dinheiro.

No século XX, despontou um novo modelo de Igreja Latino-americana, preocupada com as classes populares. Com a intensificação da miséria, do sofrimento de operários e camponeses marginalizados, da perseguição aos que reivindicavam melhores condições de vida, da repressão para manutenção de privilégios e da insurreição guerrilheira contra essas situações, os cristãos (sacerdotes, religiosos, pastores e leigos) adquiriram uma nova visão do seu cristianismo, exposto pelos teólogos de vanguarda, para lançar-se na participação do processo de libertação. Será que o novo papa vai continuar a aproximação a esta “Igreja Revolucionária?

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Joaquim Correia
Joaquim Correia
“É com prazer que passo a colaborar no jornal Regiões, até porque percebo que o conceito de “regiões” tem aqui um sentido abrangente e não meramente nacional, incluÍndo o resto do mundo. Será nessa perspectiva que tentarei contar algumas histórias.” Estudou em Portugal e Angola, onde também prestou Serviço Militar. Viveu 11 anos em Macau, ponto de partida para conhecer o Oriente. Licenciatura em Direito, tendo praticado advocacia Pós-Graduação em Ciências Documentais, tendo lecionado na Universidade de Macau. É autor de diversos trabalhos ligados à investigação, particularmente no campo musical

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