O Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) aprovou formalmente um acordo de coligação governamental com a União Democrata-Cristã (CDU), permitindo que o Parlamento de Berlim eleja, na próxima semana, o líder conservador Friedrich Merz como novo chanceler alemão. A decisão representa um momento decisivo no cenário político alemão e marca o regresso de uma “grande coligação” entre as duas maiores forças políticas do país.
O acordo, firmado no início de abril, foi submetido a votação eletrónica interna entre os mais de 358 mil membros do SPD. A consulta, cujos resultados foram divulgados esta quarta-feira, registou uma participação de 56%, com 84,6% dos votantes a favor da coligação.
A aliança entre a CDU, liderada por Merz, e o SPD ocorre após as eleições legislativas em que os conservadores obtiveram 28,6% dos votos, ficando à frente da extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que alcançou 20,8%. O SPD, com apenas 16,4%, teve o seu pior resultado eleitoral desde o fim da Segunda Guerra Mundial, ficando relegado ao terceiro lugar.
O fraco desempenho eleitoral levou o SPD a optar por integrar um governo de coligação, justificando a decisão com a necessidade de garantir estabilidade e evitar que a AfD, de orientação extremista e anti-imigração, tivesse qualquer possibilidade de influência governativa.
A CDU, juntamente com a sua parceira da Baviera, a União Social-Cristã (CSU), já havia aprovado o acordo, o qual prevê que os sociais-democratas assumam pastas importantes como as Finanças, a Justiça e a Defesa. Com este entendimento, a coligação alcança uma maioria funcional no Bundestag (Parlamento federal), com 328 dos 630 assentos.
A eleição de Friedrich Merz como chanceler está marcada para o dia 6 de maio, tornando-o o décimo líder da Alemanha desde 1945. Merz sucede a Olaf Scholz, encerrando o ciclo de governação exclusivamente social-democrata iniciado em 2021.
Entre os principais objetivos do novo executivo estão o relançamento económico, o reforço do investimento na defesa nacional, uma abordagem mais restritiva à imigração e a aceleração da modernização do país.
Este modelo de coligação não é inédito na história recente da Alemanha. SPD e CDU já partilharam o poder na década de 1960 e, mais recentemente, em três dos quatro mandatos da antiga chanceler Angela Merkel, entre 2005 e 2021.
Com este novo capítulo, a política alemã avança para um novo equilíbrio entre estabilidade, contenção da extrema-direita e reposicionamento estratégico num contexto europeu e global cada vez mais exigente.