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Hoje começa a orgia ao som de charros

Hoje, por esta hora, há 12 mil portugueses enfiados num complexo de hotéis em La Punta Umbria, aldeia turística no sul de Espanha, a apanhar a maior moca e bebedeira das suas vidas. É a famosa “viagem de finalistas” que enfia gente que não acaba nuns hotéis manhosos com piscinas e quartos empilhados de camas. Hoje, começa o La Punta 25, evento honorário da lista de viagens para as gentes do 12º Ano. Dura até domingo e tem um programa intenso. Do meio dia até às oito da manhã do dia seguinte há concertos, festas, DJs espalhados e uma orgia desenfreada e natural.

Basta ver os vídeos no TikTok ou Instagram para se perceber que a viagem acontece sob a enorme e eterna frase «sexo, drogas e rock&roll», embora o rock agora seja hip-hop, trap, rap, afro-beat, funk de ostentação e outras especialidades musicais. Impera, claro, o machismo serôdio e a objectificação do corpo. Os tais vídeos do TikTok ensinam até os colegas como se preparar para a viagem. E é aqui que começamos a perceber um padrão. Os vídeos feitos por moças são dedicados, na esmagadora maioria, ao “parecer”. Elas explicam com que roupa, com que maquilhagem, com que bikini, com que olhos se devem apresentar à chusma, puxando sempre para o lado simples: tens de estar uma princesa sexy e disponível. É de vómito, juro. As raparigas estão toldadas pelo aspecto e pela competição desenfreada da sedução.

Já os vídeos masculinos são pobres em conteúdo e há-os de dois tipos: rapazes que aconselham a não partir tudo no primeiro dia e a explicar onde é o posto da Cruz vermelha, para levar os amigos em coma alcoólico; e outros, que são apenas exibicionismo idiota. O próprio canal “oficial” mostra “jogos” hediondos. Num deles o organizador de um concurso pergunta a um rapaz: “Queres um beijo desta rapariga ou preferes dobrar?”. O puto diz “dobrar” e aparece outra. E ele dobra e aparecem quatro. E assim por diante até ter 16 senhorinhas de biquíni que se prestam a dar um beijo ao “campeão”. Confesso-vos que não sabia onde me meter quando vi a palhaçada.

A PSP e a GNR andaram pelas escolas, nas duas últimas semanas, a dizer aos alunos como se deviam comportar, na ideia de que a rapaziada ia ligar aos conselhos sobre o álcool, as drogas e as doenças venéreas – julgo que não falaram destas. Mas esse trabalhinho cabe aos tutores, aos pais. E não pode aparecer do nada. Tem de ser um trabalho de liberdade e confiança que começa na nascença, se solidifica enquanto adolescentes e, por fim, bastam dez minutos para dizer coisas simples. Como dar a receita para a ressaca, afastá-los de drogas sintéticas e duras, marcar hora de contacto para casa.

Sempre recusei viagens de finalistas. Detesto que me mandem divertir e estar feliz quando os outros querem. Abomino rebanhos e rituais vazios e cretinos. Mas, como eu, haverá 24 mil pais e mães, de coração nas mãos, à espera que o seu filho ou filha não caia do quinto andar e morra numa aldeia triste e machista em Espanha.

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Joao Vasco Almeida
Joao Vasco Almeida
Jornalista 2554, autor de obras de ficção e humor, radialista, compositor, ‘blogger’,' vlogger' e produtor. Agricultor devido às sobreirinhas.

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