**Há anjos que gostam de Jazz**
Talvez seja como quando ouvimos que “a tua vida dava um filme”, quando na realidade sabemos que todas as vidas dariam um filme.
Seja como for, vou aproveitar para contar histórias ligadas à Jam Session Associação Cultural / Cascais Jazz Club (da qual sou Presidente e voluntária), pela imensa alegria que me trazem e porque nessas histórias recordo gente tão boa, ocasiões tão especiais…
E não são poucas essas histórias nestes 11 anos em atividade.
Conheci o meu amigo Carlos há mais de 30 através do pianista Emílio Robalo.
Homem criativo e de iniciativa, voltamos a conviver quando passou a frequentar o clube.
Num dia de finais Outubro de 2015 disse-me que se deitássemos abaixo uma parede específica me faria uma surpresa.
Passado um mês telefonei-lhe informando que o trabalho estava feito, e ele cumpriu a palavra: mostrou-me o desenho do que queria fazer e pagou do seu próprio bolso.
Com uma pequena obra alterou a circulação de pessoas dentro do clube dando lógica e conforto ao espaço.
Só que o material era “pladur” e uma camada de pó branco invadiu tudo: cada superfície, frincha, canto.
Eu e a Margarida limpamos durante três dias a 12/14 horas de trabalho duro por dia.
Estávamos absolutamente estoiradas mas a aproximação da Passagem de Ano exigiu-nos que voltássemos ao clube para decorar, montar mesas , enfim : tratar da logística do evento.
Quando abrimos o louceiro tudo estava coberto de pó: pratos , travessas, talheres, copos, guardanapos…
Trocámos um olhar que se tivesse durado mais um segundo, teria sido de desespero.
Só que nesse ínterim duas jovens mulheres tinham descido as escadas , entrado no clube, e com uma energia que nem sei descrever, resolveram que aquele lugar era fantástico e perguntaram se precisávamos de ajuda !
Durante dois dias eu e Margarida fomos proibidas de entrar no armazém onde trataram de limpar tudo (só saiam para mudar a água dos alguidares).
Quando acabaram a tarefa ainda nos ofereceram um bolo rainha.
Não aceitaram compensação.
Não me lembro dos seus nomes e nunca mais as vimos.
Há anjos que gostam de Jazz.
