Depois de semanas de pressão, o Presidente Joe Biden abdicou numa carta aos norte-americanos, em nome do “melhor interesse do partido e do país”. Prometeu falar mais tarde, mas já declarou apoio à sua vice-Presidente, apelando à união entre todos os democratas. O candidato republicano às eleições presidenciais norte-americanas, Donald Trump, saudou a renúncia à reeleição do Presidente Joe Biden, e admite que a possível sucessora na corrida eleitoral, Kamala Harris, será mais fácil de derrotar.
Pelo partido e pelo país, o presidente norte-americano, Joe Biden, desiste da corrida presidencial e apoia Kamala Harris, a sua vice-presidente. Joe Biden anunciou através das redes sociais que vai afastar-se da corrida presidencial, após semanas de pressão crescente, tanto por parte de adversários políticos como de aliados democratas. Nunca um Presidente em funções à procura de ser reeleito havia desistido numa fase tão adiantada da corrida eleitoral.
Desta forma, a corrida eleitoral americana sofreu uma grande reviravolta a pouco mais de um mês da Convenção Nacional Democrata , com a saída do presidente Joe Biden, 81, da disputa. Em seu lugar, Biden indicou o apoio à vice-presidente Kamala Harris, 59 anos, defendendo: “a minha primeira decisão como candidato do partido em 2020 foi escolher Kamala Harris como minha vice-presidente. E foi a melhor decisão que tomei. Hoje quero oferecer todo o meu apoio para que Kamala seja a indicada do nosso partido este ano”.
“Democratas — é hora de nos unirmos e derrotar Trump. Vamos fazer isso”, escreveu no X, minutos depois de anunciar sua desistência.
Na carta de desistência Biden começou por salientar os progressos que fez nestes últimos três anos. “Atualmente a América tem a economia mais forte do mundo. Fizemos investimentos históricos na reconstrução da nossa Nação, na redução dos custos dos medicamentos sujeitos a receita médica para os idosos e na expansão de cuidados de saúde acessíveis a um número recorde de americanos”, escreveu.
“Foi a maior honra da minha vida servir como seu presidente. E embora tenha sido minha intenção tentar a reeleição, acredito que é do melhor interesse do meu partido e do país que eu me afaste e me concentre exclusivamente em cumprir meus deveres como presidente pelo restante do meu mandato”, pode ainda ler-se na carta de Biden.
Joe Biden fez “um profundo agradecimento à sua equipa, em especial à vice-presidente Kamala Harris por ser uma parceira extraordinária em todo este trabalho”.
Há semanas que se falava da desistência
Os boatos sobre uma possível desistência começaram há algumas semanas, mas a Casa Branca sempre desmentiu e o próprio Joe Biden numa entrevista disse ainda “estar na corrida”.
Os pedidos para que Biden, de 81 anos, desistisse aumentaram após um debate televisivo com Donald Trump, a 27 de junho, em que o Presidente pareceu física e cognitivamente exausto. Teve dificuldade em refutar as afirmações muitas vezes falsas do seu oponente, deu as suas próprias respostas de forma desconexa e, por vezes, olhou fixamente para o espaço.
Após o fracasso em direto, os aliados de Biden informaram os meios de comunicação social de que ele tinha estado constipado e fez um discurso mais enérgico num comício de campanha para recuperar a iniciativa.
No entanto, nas entrevistas e nas aparições públicas subsequentes, destinadas a tranquilizar os eleitores e o seu próprio partido de que estava em condições de se candidatar, Biden parecia frequentemente cansado. Como resultado, cada vez mais democratas proeminentes começaram a recusar-se a especular sobre o seu futuro ou a pedir explicitamente que se afastasse, mesmo quando outros insistiam que o apoiavam.
Um momento particularmente terrível ocorreu numa cimeira em Washington que assinalou o 75º aniversário da NATO. Embora Biden tenha sido capaz de dar uma longa conferência de imprensa, na qual falou sobre uma série de áreas políticas complexas, também se referiu ao Presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy como “Presidente Putin” e à sua própria vice-presidente, Kamala Harris, como “Vice-Presidente Trump”.
Uma intervenção importante para esta decisão de Biden veio de George Clooney, um dos maiores doadores dos democratas, que escreveu no New York Times que “a única batalha que (Biden) não pode vencer é a luta contra o tempo”.
“É devastador dizê-lo, mas o Joe Biden com quem estive há três semanas na angariação de fundos não era o Joe “big F-ing deal” Biden de 2010. Nem sequer era o Joe Biden de 2020. Era o mesmo homem que todos nós vimos no debate”.
Nem mesmo a tentativa de assassinato de Donald Trump conseguiu afastar a história de Biden do ciclo de notícias.
A meio da convenção em que Trump aceitou a nomeação, foi anunciado que Biden tinha sido diagnosticado com COVID-19, obrigando-o a ir para a sua casa em Delaware para recuperar.
Com o fim da Convenção Republicana, a máquina central do Partido Democrata parecia estar a avançar com um plano para que a nomeação de Biden fosse confirmada através de uma votação nominal virtual antes da reunião do seu próprio partido em Chicago, em setembro, forçando assim os delegados a votar nele o mais rapidamente possível.
Mas antes que esse plano pudesse ser posto em prática, Biden anunciou a sua desistência.
Tudo está agora nas mãos dos delegados à convenção dos democratas que vão decidir quem será escolhido para sucessor de Biden como candidato.
O caminho óbvio é o partido nomear a Kamala Harris, colocando-a na linha da frente para ser a primeira mulher presidente dos EUA. Nos últimos meses, tem feito cada vez mais aparições na campanha e os seus números nas sondagens em relação a Biden e Trump têm melhorado ultimamente.
Outros democratas populares e conhecidos foram também sugeridos como potenciais candidatos, entre os quais o governador da Califórnia, Gavin Newsom, e a governadora do Michigan, Gretchen Whitmer.
Trump acusa Biden de corrupto
De uma forma “extremamente violenta”, que caiu mal na opinião pública norte-americana, Donald Trump já reagiu na sua rede social Truth Social onde chama Biden de “corrupto” e “inapto” e acusa toda a sua equipa de ter mentido sobre a capacidade do presidente dos EUA. Acusa-o ainda de deixar o país no caos a nível migratório e promete “remendar” o que Biden deixou.
Quanto à possibilidade de ser Kamala Harris a substituir Biden, Trump deixa desde já um aviso: “Kamala Harris, será mais fácil de derrotar do que Joe Biden”.
Depois destas declarações, Donald Trump voltou a reagir, desta vez na rede social que criou, dizendo que o país vai sofrer depois de Joe Biden mas garante que o dano será remediado com uma nova presidência.
Trump acusa ainda Joe Biden de ser “corrupto” e de “nunca” ter estado apto a concorrer à presidência dos EUA e que só o conseguiu “com a ajuda de mentiras e fake news”