A eleição legislativa em Timor-Leste é um daqueles casos em que a roda do poder escolhe quase sempre os mesmos políticos históricos. Ora são chefes do Governo, ora presidentes da República. Os protagonistas são Xanana Gusmão, José Ramos Horta, Mari Alkatiri, Francisco Lu Olo Guterres e Taur Matan Ruak. Nas legislativas deste domingo, a roda girou nas urnas e Xanana está à frente nos resultados ainda não fechados.
Quase 900 mil eleitores, 17 partidos e 250 observadores internacionais. Foram as maiores eleições legislativas do país, desde a restauração da independência em 20 de maio de 2002. Foi também a primeira votação sem coligações pré-eleitorais. A votação, que ainda é artesanal com o dedo molhado na tinta roxa, muito difícil de remover, e a contagem dos votos, obrigaram a uma interrupção de algumas horas durante a noite.
Os resultados preliminares , colocaram o CNRT, de Xanana Gusmão, a liderar com 39,72% dos votos, enquanto apurados cerca de 18,03% dos centros de votação. A Fretilin é a segunda força, com 25,07%, seguindo-se o Partido Democrático (PD) com 9,85% dos votos.
Quando retomarem a contagem, de manhã, ainda levarão umas horas a anunciar os resultados finais que, devido ao fuso horário de mais cerca de sete horas, a notícia chegará a Lisboa por volta das 17 horas.
Xanana Gusmão, líder do Congresso Nacional para a Reconstrução Timorense (CNRT) e antigo presidente de Timor-Leste teve como principal adversário, Mari Alkatiri, da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), que também já foi chefe de Estado.
A terceira força política mais bem colocada nas sondagens é o Partido Libertação Popular (PLP) liderada pelo atual primeiro-ministro, Taur Matan Ruak.
O Presidente da República, José Ramos-Horta, foi dos primeiros a votar e defendeu a tranquilidade depois do voto, insistindo na defesa de uma maioria absoluta. Horta não receia problemas pós-eleitorais. “Creio que não haverá problema. Em todas as eleições os resultados foram aceites pelos derrotados”, afirmou o chefe de Estado timorense.
Mari Alkatiri e Francisco Guterres Lú-Olo, respetivamente secretário-geral e presidente da Fretilin, reiteraram a confiança que manifestaram durante a longa campanha de um mês.
Já, Xanana Gusmão, disse que se o partido vencer as legislativas de domingo e formar Governo, vai avançar com uma auditoria aos gastos do atual executivo, liderado pelo seu antigo camarada da resistência, e da Fretilin, onde todos os atuais políticos timorenses militaram na luta armada até à independência.
Tão Fretilin que eles eram na resistência
Depois da independência, entre crises e divergências, só Mari Alkatiri e Francisco Lu Olo se mantêm na Fretilin. Ramos Horta optou por ser independente, Xanana fundou um partido, e mais recentemente, até Taur Matan Ruak, criou um partido, tendo vencido as últimas legislativas.
Aliás, a história política recente de Timor-Leste é um entra e sai destes protagonistas, ora na liderança do Governo, ora na Presidência da República, com algumas poucas exceções para outros líderes.
Ora vejamos. Em abril de 2002, os timorenses foram às urnas para a escolha do novo líder do país, após o referendo que ditou a independência e a derrota do invasor Indónesio. As eleições consagraram Xanana Gusmão como o novo presidente timorense. A partir daqui foi uma sucessão de troca de cargos na Presidência e no Governo.
Xanana Gusmão foi presidente até 2007, e Ramos Horta foi eleito presidente até 2012. Depois, é eleito Taur Matan Ruak, até 2017. Francisco Guterres assumiu a presidência em 2017 para, em 2022 ser novamente eleito José Ramos Horta, onde ainda se mantém.
No cargo de primeiro-ministro, foi praticamente a mesma rotatividade. Mari Alkatiri, foi líder do primeiro Governo pós-independência, em 2002. Depois Ramos Horta, eleito como independente. Um atentado em 2008, levou Ramos Horta a deixar o Governo, após 327 dias.
Seguiram-se Estanislau da Silva, da Fretilin, por 81 dias, e depois, a partir de 2007, foi Xanana Gusmão, do CNRT, a liderar o executivo timorense durante cerca de sete anos. Em 2015, Rui Maria Araújo da Fretilin, é eleito primeiro-ministro, mas cumpre só metade do mandato, passando a pasta a Mari Alkatiri, que lá fica apenas 280 dias.
Em 2018, Taur Matan Ruak, que foi o último Comandante da Resistência timorense, Chefe de Estado Maior das Forças Armadas Timorenses, e presidente da República, fundou o Partido de Libertação Popular e venceu as eleições legislativas. Agora, tudo indica que o cargo volta a ser de Xanana Gusmão, com quem se terá incompatibilizado nos últimos anos.