Por que motivo Leopoldo Rodrigues, presidente da câmara, investe 740 mil euros numa fonte aquática monumental enquanto a cidade se afunda em problemas? Uma crónica sobre o mandato em que a água jorra sem parar, mas o compromisso com a população evapora-se.
Leopoldo Rodrigues, com sua veia magnânima, decidiu dar à cidade o que, aparentemente, todos pediam: uma fonte monumental, uma maravilha de 740 mil euros destinada a refrescar os turistas, encantar os residentes e… secar os cofres públicos. Num exercício surreal de prioridades, o presidente ignora ruas esburacadas, bairros degradados e infraestruturas a precisar de urgência para colocar no centro das atenções esta verdadeira “jóia líquida”. Porque, claro, em tempos de dificuldades, nada melhor do que um espetáculo aquático para distrair as multidões.
Enquanto a cidade afunda em problemas reais – desde a habitação à manutenção de serviços essenciais – o “investidor” Leopoldo esbanja na fonte que ninguém pediu. Parece que, no que toca ao património e necessidades reais, o orçamento é apertado; mas quando o tema é pompa e circunstância, ele alarga-se com uma generosidade faraónica. Quem esqueceu a novela do edifício da CGD, que escapou das mãos públicas para se tornar propriedade privada? Onde estava Leopoldo, então, para salvar o património da cidade? Aparentemente, a fonte tem mais valor de “espetáculo”.
Este mandato, que já conta com promessas aos pontapés, mostra-se uma verdadeira epopeia de anúncios e ambições que nunca saem do papel. O projeto de regadio de 15 mil milhões – outra obra que, como tantas, continua perdida em promessas – é um exemplo claro do estilo de governança: muito anúncio e pouco resultado. E, enquanto se planeia uma fonte de luxo, o presidente dá as costas aos bairros onde as crianças convivem com cabos elétricos expostos, onde a segurança é um enigma, e onde a manutenção parece tão distante quanto uma miragem. Quem habita nesta cidade sabe bem: os problemas são reais, mas os projetos de Leopoldo pertencem a uma outra realidade, como se o presidente habitasse uma cidade paralela.
A narrativa do Tribunal Central Administrativo é apenas mais uma peça deste teatro. Leopoldo acena com a promessa de um novo tribunal, mas a prática é outra. Por cada grande promessa, ficamos mais próximos de um grande vazio. Quem já viu a dança de anúncios que não se concretizam percebe que, em breve, esta nova ideia também se desvanecerá, como tantas outras.
Para os que vivem aqui, a cidade tornou-se num espetáculo de desmazelo: buracos nas ruas, bairros esquecidos, um património a cair aos pedaços. A fonte que Leopoldo ergue não passará de um oásis de desperdício, cercado por um mar de problemas reais. Cada euro gasto na fonte é um euro que poderia ter sido investido nas verdadeiras necessidades dos munícipes, mas Leopoldo continua fiel à sua visão de “desenvolvimento turístico”, que, na verdade, se revela uma cortina de fumaça.
Ao olhar o balanço deste mandato, já o vemos descendo para uma posição negativa, como que num gráfico invertido da sua popularidade, chegando a incríveis -10. Leopoldo, o “grande renovador”, torna-se, afinal, o coveiro da cidade, aquele que enterra o potencial da população em favor de caprichos e distrações.
Neste cenário, não é difícil imaginar um futuro melhor sem Leopoldo Rodrigues na cadeira de presidente. Em vez de se recandidatar, seria mais sensato reconhecer o fracasso de uma gestão que vive de festas e escapadelas. Para cada evento em que o presidente se faz presente, somam-se queixas e problemas que ele insiste em ignorar. Porque, para um presidente que prefere os brindes e o calor dos aplausos em festas e festivais, talvez seja fácil esquecer que a realidade da cidade é outra. Para os moradores, o “palco perfeito” deste mandato está montado, mas o espetáculo em cena é um drama sem fim.