Castelo Branco acordou esta quinta-feira com mais uma das pérolas do seu presidente de câmara, Leopoldo Rodrigues — figura já célebre pelas suas aparições em festas, festinhas e inaugurações de rotundas com orquestras filarmónicas, mas menos conhecido por decisões estruturantes ou por um plano de governação que vá além do corte de fitas.
Na edição desta semana do jornal Reconquista, surge a mais recente “ideia de génio”: um protocolo entre a Câmara Municipal e a Universidade de Lisboa para a abertura de cursos de pós-graduação em Direito na cidade. À primeira vista, parece um feito louvável — até se lembrar que já há uma instituição que leciona Direito na cidade há mais de duas décadas: o Instituto Politécnico de Castelo Branco (IPCB). Ups.
A reação foi imediata. Professores do IPCB, particularmente da área do Direito, usaram as redes sociais para exprimir a sua estupefação com aquilo que consideram um “desconhecimento vergonhoso” da realidade académica local por parte do edil. Num texto que não podia ser mais claro — nem mais indignado — recordam que o IPCB oferece licenciaturas, mestrados e várias pós-graduações na área jurídica. Tudo com recurso a docentes qualificados, doutorados e especialistas que, imagine-se, já cá estão. “À mão de semear”, como tão bem sublinharam.
E no entanto, o senhor presidente preferiu procurar pastagens mais centrais, talvez por ter mais glamour associar-se à capital do que à prata da casa. Uma escolha que levanta uma questão que começa a ser habitual sempre que Leopoldo Rodrigues surge nos títulos da imprensa local: afinal, sabe ele o que está a fazer?
Em quase quatro anos de mandato, o saldo é uma manta de retalhos de anúncios, promessas e iniciativas que fazem mais barulho do que obra. Enquanto isso, o município acumula défices, as obras arrastam-se (quando não ficam só no papel) e a governação parece seguir ao sabor da banda que tocar na próxima festa do concelho.
Esta última iniciativa, travestida de progresso, revela-se mais um tiro no pé. Ao invés de promover a coesão e valorizar o ensino superior local — uma estratégia sensata no combate à desertificação —, opta-se por duplicar oferta, gerar conflito institucional e desvalorizar quem cá trabalha e ensina com mérito. É quase como trazer uma pizzaria de Lisboa para uma cidade onde já há pizzaiolos premiados… e depois perguntar porque ninguém confia no restaurante da terra.
Resta perguntar: será ignorância ou apenas desdém? Seja como for, o resultado é o mesmo. E mais uma vez, Leopoldo Rodrigues confirma-se como presidente de cartaz — não do progresso, mas dos cartazes das festas populares.
Enquanto o interior clama por políticas com visão, Castelo Branco continua entregue a um executivo mais preocupado com a próxima selfie do que com a próxima geração.
Que venham as pós-graduações, sim, mas talvez fosse boa ideia começar por uma em Gestão Autárquica. Há claramente quem precise.
Quantos comentários negativos já foram feitos pelo dono deste jornal sobre aquele “partido” regional do famoso marido da não menos famosa Hortense ? Zero ?