Há presidentes de câmara que falham na execução, outros na visão, e depois há Leopoldo Rodrigues, presidente da Câmara Municipal de Castelo Branco, que consegue o feito notável de falhar na comunicação, na visão e, em última instância, na paciência dos seus conterrâneos. Desta vez, a polémica gira em torno de um novo contrato de arrendamento para um estacionamento na Avenida 1º de Maio. Ora, não seria algo demasiado controverso, não fosse a peculiar maneira de Leopoldo e a sua equipa apresentarem as suas ideias à população. Se Castelo Branco já anda a faltar de estacionamento, pelo menos em clareza nas palavras, parece que o município tem lugares vagos
A ordem de trabalhos para a próxima reunião extraordinária do município deixou os albicastrenses de sobrolho erguido e dedos prontos para a batalha nas redes sociais. No Facebook, a pergunta do momento é: “Ou seja, demolir habitação para pôr os carros?” A isto se junta a revolta geral: “É esta a transição energética que Castelo Branco pretende demonstrar?” Espanto e perplexidade dominam a discussão pública, porque, segundo os detratores de serviço, há ali alternativas de sobra, algumas até propriedade da própria câmara, mas que parecem estar esquecidas ou convenientemente negligenciadas.
E assim, o circo mediático está montado: os comentários dos mais diversos quadrantes políticos inundam as redes, inclusive de alguns fiéis soldados do Partido Socialista, que, pelo visto, já deixaram de marchar ao ritmo da batuta de Leopoldo. E quem poderia culpá-los? Afinal, quando se tem um presidente de câmara que tropeça nas suas próprias palavras e onde o bom senso parece ser um bem tão escasso quanto o estacionamento, até os mais ferrenhos começam a questionar.
Mas sejamos justos, desta vez, Leopoldo pode até estar a fazer algo certo. É verdade que na Avenida 1º de Maio o estacionamento é um caos, com carros em segunda fila como se fosse uma tradição local. Então, a criação de um novo parque de estacionamento não parece uma má ideia. O problema? A bendita comunicação. O tão criticado “ponto 4º” do Edital nº51/2024 menciona um contrato de arrendamento de cinco prédios urbanos para a construção de um parque de estacionamento. Prédios urbanos? Logo a imaginação popular enche-se de imagens de demolições em massa para fazer espaço aos carros, numa versão albicastrense do “Apocalypse Now”, mas em slow-motion e sem helicópteros.
Ao que tudo indica, esses “prédios” são apenas barracões velhos e umas construções decrépitas, ao lado de um terreno já arrendado para estacionamento. Portanto, o plano seria ampliar o espaço, e, sejamos francos, para uma zona que está desesperada por mais lugares para estacionar, até faz sentido. Só que, em vez de apresentar a situação de forma clara, Leopoldo e a sua equipa acharam boa ideia falar em “prédios urbanos”, como se fossem eruditos a declamar a última epopeia sobre políticas de mobilidade. Bastava dizer algo simples como “celebração de contrato de arrendamento para estacionamento” e pronto, explicava-se depois na reunião o que se ia fazer com os ditos prédios. Mas não, isso seria fácil demais.
E aqui chegamos ao cerne da questão: o verdadeiro problema de Leopoldo Rodrigues não é a falta de ideias, é a falta de noção de como as transmitir. Um presidente de câmara não precisa de ser um génio literário, mas quando até os seus próprios apoiantes começam a torcer o nariz às suas decisões, talvez esteja na hora de investir num bom assessor de comunicação. Ou em dois. O tempo já começa a contar, e com eleições à porta em 2025, Leopoldo vê-se encurralado entre a tentativa desesperada de fazer algo útil e a inevitabilidade de que, seja o que for que faça, será mal interpretado ou mal executado.
No fundo, o mandato de Leopoldo Rodrigues é um exercício contínuo de tentar enfiar um fato de presidente numa silhueta que não foi feita para ele. Não é só uma questão de ter mais um ano até as eleições. É uma questão de perceber que o fato é demasiado largo e que ele nunca teve a postura necessária para o cargo. A incompetência de gestão só é superada pela sua crónica inaptidão comunicacional. E assim, mesmo quando está certo, está errado. Afinal, em Castelo Branco, parece que o problema não é a falta de estacionamento para os carros. É a falta de espaço para ideias claras na cabeça do presidente da câmara.
Resta agora esperar que 2025 traga mais do que apenas a mudança de calendário. Porque se continuarmos assim, até os carros começarão a abandonar o município por falta de um parque decente. Ou, no caso de Leopoldo Rodrigues, por falta de paciência com tanta trapalhada.