O presidente da República diz que “não vale a pena pôr o carro à frente dos bois” perante a ameaça de crise política na Madeira. O Chega apresentou uma moção de censura ao governo regional. Marcelo Rebelo de Sousa diz que é preciso esperar pela votação. Agora foi a vez de Alberto João Jardim defender um Governo do PSD sem Miguel Albuquerque. O antigo presidente do Governo Regional acusa Albuquerque de ser incapaz de unir o partido
Pode estar à vista uma nova crise política na Madeira. O PS decidiu apoiar a moção de censura do Chega e a queda do Executivo será inevitável se o partido Juntos Pelo Povo (JPP) também apoiar. Inclusive o antigo presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim, diz que o “PSD precisa de uma nova liderança”, defendendo que “esta situação não se pode repetir e temos que acabar isto”.
Presidente do PSD e do governo regional por quase 40 anos, Alberto João Jardim entende que o momento de Miguel Albuquerque já passou: “O PSD-Madeira desde 2015 que não tem um líder capaz e com competência para unir o partido. Sei que ele é muito influenciado por pessoas que o rodeiam e que desejam que haja um clima de guerra para sobreviverem”.
“Um líder que não une, não serve. Quando vi em 2015 que o PSD/Madeira estava já fraturado e que já não havia possibilidade de uni-lo, disse que me ia embora”, lembra Alberto João Jardim, que conclui: “Alimentou-se a desunião e quando há estas situações que vêm de fora do partido, o partido, como está desunido e porque perdeu força, não tem capacidade para lutar contra estas investidas da justiça baseadas em denúncias anónimas.”
O antigo líder do governo regional defende que ninguém é culpado até a Justiça o determinar, mas se estivesse no lugar de Miguel Albuquerque já se tinha demitido e lembra que esse cenário foi algo defendido pelo presidente do PSD, Luís Montenegro: “Seria saudável quer para a região, quer para o PSD ele sair com dignidade e ser tratado com dignidade.”
Miguel Albuquerque tem rejeitado a demissão e defendendo que “o PSD não vai entregar o poder”. Estas afirmações têm levado a oposição a acusarem-no de estar “agarrado ao lugar”.
Questionado sobre a forma como Miguel Albuquerque tem liderado o executivo madeirense, Alberto João Jardim fala em tristeza e confessa que vê um “desmoronar” de um trabalho que fez durante quase 40 anos no arquipélago.
As críticas do histórico líder do PSD madeirense vão também para a oposição, desde logo para o Chega, por ter apresentado uma moção de censura ao executivo: “O Chega quando apoiou a formação do governo do PSD já sabia que havia investigações judiciais. Depois, aprovou um Orçamento e de repente dá-lhe na real gana e apresenta uma moção de censura, sem mais, nem menos.”
A proposta do partido liderado na Madeira por Miguel Castro tem aprovação garantida com o voto favorável do PS e é para o Partido Socialista que Alberto João Jardim também se vira: “O PS vai aprovar uma moção de censura cujo texto é contra o próprio PS. Tudo isto é uma baralhada. Depois aparecem uns partidos que diziam o piorio do PSD, mas que agora estão na retranca e dizem que não sabem se votarão a favor ou não da moção.”
Perante este cenário de instabilidade, o histórico líder do PSD/Madeira já teme novas eleições e recorda que “serão as terceiras num prazo de um ano”: “Isto nem em Itália! Só de pensar que vamos andar mais uns anos a brincar com governos a cair sucessivamente porque a direção atual do PSD Madeira é incompetente e os partidos da oposição também o são.”
Apesar do pessimismo, Alberto João Jardim diz que há solução, que passa pela mudança na liderança social democrata na ilha. “É preciso aparecer alguém acima das facções e que acabe com os grupos, que chame os melhores que cada grupo tem e fazer a reconstrução do PSD/Madeira”, adiantou.
Questionado sobre se existe esta pessoa dentro do partido, Alberto João Jardim revelou que sim, acrescentando que conhece quem queira avançar, mas não revelou nomes.
Todos aguardam decisão do JPP
No entanto, para que a moção de censura do Chega passe já só falta o apoio do Juntos Pelo Povo (JPP). Até ao final da semana, o JPP promete ouvir todos os que puder e anunciar no domingo o sentido de voto.
O JPP é o partido que aparece agora pressionado de todas as partes, principalmente por um presidente do Governo regional que não quer deixar o poder e por um líder partidário que sabe o valor do apoio em causa.
Marcelo vai recuperar poder de dissolução
A moção de censura deve ser discutida na próxima segunda-feira, poucos dias antes de Marcelo Rebelo de Sousa voltar a ter poderes para dissolver o Parlamento e convocar eleições regionais antecipadas.
Se isso acontecer, a Madeira termina o ano com um governo de gestão e sem orçamento regional.