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Mafiosos Brasileiros em Portugal: A Expansão do PCC e o Desafio das Autoridades

Portugal, conhecido por sua tranquilidade e segurança, está cada vez mais na rota do crime organizado internacional. Recentes investigações revelaram que o país se tornou um ponto estratégico para as atividades do Primeiro Comando da Capital (PCC), a maior organização criminosa do Brasil. Criado há mais de duas décadas em São Paulo, o grupo expandiu suas operações para outros continentes, incluindo a Europa, onde Portugal desempenha um papel central no tráfico de drogas e na lavagem de dinheiro

Portugal: Porta de Entrada para a Europa

A localização geográfica e as facilidades econômicas fazem de Portugal um local estratégico para as operações do PCC. Utilizando os portos de Sines, Lisboa e Leixões, o grupo trafica grandes quantidades de cocaína, proveniente principalmente da América do Sul. Além disso, o euro, como moeda forte, facilita a conversão e o reinvestimento do dinheiro ilícito, tornando o país uma base ideal para a lavagem de capitais.

Relatórios do Serviço de Informações de Segurança (SIS) apontam que aproximadamente mil pessoas ligadas ao PCC residem em Portugal. Estas conexões incluem desde operativos de baixo nível até gestores de esquemas de lavagem de dinheiro, mostrando a ampla estrutura da organização no país. A presença do grupo foi confirmada por Guilherme Derrite, secretário de Segurança Pública de São Paulo, durante uma conferência no Porto. Ele destacou que o PCC usa Portugal tanto para expandir o tráfico de drogas quanto para estabelecer redes que sustentem suas finanças.

Lavagem de Dinheiro no Futebol

Um dos aspectos mais preocupantes da atuação do PCC em Portugal é o uso de clubes de futebol para lavar dinheiro do tráfico de drogas. De acordo com uma investigação do jornal Público, empresários brasileiros com ligações ao grupo criminoso têm procurado adquirir participações em clubes portugueses, especialmente os de divisões inferiores, onde há menos escrutínio financeiro.

Ulisses de Souza Jorge, agente do jogador Éder Militão, é apontado como uma figura-chave neste esquema. Ele teria liderado negociações para investir em clubes como Varzim, Felgueiras e Vila Verde, oferecendo valores superiores a 2 milhões de euros. No entanto, em alguns casos, as propostas esbarraram na resistência dos sócios, como ocorreu no Varzim, onde a criação de uma sociedade desportiva foi rejeitada em assembleia geral.

Enquanto aguardavam a conclusão de negócios, elementos ligados a estas operações teriam se instalado em Fafe. Derlei, ex-jogador de destaque no futebol português e atual rosto da SAD do Fafe, desmentiu qualquer ligação ao PCC, afirmando que as acusações visam denegrir a imagem do empresário Ulisses de Souza e do clube. Apesar disso, o Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol abriu uma investigação para apurar o uso de clubes como ferramenta de lavagem de dinheiro.

Ações e Alertas das Autoridades

A crescente influência do PCC em Portugal já havia sido antecipada pelas autoridades brasileiras. Em julho, durante um encontro em Lisboa, o então ministro da Justiça do Brasil, Ricardo Lewandowski, alertou as ministras portuguesas Ana Rita Judice (Justiça) e Margarida Blasco (Administração Interna) sobre o avanço da organização no país. Ele destacou a importância da cooperação internacional para enfrentar o problema, afirmando que a Polícia Federal brasileira está em estreita colaboração com as autoridades portuguesas.

Lewandowski reconheceu que a língua comum e a histórica relação de acolhimento entre Brasil e Portugal podem ter facilitado a migração de membros do PCC. No entanto, enfatizou que a colaboração entre os países já rendeu frutos significativos no combate ao tráfico de drogas e ao crime organizado.

Além do tráfico de cocaína, outro ponto de atenção das autoridades é a introdução de drogas sintéticas, produzidas na Europa e nos Estados Unidos, que têm entrado no Brasil e em outros países sul-americanos. Portugal, sendo um corredor logístico entre continentes, torna-se uma peça-chave nesse cenário.

O Desafio do Crime Globalizado

Lincoln Gakiya, promotor que investiga o PCC há mais de 20 anos, afirmou que o grupo está em expansão e veio para ficar. Em declarações ao jornal Público, ele revelou que pelo menos 20 reclusos com filiações ao PCC já foram identificados em prisões portuguesas, sinalizando a amplitude da rede criminosa.

Para as autoridades portuguesas, o desafio é imenso. O crime organizado brasileiro, liderado pelo PCC, não apenas usa o país como uma base operacional, mas também infiltra-se em setores legítimos da economia, como o futebol, dificultando o rastreamento e a interrupção de suas atividades.

Além disso, a globalização do crime exige uma abordagem conjunta e multidisciplinar. A integração entre as forças policiais de diferentes países, o fortalecimento das legislações contra o branqueamento de capitais e o monitoramento mais rigoroso de setores vulneráveis, como o desportivo, são essenciais para conter a influência do PCC.

Embora as ações conjuntas entre Brasil e Portugal tenham avançado, o combate ao crime organizado continua a ser um jogo de resistência. O PCC, com sua estrutura descentralizada e capacidade de adaptação, representa uma ameaça que transcende fronteiras.

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