O Presidente da República fez um discurso com história e abrangente sobre a democracia, para alegar que a presença do Chefe de Estado brasileiro, Lula da Silva, até “foi uma feliz coincidência”.
Marcelo salientou que “o 25 de Abril começou por existir por causa da descolonização” e pediu desculpa pelas colonizações nefastas com escravatura e exploração dos povos coloniais. Um pedido de desculpa oficial e inédito num discurso de Estado que comemora a liberdade e a democracia.
Marcelo aludiu, por isso, que “faz sentido termos tido hoje entre nós quem foi pioneiro da descolonização 200 anos antes, o Brasil. Foi uma feliz coincidência”.
E Marcelo embalou a descolonização nas migrações no tempo pós-colonial, ao longo dos anos, de portugueses para as ex-colónias e de povos das antigas colónias, bem como de outros países, que escolheram Portugal para viver. E, nesta matéria, Marcelo falou direto para o partido Chega.
“Como podemos nós ser egoístas perante os dramas dos imigrantes que são dos outros?”, questionou o presidente da República, aplaudido por quase todo o Parlamento, com a exceção do Chega.
“O povo vai escolhendo com sentido de Estado, com bom senso, com moderação e educação, ao longo do tempo, o 25 de Abril que quer”, afirma o chefe de Estado.
“O tempo não volta para trás”
Marcelo Rebelo de Sousa referiu-se a segmentos da sociedade que expressam saudosismo face “ao 24 de abril de 1974”. Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que “o tempo não volta para trás” e contesta quaisquer ficções ou mitos relativamente à situação da ditadura que antecedeu a Revolução.
“Há aqueles que consideram que o 25 de Abril é hoje imperfeito. Tem que ver com o 25 de Abril que os mais velhos sonharam e que não se concretizou ou se concretizou em parte. E têm razão”, prosseguiu, para desfiar diferentes perceções do que constituiu a Revolução: Costa Gomes e António de Spínola, Mário Soares e Álvaro Cunhal foram alguns dos nomes citados para ilustrar esta ideia.
Marcelo Rebelo de Sousa falou depois das sucessivas revisões da Constituição da República. No final da década de 1990, “uns tinham vencido, outros tinham perdido”.
“Houve ganhadores e perdedores e a concretização dos sonhos de cada ato eleitoral foi diversas vezes largamente frustrada”, continuou, para dizer que “se ansiava e anseia-se por melhor democracia”. Também por “menor pobreza e falta de coesão social e territorial”.
Apesar das desilusões, democracia permite “esperança”, disse Marcelo Rebelo de Sousa no seu discurso. Porque, ao contrário da ditadura, em democracia há sempre a possibilidade de “criar caminhos diversos”.
Marcelo Rebelo de Sousa terminou o discurso do 25 de Abril salientando que “o povo tem a liberdade de escolher. O 25 de Abril está vivo”.
Antes, Augusto Santos Silva, Presidente da Assembleia da República, foi implacável e demolidor para com o comportamento do partido Chega, que contestou a presença de Lula da Silva no parlamento, no início das cerimónias do 25 de Abril. “Chega de envergonharem o nome de Portugal”, gritou no meio dos protestos que considerou serem apenas “a respiração ofegante própria das excitações populistas”.