Conhecido já por “Massacre de Shakahola”, o caso tem contornos macabros. Membros de uma seita no Quénia acreditavam que só passando fome conseguiriam chegar a Jesus. Já foram descobertos 47 cadáveres, mas as autoridades daquele país acreditam que podem chegar à centena.
Tudo aconteceu quando as autoridades quenianas encontraram três covas com seis corpos, na floresta de Shakahola, no subcondado de Malindi, na quarta-feira passada. No entanto, este seria apenas o início do pesadelo.
Depois de vários dias de exumações e de investigações, a polícia local encontrou 47 corpos de pessoas que, alegadamente, pertenciam a uma seita. Simultaneamente, também localizou vários sobreviventes de saúde muito fragilizada, que recusam comer porque acreditam que só assim vão encontrar Jesus. As autoridades estão ainda a investigar a existência de uma vala comum que, até ao momento, não foi encontrada.
Apesar de já ser chocante, o número de mortes pode não ficar por aqui. As autoridades temem que o número de mortos possa ascender a uma centena.
De acordo com os meios locais, as terras que serviram de cenário a este achado macabro pertencem ao pastor Paul Mackenzie Nthenge, polémico líder do culto religioso conhecido como Igreja Internacional das Boas Notícias.
O pastor entregou-se à polícia no dia 15 de abril e está detido desde então. As autoridades quenianas acusam-no de encorajar os seguidores da seita, que podem ser centenas espalhadas por todo o país, a jejuarem até morrer, com o objetivo de encontrar Jesus.
Família enterrada lado a lado
Após três dias de exumação, no passado sábado, foram encontrados cinco corpos envoltos num lençol, deitados lado a lado, que, de acordo com os investigadores, trata-se de uma família, enterrada há cerca de uma semana, pouco tempo antes de se iniciarem as escavações.
Na cova comum, jaziam um homem, a mulher e os três filhos. Todos terão sucumbido à fome, na esperança de encontrar Jesus.
Massacre de Shakahola
Perante a tragédia, o ministro do Interior do Quénia, Kithure Kindiki, admitiu apertar a regulação dos locais de culto religioso.
“O que aconteceu no massacre da floresta de Shakahola é o exemplo mais claro de abusos num local constitucionalmente protegido para a liberdade de culto. (…) Foram cometidos crimes em grande escala segundo a lei queniana”, disse Kithure Kindiki, num comunicado.
“Ainda que o Estado continue a respeitar as liberdades religiosas, este horrível ataque à nossa consciência deve levar não apenas à punição mais severa dos perpetradores da atrocidade cometida contra tantas almas inocentes, mas a uma regulamentação mais restrita – incluindo a autorregulação – de todas as igrejas, mesquitas, templos ou sinagogas no futuro”, acrescentou o ministro.
Kithure Kindiki disse ainda que irá hoje visitar Shakahola, enquanto a área, de mais de 300 hectares, está vedada e a ser investigada como um local do crime.
Pastor já antes tinha sido investigado
O pastor Mackenzie sempre foi polémico e teve problemas com as autoridades e líderes locais, mas nunca chegou a ser julgado ou proibido de espalhar a sua palavra.
Desde 2018 até agora, foi detido três vezes, mas sempre libertado. Existem inclusivamente rumores de que subornava as autoridades para que a Igreja Internacional das Boas Notícias continuasse com a porta aberta.
Em setembro de 2017, as autoridades fizeram uma busca às instalações da igreja e resgataram cerca de 93 crianças, informou o site Nation Africa, que está a cobrir o caso.
Paul Mackenzie Nthenge ainda foi levado a tribunal e acusado de promover a radicalização de menores, mas acabou libertado sob uma fiança de pouco mais de 3.500 euros, apesar de algumas das crianças terem revelado que foram alvo de uma “educação satânica”.