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Mesmo sem médicos foi inaugurado centro de Saúde em Loures

A ministra da Saúde, Ana Paula Martins, e o presidente da Câmara Municipal de Loures, Ricardo Leão, inauguraram esta terça-feira a Unidade de Saúde que, após um investimento de mais de 3,8 milhões de euros, serve, atualmente, cerca de 14 mil utentes, mas que de acordo com o autarca de Loures “abre com falta de médicos”. A ministra da Saúde, (que foi interpelada por uma utente relatando que o marido morreu na véspera de Natal no Hospital Beatriz Ângelo, onde esteve internado e disse ter sido maltratado) defendeu que “os cuidados de saúde primários são a porta de entrada em qualquer sistema de Saúde”.

A construção de um novo centro de Saúde no Catujal foi a forma encontrada pela Câmara de Loures para tentar minimizar os graves problemas existentes com a prestação de cuidados de saúde no concelho. Apesar da falta de médicos, a Câmara de Loures e o Ministério da Saúde avançaram para a cerimónia de abertura, que decorreu esta terça-feira. Na ocasião, a ministra da Saúde, sublinhou que “os cuidados de saúde primários são a porta de entrada em qualquer sistema de Saúde”.

Ana Paula Martins referiu ainda que “não podemos esperar não ter listas de espera, nem as urgências cheias de pessoas, se elas não têm resposta em proximidade. Essa tem de ser a nossa luta”.

“Fica aqui o compromisso do Governo de tudo fazer para trazer equipas de saúde familiar para esta população. Com estas instalações estamos mais perto de conseguir atrair as nossas equipas e incentivá-las a vir”, concluiu a ministra.

Antes da inauguração, como relata a LUSA, uma utente dirigiu-se ao presidente da Câmara de Loures, Ricardo Leão, relatando que o marido morreu na véspera de Natal no Hospital Beatriz Ângelo, onde esteve internado e disse ter sido maltratado, queixas que transmitiu depois à ministra da Saúde, Ana Paula Martins.

“Morreu e não trataram do meu marido. Percebeu? Não trataram do meu marido. Devia de verificar a unidade dos amarelos [urgentes] do Hospital Beatriz Ângelo e como é que tratam os doentes. O meu marido chegou a dizer-me que lhe batiam”, disse com revolta à ministra.

Serenamente, Ana Paula Martins disponibilizou-se para falar com a utente, mas esta respondeu que não precisa conversar: “Eu só queria desabafar consigo”. Perante esta atitude, a ministra disse que o apelo ficou registado publicamente, sublinhando que não ignorava os problemas que muitos hospitais enfrentam.

“Assumimos naturalmente essa responsabilidade. Agradeço o seu desabafo e o seu testemunho. O que quero dizer também frontalmente, olhos nos olhos, como também teve essa mesma lealdade para comigo, é que aquilo que faço todos os dias, e que me foi pedido pelo Governo, é que trabalho de manhã à noite para conseguir ultrapassar essas situações”, declarou.

A ministra recebeu também uma carta aberta da Comissão de Utentes de Serviço Públicos Camarate, Unhos e Apelação em que afirma que a população ficou satisfeita por ter um centro de saúde com “instalações condignas”, mas lamenta “a falta de médicos, havendo apenas um médico de família para cerca de 13 mil habitantes”.

Os utentes exigem ao Governo medidas que assegurem a colocação dos profissionais de saúde necessários para “uma efetiva resposta” à população, reduzindo o recurso às urgências hospitalares.

Este apelo também é feito por Ricardo Leão que disse haver cerca de 60 mil utentes em Loures sem médico de família, defendendo serem necessários 40 médicos de família, 20 em cada unidade local de saúde, para dar uma resposta eficaz.

Diminuir urgências no Beatriz Ângelo

“O município de Loures está a fazer a sua parte, que é construir os centros de saúde, e agora espera e exige que o Governo faça a sua, não só na questão dos médicos”, mas também nas infraestruturas, disse o autarca, contando que na segunda-feira, “choveu à séria” no centro de saúde de Sacavém.

Para Ricardo Leão, “a única forma” de diminuir “as urgências no Hospital de Beatriz Ângelo, que são escandalosas, são vergonhosas”, é ter uma boa rede de cuidados de saúde primários.

A ministra reconheceu que existem vários centros de saúde “em condições absolutamente indignas”, que foram transferidos, no âmbito da transferência de competências para os municípios, e que agora tem que se “acudir essa situação”.

Relativamente aos recursos humanos, disse que os médicos “são fundamentais”, mas destacou o papel dos enfermeiros e dos enfermeiros de família que prestam cuidados muito importantes, afirmando que terá de se “avançar cada vez mais por aí”. A funcionar desde 12 de dezembro de 2024, a Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados veio substituir as unidades da Apelação e de Unhos.

Aumentar teleconsultas

Rosa Valente de Matos, presidente da Unidade Local de Saúde São José, que engloba esta unidade, disse acreditar que estas novas instalações contribuam para atrair mais profissionais, reconhecendo que ainda não são suficientes para responder a mais de 10 mil utentes destas freguesias.

A unidade tem quatro médicos em regime de prestação de serviços a fazer teleconsulta com a população sem médico de família.

“Vamos continuar a aumentar a oferta de teleconsulta sem nunca nos desviarmos do nosso grande objetivo, que é constituir neste local uma unidade de saúde familiar, salientou.

No entanto, apesar deste aparente convergir de opiniões, o presidente da Câmara de Loures, apesar de enaltecer o trabalho da autarquia para dar melhores condições aos seus utentes, deixou um aviso ao Governo.

Segundo Ricardo Leão, “este novo centro de saúde insere-se no objetivo da Câmara de construir uma boa rede de saúde primária”, num investimento de 5 milhões “para que os utentes e munícipes recebam tratamentos médicos dignos”, e que incluem ainda centros noutras localidade, como na Bobadela.

Porém, salientou, não bastam as infraestruturas. O novo centro abre com escassez de meios humanos, tendo o autarca denunciado “em concreto a falta de médicos”.

“O Município de Loures, ainda com o anterior Governo, fez um processo de candidatura ao PRR para a requalificação desses centros de saúde, no valor de 3 milhões de euros. Até à data não obtivemos resposta”, recordou Ricardo Leão, acrescentando que já se predispôs “a comparticipar metade dessas verbas para que os atuais centros de saúde possam ser requalificados”, até porque, lembrou, “esta é a única forma de diminuir a afluência de pessoas às urgências do Hospital Beatriz Ângelo”.

Ricardo Leão falou mesmo que esta é uma falha deste Governo, bem como do Governo anterior, que tem de ser alterada, sob pena de ter que se tomar decisões mais dramáticas.

O problema Beatriz Ângelo

O autarca de Loures reforçou ainda que é papel do Governo ajudar na requalificação dos centros de saúde, mas acima de tudo em “meter médicos e profissionais de saúde” até porque, lembrou, esta é a única forma de “diminuir o numero de pessoas nas urgências do Hospital Beatriz Ângelo”.

Além desta unidade de saúde, o presidente destacou o Centro de Saúde do Tojal, “que estará pronto em abril”, bem como lançamento da 1.º pedra, no final deste mês, dos centros de saúde da Bobadela e de Camarate.

A ministra da Saúde, em resposta às interpelações do autarca, disse que o presidente da Câmara “tem o compromisso do Governo”, para essa requalificação, até porque “não nos podemos dar ao luxo de desperdiçar um cêntimo que seja do dinheiro que podemos utilizar para reforçar aquilo que é a rede do SNS”.

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