Mais de uma centena de militantes do Bloco de Esquerda (BE) de Santarém anunciaram esta quinta-feira a sua desvinculação do partido, criticando a estratégia política pós-geringonça e acusando a direcção de afastar críticos e adoptar práticas que “envergonhariam muitos patrões”
Numa carta enviada à comunicação social, 110 aderentes do BE da concelhia de Santarém defendem que o partido “há muito se afastou da opção de construir um forte pólo à esquerda, alternativo ao rotativismo do bloco central” e argumentam que a geringonça, “uma opção adequada numa conjuntura específica, impregnou irremediavelmente a linha.
As críticas, subscritas por mais de uma centena de militantes do Bloco de Esquerda, todos identificados pelo nome e pelo número de aderente, da distrital de Santarém, multiplicam-se num documento intitulado “Porque saímos do Bloco de Esquerda”.
Na lista de apreciações que os militantes fazem às opções da direção bloquista, surge a a referência a “funcionários do partido” que “são vítimas de práticas que envergonhariam muitos patrões (o caso das aleitantes não é único)”.
Ainda assim, o primeiro argumento evocado vem a reboque da acusação de que o BE “há muito se afastou da opção de construir um forte polo à esquerda, alternativo ao rotativismo do bloco central”.
Para estes militantes, “a geringonça, uma opção adequada numa conjuntura específica, impregnou irremediavelmente a linha estratégica do BE”, o que levou, insistem, a que “as propostas políticas” sejam “sistemática e convenientemente buriladas, quando não metidas na gaveta, na esperança de virem a ser aceites pelo PS”.
Com a garantia de que “estas críticas […] foram apresentadas internamente”, os dissidentes dizem que “a afirmação da luta dos trabalhadores […] foi substituída por agendas identitárias e parciais, importantes sem dúvida, mas de limitado alcance”.
Os subscritores desta missiva, asseguram que “ao longo de anos”, estas críticas “foram levadas aos mais diversos níveis do partido, inclusivamente à mais elevada instância partidária, a Convenção Nacional. A maioria da direção do Bloco de Esquerda rejeita-as sistematicamente. Está no seu direito. Mas, depois, nunca assume a responsabilidade pelas sucessivas derrotas eleitorais, foge aos balanços, justifica-se sempre com as dificuldades da conjuntura”, atiram.
Na sequência das mais recentes eleições legislativas, os bloquistas demissionários acusam a direção de faltar a princípios democráticos, afirmando que “a escolha dos candidatos a deputados pelo distrito, estatutariamente da competência das Assembleia Distrital, só é acatada quando o escolhido é de um dos grupos que dominam o partido; a constituição de núcleos é ferreamente controlada pelo aparelho”, para além da “distribuição de recursos e funcionários pelas organizações distritais” depender “da fidelidade ao centro único”, criticam.
Com a insistência de que o partido tem deslizado “placidamente para o velho centralismo democrático, castrador e sem democracia”, os militantes que estão de saída dizem ter chegado “a um ponto em que” consideram “definitivamente bloqueado qualquer esforço regenerador”.
“Por isso saímos”, concluem.