A ministra da Administração Interna foi chamada ao Parlamento para explicar a exoneração do anterior diretor- geral da PSP, mas acabou a anunciar uma reestruturação operacional da PSP e GNR com o objectivo de colocar mais policias na rua. Ou seja, conseguiu desviar as atenções do “motivo central” que a levou à Comissão Parlamentar: a demissão do superintendente-chefe José Barros Correia.
A ministra da Administração Interna, Margarida Blasco foi chamada ao parlamento pelo Chega e pelo Partido Socialista para explicar os motivos da demissão do diretor nacional da Polícia de Segurança Pública, superintendente-chefe José Barros Correia, mas conseguiu “dar a volta ao prego” ao anunciar que o Governo está a preparar uma reestruturação operacional da PSP e GNR, que passa pela reorganização do dispositivo policial em todo o país para garantir mais polícias nas ruas, sobretudo nas cidades.
A ministra conseguiu, de uma forma “airosa” contornar as acusações de “saneamento político” ao desviar as atenções da Comissão parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias da Assembleia da República, ao revelar aos deputados que está ser feito um levantamento das necessidades em todo o país para se avançar com “um plano conjunto para a PSP e GNR”.
“Há problemas de roubos e assaltos e para a população é importante ter uma polícia que está aos olhos de todos e pode intervir rapidamente. Estamos a trabalhar nisso há algumas semanas e vamos fazer um programa de prioridades relativamente aos cidadãos e relativamente à atuação operacional da PSP e GNR”, precisou.
Margarida Blasco sublinhou que, neste momento, tem de haver uma atuação “mais eficaz no sentido de criar mecanismos de atuação rápida e de policiamento muito presentes sobretudo nas grandes cidades, onde há mais problemas”.
“Há que fazer rapidamente uma intervenção operacional sobretudo nos grandes centros urbanos”, disse, indicando que hoje esteve reunida com o presidente da Câmara Municipal de Lisboa e, na próxima semana, terá um encontro com o autarca do Porto “para ver quais os pontos negros destas cidades”.
A governante indicou que a reestruturação vai começar por Lisboa e Porto, mas depois vai abranger todo o território, sustentando que o Governo está preocupado com os centros urbanos, onde está aumentar a criminalidade e a mudar o tipo de criminalidade, mas também é necessário “olhar para o interior”.
“Temos que reestruturar o dispositivo a nível nacional, temos que evitar duplicação de serviços das forças de segurança em locais onde não é necessário e reforçar o policiamento em outros sítios que estão carecidos de elementos das forças de segurança. A primeira questão que se põe é que temos que olhar para o país que temos e verificar se a PSP e GNR estão nos sítios onde devem estar ou podemos pô-las a exercer o seu trabalho em outros sítios em que há carência”, explicou.
Reforçar segurança no interior
Como exemplo, referiu o caso do distrito da Guarda, onde a população é envelhecida e isolada, sendo que aqui é necessário “reforçar a segurança no sentido de cada agente poder ser uma espécie de acompanhamento de um casal de idosos”.
Aos deputados a ministra destacou algumas das medidas que vão estar incluídas nesta reestruturação, nomeadamente a “reorganização do dispositivo policial da PSP e GNR a nível nacional para garantir um efetivo policiamento de proximidade” e a criação de “soluções específicas para cada centro urbano que contribuam para um reforço de policiamento de proximidade e de visibilidade e resposta operacional célere e eficaz”.
Margarida Blasco indicou ainda que vai ser novamente implementada a queixa eletrónica e criado um sistema que permita a quem faz uma queixa na polícia seja informado sobre o que aconteceu.
Afastado do cargo por iniciativa da ministra
A muito custo, a ministra da Administração Interna voltou ao tema central que a tinha levado ao parlamento e explicou que o ex-diretor nacional da PSP “não foi exonerado”, mas sim “substituído”, avançando que o convidou para um cargo internacional, mas que ele optou por passar à pré-aposentação.
A ministra referiu que falou com José Barros Correia e convidou-o para um cargo num país africano de língua portuguesa, mas que não aceitou, tendo optado pela pré-aposentação.
“Falei com o superintendente-chefe fiz-lhe o convite, pediu tempo para pensar e a questão que ele pôs foi que preferiu ir para a pré-aposentação”, disse, explicando que “em sua substituição” nomeou o superintendente Luís Carrilho.
Apesar de o ter “exonerado/substituído”, a governante disse que o anterior diretor nacional da PSP e o atual “são ótimos dirigentes”, mas com “perfis diferentes”, e justificou a nomeação de Luís Carrilho com o projeto de reestruturação da PSP: “Tem um perfil que se adequa a esta reestruturação que queremos fazer na PSP”, disse a ministra.
Recorde-se que numa mensagem enviada a todo o efetivo da PSP após ser substituído, José Barros Correia atribuiu o seu afastamento do cargo à “exclusiva iniciativa” da ministra da Administração Interna. Questionada sobre esta mensagem, a ministra afirmou: “Não vou fazer qualquer comentário a essa nota.
Aos deputados a ministra disse ainda que os diretores adjuntos que faziam parte da direção nacional liderada por Barros Correia, todos eles superintendentes-chefes, saíram da PSP para a pré-aposentação, à exceção de um elemento que continua na polícia com o cargo de inspetor.