A Tupperware Brands – a marca que se tornou tão popular em Portugal que deu nome a todos os recipientes de plástico de armazenamento de comida: taparuere – foi declarada insolvente, pelo Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa, esta segunda-feira. As receitas da Tupperware derraparam nos últimos anos, à medida que a empresa dos taparueres coloridos tinha cada vez mais dificuldades em colocar os seus produtos em lojas de retalho e nas plataformas de venda “online”
É um desfecho que já era antecipado, dada a difícil situação financeira da multinacional. Esta segunda-feira, a Tupperware – Indústria Lusitana de Artigos Domésticos, Lda, a empresa que detém a fábrica em Montalvo, Constância, no distrito de Santarém, foi declarada insolvente pelo Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa.
O pedido de insolvência já tinha sido apresentado na passada sexta-feira, dia 7 de fevereiro. Nesse mesmo dia, também a Tupperware (Portugal) – Artigos Domésticos, Unipessoal Limitada entrou com um processo de insolvência. O desfecho sobre este último caso ainda não foi tornado público.
Para administrador de insolvência foi nomeado Jorge Manuel e Seiça Dinis Calvete, fundador da Causa & Feito, uma empresa de consultoria de gestão, serviços financeiros e contabilidade. Segundo pode ler-se na sentença do Tribunal, “o prazo para a reclamação de credores foi fixado em 30 dias”.
De acordo com o portal Citius, no pedido de insolvência foram identificados como credores várias empresas do grupo Tupperware e, ainda, a Gráfica Ideal de Águeda – Indústrias Gráficas S.a., a Dart Industries Inc., o BCP, Carla Sofia Soeiro Cruz Gonçalves e Ignacio Zubizarreta.
A fábrica da Tupperware em Montalvo era controlada pela sociedade Tupperware Indústria Lusitana de Artigos Domésticos que, por sua vez, era detida em 74% pela Tupperware Portugal – Artigos Domésticos Unipessoal Lda e em 26% pela Tupperware Iberia. Ambas as empresas dependem a 100% da casa-mãe sediada nos Estados Unidos – a Tupperware Brands Corporation.
Em setembro do ano passado, a Tupperware Brands declarou falência, depois de várias tentativas de arranjar um credor disposto a assumir a dívida que acumulava de 818 milhões de dólares (793,1 milhões de euros ao câmbio atual).
Mais tarde, em outubro, conseguiu chegar a acordo, com um tribunal de falências nos Estados Unidos, para um novo plano de venda de ativos a um grupo de credores composto pela Stonehill Capital Management Partners e pela Alden Global Capital.
Num comunicado escrito nesse mesmo mês, a Tupperware já referia que o foco inicial da nova empresa estaria nos “principais mercados globais, incluindo os Estados Unidos, Canadá, México, Brasil, China, Coreia, Índia e Malásia” e que seriam ainda adicionados outros mercados na Europa e na Ásia.
Apesar dos problemas financeiros verificados a nível global, em 2023 (o último ano para o qual existem dados), a empresa detentora da fábrica em Portugal apresentou um resultado líquido de 1,1 milhões de euros, um aumento de quase 90,5% em relação a 2022.
Os trabalhadores da unidade fabril estão dispensados de trabalhar até esta sexta-feira. Até ao momento, tanto a licença de venda como a licença de produção estão caducadas em Portugal e na Europa.

Sérgio Oliveira, presidente da Câmara Municipal de Constância, já tinha avançado à Lusa, no início de janeiro, que havia um grupo de investidores interessados nas instalações de Montalvo.
Fundada em 1946 nos EUA
A Tupperware foi fundada em Massachusetts em 1946 pelo químico Earl Tupper, que concebeu os icónicos recipientes de plástico herméticos para ajudar as famílias a conservar os alimentos durante o período pós-guerra.
A marca icónica também ficou conhecida pelas suas vendas porta-a-porta, identificadas como “festas Tupperware”.
A empresa já tinha adiado as suas contas anuais de 2023 em março deste ano e, em junho, anunciou planos para encerrar a sua única fábrica nos EUA e despedir quase 150 empregados.
Desde 2020, a empresa de utensílios de cozinha, que liderou o negócio de armazenamento de alimentos durante décadas, tem vindo a enfrentar problemas que põem em dúvida as suas hipóteses de sobrevivência.
Em Portugal desde 1980
A ameaça de encerramento da fábrica da Tupperware em Portugal sempre foi um tema falado entre os trabalhadores da unidade fabril, sediada em Montalvo, no concelho de Constância. “Eu andei aqui 33 anos e desde que vim para cá, quase todos os anos, diziam que isto ia fechar”, desabafou ao jornal Expresso António Batista, antigo trabalhador da fábrica, que se reformou em julho do ano passado.
Inaugurada na década de 1980, pelo então presidente do Instituto do Investimento Estrangeiro, Alexandre Vaz Pinto, a fábrica contava com cerca de 200 trabalhadores efetivos, dependendo a 100% da casa-mãe, sediada nos Estados Unidos.
O peso e a popularidade da Tupperware sempre fizeram com que os trabalhadores acreditassem que o encerramento não passaria de um mito. “Nós tínhamos alguma esperança de que alguém não deixasse morrer a Tupperware”, comentou uma funcionária que trabalha na fábrica há mais de 20 anos.
O mito, contudo, passou a tornar-se mais próximo da verdade quando, em setembro,a Tupperware Brands declarou falência, depois de várias tentativas de arranjar um credor disposto a assumir a dívida de 818 milhões de dólares, 790 milhões de euros ao câmbio atual.
Para os trabalhadores portugueses da multinacional, houve uma falta de transparência da Tupperware para com os trabalhadores. “Havia muito falatório, mas que a casa-mãe já tinha entrado com o pedido de falência, nós só soubemos pela comunicação social”, revelam.
“Nós tivemos uma reunião, porque já havia alguns falatórios há alguns meses. Os dirigentes da fábrica em Montalvo disseram-nos que entraram em contacto com a casa-mãe e que eles disseram para não nos preocuparmos porque eram rumores. No dia seguinte, entraram com o pedido de falência. Nós ficámos em choque”, recordam.