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Morreu a cantora Mísia, uma das mais inovadoras vozes do fado

Sérgio Godinho despediu-se, nas redes sociais, de Mísia, a fadista que morreu este sábado, em Lisboa, aos 69 anos, e para quem escreveu o tema ‘Liberdades Poéticas’. A ministra da Cultura realça que “foi uma voz fundamental na renovação do fado”.

A cantora e fadista Mísia morreu este sábado, aos 69 anos. A notícia foi dada por Richard Zimler, escritor americano há muito radicado em Portugal, nas redes sociais. “Estou desolado, pois a minha velha amiga, a cantora Mísia, acabou de nos deixar. Partiu em paz, docemente, sem dores.”

Mísia, que foi considerada uma inovadora do género musical, encontrava-se internada há pouco mais de uma semana no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, na sequência de mais uma crise relacionada com a longa batalha que desde 2016 travava contra o cancro. Uma batalha com intermitências, com momentos de esperança à mistura com outros dolorosíssimos, que até ao final nunca lhe tiraram a vontade de viver.

“A Mísia morreu num hospitalar em Lisboa, disse Zimmler, remetendo para “mais tarde” outros pormenores pela agência da criadora de “Mistérios do Fado” (João Monge/Manuel Paulo). “Partiu em paz, docemente, sem dores, rodeada dos amigos”, acrescentou Zimmler.

Susana Maria Alfonso de Aguiar nasceu no Porto e protagonizou uma carreira de cerca de 34 anos, durante a qual atuou nos mais variados palcos do mundo e recebeu diferentes prémios, entre eleso galardão francês Charles Cross pelo seu álbum “Garra dos Sentidos”, no qual gravou poemas de Natália Correia, Mário Cláudio, Lídia Jorge, José Saramago, Lobo Antunes, Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, e António Botto.

Mísia editou o seu primeiro álbum, homónimo, em 1991. Em 2022, Mísia editou o álbum “Animal Sentimental”, parte de um projeto tríptico sobre trinta anos de carreira, que inclui um livro, com o mesmo título e saído no verão desse ano e estreou um novo espetáculo.

Tiago Torres da Silva, Fernando Pessoa, Mário Cláudio, Natália Correia, Vasco Graça Moura e Lídia Jorge foram os autores escolhidos por Mísia para “Animal Sentimental”.

No livro, autobiográfico, a fadista conta episódios inéditos da sua carreira, recuando às memórias de infância e da adolescência, os tempos do colégio interno, gerido por freiras, no Porto, a avó catalã e a mãe, bailarina de flamenco, uma biografia, que como disse à Lusa, a partir de 1991, começou a ser fixado nos discos”.

No livro, a cantora narrou a sua luta contra o cancro, que lhe foi diagnosticado três vezes.

Além da estreia com “Mísia” (1991), gravou registos como “Garras dos sentidos” (1998), “Canto” (2003) e “Ruas” (2009).

Em 2004 foi condecorada com a Ordem das Artes e das Letras de França e no ano seguinte foi distinguida com a Ordem de Mérito da República Portuguesa.

Fundamental na renovação do fado

A ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, considerou hoje que Mísia “foi uma voz fundamental na renovação do fado”, numa nota de pesar pela morte da fadista.

“Com uma vasta carreira, Mísia foi uma voz fundamental na renovação do fado, sem receio de experimentar novas sonoridades e abordagens menos convencionais” afirmou, referindo que “granjeou o reconhecimento dos seus pares”.

“Deixa-nos uma vasta lista de colaborações com músicos de todo o mundo, que demonstra a sua versatilidade e o seu talento”, refere ainda a titular da Cultura que apresenta “aos seus familiares, amigos e admiradores”, “as mais sentidas condolências”.

Numa mensagem nas redes sociais, Sérgio Godinho elogiou a “ousadia permanente” de Mísia, para quem escreveu, entre outros poemas, ‘Liberdades Poéticas’. Em 2010, Mísia dizia desse tema de 1993: “Esse fado foi, dito por especialistas, o momento da viragem”

“Brava Mísia! A morte espreita-nos sempre da esquina da rua. E no caso dela entrava como se fosse da casa. Muito ela lutou contra o grande mal, de várias formas. Mas fale-se da vida dela, e sobretudo da sua ousadia permanente, um traço de caráter criativo e nisso inigualável”, escreve Sérgio Godinho.

Recordando a sua colaboração de 1993 com a artista, o autor conta: “Veio ter comigo ainda nos seus primórdios, e escrevi para ela o ‘Liberdades Poéticas’, que de certo modo se tornou uma imagem de marca, a ponto de ela ter chamado à sua empresa precisamente Liberdades Poéticas. Fiz outras canções para ela, um Fado Triplicado que muito lhe agradou, e uma letra para um tema do Carlos Paredes, de ‘Os Verdes Anos’. Interpelava-me muitas vezes, queria mais. Era intrépida pela forma como se atirava a novos projetos, muitas vezes de figurinos diferentes, sem medo de errar, de ‘fazer diferente’.”

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