A escritora e poeta Maria Teresa Horta morreu esta manhã em Lisboa, anunciou a editora Dom Quixote nas redes sociais, a pedido da família da autora. “Uma perda de dimensões incalculáveis para a literatura portuguesa, para a poesia, o jornalismo e o feminismo, a quem Maria Teresa Horta dedicou, orgulhosamente, grande parte da sua vida”, diz o comunicado enviado aos órgãos de comunicação social.
As cerimónias fúnebres da escritora Maria Teresa Horta, que morreu esta terça-feira aos 87 anos, realizam-se na quarta-feira, a partir das 18:00, na Basílica da Estrela, em Lisboa, disse à agência Lusa fonte das Publicações D. Quixote. Deixou-nos aos 87 anos e é insubstituível. Escreveu perto de 40 obras, entre poesia, conto e ficção, sem contar com uma atividade jornalística feita a pulso e que nunca abandonou completamente. Grande ativista pelos direitos das mulheres em Portugal, isso atrasou o seu reconhecimento literário. Mas ela marcou, para sempre, a literatura portuguesa.
O velório da autora de “Minha Senhora de Mim” (1971) decorre esta quarta-feira, entre as 18:00 e as 22:00, na Basílica, onde na quinta-feira se realiza uma cerimónia reservada à família e amigos. O funeral sai às 14:30 para o Cemitério dos Prazeres, também na capital.
Maria Teresa Horta é última das “Três Marias”, a par de Maria Isabel Barreno (1939-2016) e Maria Velho da Costa (1938-2020), autoras das “Novas Cartas Portuguesas” (1972).
A escritora tem livros editados no Brasil, em França e Itália. Foi a primeira mulher a exercer funções dirigentes no cineclubismo em Portugal e é considerada um dos expoentes do feminismo da lusofonia.
Também jornalista, Maria Teresa Horta foi amplamente premiada ao longo da sua carreira literária. Entre outros galardões, recebeu o Prémio de Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores, em 2014, o Prémio Autores 2017, na categoria Melhor Livro de Poesia, para “Anunciações”, a Medalha de Mérito Cultural, do Ministério da Cultura, em 2020, e o Prémio Literário Casino da Póvoa, em 2021 pela obra “Estranhezas”, entre outros. O Estado português condecorou-a em 2022, com o grau de Grande-Oficial da Ordem da Liberdade.
As três “Marias”
Entre as instituições que recordaram a escritora e jornalista estão o Museu do Aljube, que em 2021 teve patente a exposição “Mulheres e Resistência – ‘Novas Cartas Portuguesas’”, por altura dos 50 anos de publicação da obra, na qual homenageou as “Três Marias”: Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, além de Maria Teresa Horta.
Escritora, jornalista e poetisa, Maria Teresa Horta ficou conhecida na história da literatura portuguesa como uma das “três Marias”. Por ser uma das três autoras do livro “Novas Cartas Portuguesas”, foi processada e julgada em 1972, ao lado de Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa.
Esta obra, escrita a partir das cartas de amor dirigidas a um oficial francês por Mariana Alcoforado, constituiu-se como um libelo contra a ideologia vigente no período pré-25 de Abril, que denunciava a Guerra Colonial, as opressões a que as mulheres eram sujeitas, um sistema judicial persecutório, a emigração e a violência fascista
Começou a ser escrita em maio de 1971 e foi publicada em abril de 1972, tendo sido banida pela ditadura e as suas autoras levadas a julgamento.Além do Movimento Feminista de Portugal fez parte do grupo Poesia 61. Publicou diversos textos em jornais como Diário de Lisboa, A Capital, República, O Século, Diário de Notícias e Jornal de Letras e Artes, entre outros.
O museu lisboeta lembra a “figura brilhante da cultura portuguesa”, que deixa “um legado imenso de coragem e luta pela igualdade”.
O Cinema São Jorge, em Lisboa, recorda uma outra faceta de Maria Teresa Horta, a de “cinéfila militante”. “Nos anos 50 tornou-se a primeira mulher diretora de um cineclube, o ABC, cujo primeiro ciclo foi totalmente censurado pelo Secretariado Nacional de Informação”, partilhou.
A UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta considera que “os feminismos estão de luto” com a morte de Maria Teresa Horta, a quem agradece muito “por tudo”.
Em dezembro de 2024, Maria Teresa Horta foi incluída numa lista elaborada pela estação pública britânica BBC de 100 mulheres mais influentes e inspiradoras de todo o mundo, que incluía artistas, ativistas, advogadas ou cientistas.