Faleceu esta madrugada, vítima de pneumonia, Carlos Matos Gomes, militar português e escritor. A informação é transmitida através do seu perfil pessoal do Facebook, onde se lê: “É com profunda tristeza que informo que faleceu hoje, 13 de Abril, no Hospital Cuf Tejo, Carlos Matos Gomes. Partiu sereno e com músicas de Abril. Direi por aqui todos os pormenores sobre as cerimonias que se seguem”.
Foto: D.R. – Carlos Matos Gomes com Mário Cláudio na Feira do Livro de 2019O OREGIOES já confirmou a notícia. Matos Gomes destacou-se como protagonista na Revolução de 25 de Abril de 1974. Nascido em 24 de Julho de 1946, em Vila Nova da Barquinha, estudou no Colégio Nuno Álvares de Tomar, combateu nas guerras coloniais e transitou para as letras, marcando a sociedade portuguesa com obras históricas e intervenção cívica
Carlos Matos Gomes, coronel na reserva, iniciou a carreira militar em 1966, integrando as Forças Armadas durante o período conturbado das guerras coloniais. Combateu na Guiné-Bissau, Moçambique e Angola, experiências que moldaram a sua visão crítica do regime salazarista. Em 1974, alinhou-se com o Movimento das Forças Armadas (MFA), participando activamente no planeamento do 25 de Abril.
“Foi um momento de ruptura com um sistema opressor. A adesão ao MFA surgiu da consciência de que a guerra colonial não tinha solução militar”, afirmou Gomes, em entrevista ao Público (2014). A sua acção centrou-se na logística operacional, garantindo o sucesso do levantamento que restituiu a democracia a Portugal.
“Foi um Grande Capitão de Abril. Começámos a fase final da conspiração da Guiné Bissau. Fomos da Primeira Comissão. Estamos solidários na dor dos familiares”, afirmou Duran Clemente.
Do Quartel às Letras: A Carreira Literária
Após deixar o Exército em 1993, dedicou-se à escrita, tornando-se voz relevante na análise histórica e política. Publicou obras como O Ano da Morte de Oliveira Salazar (1995) e A Últviagem do Gurgel (2009), explorando temas coloniais e a memória colectiva portuguesa.
Historiadores como Irene Pimentel destacam o “rigor documental e a narrativa envolvente” dos seus livros, que “desvendam episódios obscuros do século XX português” (Revista de História, 2018). Paralelamente, colaborou com órgãos de comunicação, como a RTP, em documentários sobre a descolonização.
O fime “Os Imortais”, de António-Pedro Vasconcelos é baseado na sua obra “Os Lobos Não Usam Coleira”. O nome de escritor que Matos Gomes era “Carlos Vale Ferraz”.
Influência Pública e Participação Cívica
Matos Gomes mantém-se interveniente no debate nacional, criticando a “amnésia histórica” sobre o colonialismo. Em 2020, integrou a comissão organizadora das comemorações do 25 de Abril, defendendo a “preservação da memória democrática”.
A sua postura, por vezes polémica, gerou controvérsia. Em 2017, num artigo no Diário de Notícias, contestou a “romantização da descolonização”, argumentando que “os erros cometidos devem ser analisados, não escondidos”.
Nascido a 24 de Julho de 1946, em Vila Nova da Barquinha, cresceu numa família rural. Casou com Maria José Gomes, professora, com quem teve dois filhos. Formou-se em Engenharia Química na Universidade de Lisboa, antes de ingressar na carreira militar. Apesar da vida pública reservada, amigos próximos descrevem-no como “um homem de convicções fortes, mas discreto no quotidiano” (depoimento ao Expresso, 2019). Reside em Lisboa, onde dividiu o tempo entre a escrita e a participação em colóquios académicos.
Aos 78 anos, Carlos Matos Gomes permanecia uma figura multifacetada: militar reformado, historiador e crítico social. A sua trajectória reflecte as contradições e transformações de Portugal pós-25 de Abril. Em 2023, anunciou a conclusão de um novo livro sobre a influência da Guerra Fria em África, previsto para 2024. O trabalho prometia reacender o debate sobre o papel de Portugal num contexto global — mais um capítulo na vida de um homem que insiste em desafiar o presente através do passado.
Segundo a família, o velório estará aberto ao público em geral, terça-feira, a partir das 19h até às 23h, na Capela da Academia Militar. A cerimónias fúnebres serão na quarta-feira pelas 11h, com missa de corpo presente, de onde irá partir para o Cemitério do Alto do São João para ser cremado.
Oiça aqui uma das suas entrevistas ao Podcast de Diogo Vaz Pinto