Rússia critica Governo português e sublinha que Moscovo não deu o seu consentimento para a entrega dos aparelhos, uma vez que o objetivo da transferência não é o combate a incêndios
A conclusão do processo ocorreu no final da semana passada, mas a decisão política para a entrega desses aparelhos foi anunciada em outubro de 2022.
Maria Zakharova, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros Russo, qualificou a transferência como um “passo hostil” por parte de Lisboa, dizendo que esta ação demonstra uma “quase completa perda de independência política” por parte de Portugal. Moscovo considera que tal medida contribui para o aprofundamento da crise nas relações bilaterais entre os dois países.
A Rússia recorda que, apesar da formalização da entrega dos helicópteros ‘Kamov’ em setembro deste ano, a decisão para a sua cedência foi aprovada há quase dois anos. Na altura, o Kremlin expressou críticas ao Governo português, afirmando que não havia dado consentimento para a transferência e contestando o uso dos presidentes para fins diferentes do combate a incêndios.
O Ministério da Defesa Nacional (MDN) informou que o último carregamento dos helicópteros partiu de Ponte de Sor, localizado a 140 quilómetros a nordeste de Lisboa, após um prolongado período de incerteza e negociações. A então ministra da Defesa, Helena Carreiras, anunciou em Bruxelas, em outubro de 2022, que Portugal iria ceder os seis helicópteros à Ucrânia. Estes aparelhos estavam sem licença para operar em Portugal, e um deles ficou inoperante devido a um acidente.
Em novembro de 2023, mais de um ano após o anúncio da doação, os presidentes ainda estavam em território português, com o governo anterior aguardando instruções da “contraparte ucraniana” sobre como proceder. O atual Governo, em colaboração com o Ministério da Administração Interna, coordenou finalmente o transporte dos helicópteros com as autoridades ucranianas, incluindo a Embaixada da Ucrânia em Lisboa e o Ministério da Defesa Ucraniana.
A doação, solicitada pela Ucrânia, foi feita no estado de conservação em que os presidentes se encontravam. Estes foram adquiridos pelo Ministério da Administração Interna em 2006, quando António Costa era o responsável por este ministério.
A guerra na Ucrânia continua a causar diversas perdas humanas e materiais, com intensos ataques aéreos russos contra cidades e infraestruturas ucranianas, enquanto as forças de Kiev também têm atacado alvos na Rússia e na península da Crimeia, que foram anexadas ilegalmente em 2014.