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Myanmar: Ataque aéreo contra civis mata pelo menos 100 pessoas

Pelo menos uma centena de pessoas, incluindo mulheres e crianças, morreram na sequência de um bombardeamento perpetrado pela junta militar de Myanmar. O ataque correu na terça-feira no município de Kanbalu, na região central de Sagaing. Cerca de 300 habitantes estavam a participar na abertura de um escritório da administração local e a celebrar o Ano Novo Thingyan.

Myanmar: Ataque aéreo contra civis mata pelo menos 100 pessoas
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Pouco antes das 8h00, um avião da junta militar bombardeou a vila onde a cerimónia estava a decorrer, relataram os sobreviventes. De seguida, um helicóptero Mi35 circulou a área e disparou contra quem fugia.

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“O jato lançou duas bombas na multidão. Minutos depois um helicóptero Mi-35 veio e abriu fogo contra as pessoas, mutilando e matando um grande número de civis”, descreveu um oficial da Força pró-democracia de Defesa do Povo do Distrito de Kanbalu (FDP), que estava presente nas festividades de inauguração do escritório.

As instalações atingidas pertencem à autoridade do Governo de Unidade Nacional (GUN) de Myanmar (antiga Birmânia). O GUN tem mandato público, mas a junta militar do país designou-o como uma organização terrorista. O edifício ficou destruído no ataque.

“Uma bomba caiu bem em cima do prédio, destruindo o telhado e as paredes. A poucos metros de distância, há partes de crianças mortas espalhadas por todo o mato”, garantiu o militar de Kanbalu.

Os relatos dos sobreviventes

“Quando cheguei ao local, tentámos procurar pessoas ainda vivas. Foi tudo terrível. As pessoas estavam a morrer, enquanto eram transportadas em motocicletas. Crianças e mulheres. Alguns perderam a cabeça, membros, mãos. Eu vi carne na estrada” retratou outra testemunha ocular à CNN.

Acrescentou que vira dezenas de corpos após o ataque, incluindo crianças que não teriam mais que cinco anos. “Vi muitas pessoas a correr para procurar os filhos, a chorar e a gritar”, contou.

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Por volta das 17h30, a força aérea da junta militar voltou e disparou no mesmo local que havia bombardeado durante a manhã.

Mulheres, crianças e idosos representam uma grande percentagem dos mortos e feridos, assegurou o oficial das FDP. “Muitos estavam lá para receber alimentos oferecidos como parte da cerimónia, que também coincidiu com o início do Thingyan, o tradicional Ano Novo de Myanmar”, explicou.

As imagens que começaram a circular nos media retratam amontoados de corpos carbonizados. Muitos desfeitos, sem braços, ou esventrados.

O número de mortos em Sagaing pode chegar a 100 pessoas de acordo com o balanço feito por testemunhos locais, sendo considerado o ataque mais mortal perpetrado pela junta desde o golpe em 2021.

Em comunicado divulgado na tarde de terça-feira, o Ministério da Defesa do GUN “condenou veementemente” o último ataque “terrorista” da junta. Alega que da agressão resultou a “perda de dezenas de civis inocentes” e ferido muitos mais, “incluindo crianças e mulheres grávidas”.

“Este ato hediondo dos militares terroristas é mais um exemplo de seu uso indiscriminado de força extrema contra civis inocentes, constituindo um crime de guerra”, acrescentou o comunicado, citado no Myanmar-now.org.

Junta Militar

Os militares assumiram a responsabilidade pelo ataque aéreo, mas negaram ter morto civis. Alegam que o ataque tinha como alvo os “terroristas” da Força de Defesa do Povo.

“Sim, nós lançamos o ataque aéreo”, anunciou o porta-voz militar Zaw Min Tun a um canal de televisão estatal.

Acrescentou que “os prédios próximos explodiram porque as forças anti-junta conhecidas como Forças de Defesa do Povo – o braço armado do GUN – armazenaram munições lá. Foi por isso que explodiu e as pessoas morreram”.

Comunidade Internacional

Washington instou o regime que pare com a “violência horrível”. O porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel, argumentou que “esses ataques violentos destacam ainda mais o desrespeito do regime pela vida humana e a sua responsabilidade pela terrível crise política e humanitária na Birmânia após o golpe de fevereiro de 2021”.

Citada na publicação britânica The Guardian, Nabila Massrali, porta-voz para assuntos externos e política de segurança da UE, declarou que “a UE está profundamente chocada com os relatos da última atrocidade cometida pelo regime militar em Sagaing, que tirou a vida de dezenas de civis inocentes. Continuaremos a trabalhar para responsabilizar totalmente os responsáveis”.

O Ministério alemão dos Negócios Estrangeiros afirma que “[condena veementemente] o ataque aéreo do exército de Mianmar que matou dezenas de civis, incluindo muitas crianças”, e acrescente: “Esperamos que o regime acabe com a violência contra seu povo imediatamente”.

O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos afirmou estar “horrorizado” com o ataque aéreo na aldeia em Myanmar atribuído ao exército birmanês, que deixou dezenas de mortos.

Em comunicado, o alto comissário Volker Turk acusou a Junta Militar de ignorar “claras obrigações legais (…) de proteger os civis durante as hostilidades”.

“Parece que estavam entre as vítimas crianças que dançavam, juntamente com outros civis, durante a cerimónia de inauguração de um centro na vila de Pazigyi, distrito de Kanbalu”, disse Turk.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, também reagiu. De acordo com um comunicado do porta-voz, Stephane Dujarric , Guterres “condena veementemente o ataque das Forças Armadas de Mianmar”. O secretário-geral “reitera o apelo aos militares para que ponham fim à campanha de violência contra a população de Mianmar em todo o país”, acrescentou Dujarric.

O relator das Nações Unidas para Myanmar, Thomas Andrews, informou, em março, que mais de três mil civis foram assassinados e que 1,3 milhões de pessoas foram obrigadas a abandonar os locais de residência.

A ONU avança que a Junta Militar mantém 16 mil presos políticos.

Fonte: RTP

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