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Nem imaginam a rebaldaria

Estamos nós qual anjos a jantar e a ver a Califórnia a arder e andam milhares de homens e algumas mulheres, nas sedes sépticas dos partidos, declarando todos os camaradas ou companheiros como hostis. Corrompem-se com telefonemas nocturnos, prometem avenças para depois das eleições.

Uma gamela de ouro para cada militante que os apoie. Falam a língua franca dos antropófagos, sentem-se profetas da freguesia. E não é um por cada partido em cada bairro. São três, são quatro, uns de boca à banda, outros de olhos esbulhados, os mais espertos com a catana à espera do relógio marcar o segundo fatal para, na noite que se porá, cortar cabeças em nome do céu e do povo.

A esta hora, neste preciso momento, em cafés e restaurantes mais esconsos que os traficantes da coca, ajuntados, cinco ou seis cínicos propõem ataques terroristas em forma de festas e bar aberto, a catar votos como as lâmpadas negras catavam moscas inocentes.

Em cada partido, em cada secção, em cada sala com o retrato do fundador na parede, conspiram, espirram, espigam os nomes que serão apaniguados nas listas das urnas — onde morrerão eleitos e à sorte começam a fingir dentição e dichotes proféticos.

Neste mesmo momento em que lavamos as mãos, dezenas de pré-candidatos telefonam a amigos a saber da melhor estratégia, para calhar ser o Ferrari da corrida de Setembro. Virá o tempo de minar as fundações de todos os outros — e a bomba ideológica virá ao de cima, como cadáver guardado no lago, navegado a remo veneziano pelos canais habituais do partido.

Os presidentes dos partidos chamam a si a escolha dos escolhos candidatos às cidades; os presidentes das concelhias chamam a si a escolha do pobre que navegará o sirte das vilas. Os presidentes na secção decidem a medo ou derrotados, a eles mesmos, para a corrida à aldeia. E abanada a roleta vestem-se os medalhados com a melhor sirsaca e vão para os penedos com canções e chocolates, a prometer guerra à tempestade. Fica aquém depois na obra, mas que importa, pois há seis meses que mostra aos patrícios a efígie na ‘internet’, sempre contente, dentado e inquisidor — “jovem promessa”.

Entabulada a Bic com o papel, a dobrar em quatro, faz-se um xis a que se chama cruz à frente do boneco que aparenta maior ira e garra. O nosso papel está refém da nossa memória – talvez até desse tempo atrasado que, qual clubistas, nos deixámos de questionar e voltámos sempre ao mesmo (fraca visão, confortáveis e acamados, apartados do real). Somos rugas caducas porque sabemos que, a esta hora, eles escrevem textinhos para os ‘santinhos’ que hão-de imprimir e nos vão dar na rua, com a sorridente face do adequado sapiens sapiens, e é para ganhar, pincham estridentes.

E nós dobramos e vamos, vamos, duzentos, trezentos, e o santinho, impresso talvez com fundos da junta mas que não se notou, deitamos no vidrão o preponente a reciclar.

E, no fim, compramos gelado de um litro, sentamo-nos no sofá, vemos as coisinhas das barras a subir e a descer, a subir e a descer, a subir e a descer, a subir e a descer, a subir e a descer, a subir e a descer, a subir e a descer.

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Joao Vasco Almeida
Joao Vasco Almeida
Jornalista 2554, autor de obras de ficção e humor, radialista, compositor, ‘blogger’,' vlogger' e produtor. Agricultor devido às sobreirinhas.

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