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Novo Banco já fala francês

O grupo francês BPCE já está a fazer o caminho para até ao fim do ano acertar a compra do Novo Banco e até ao primeiro semestre de 2026 tudo estar operacional. Esta é a primeira investida do grupo francês fora de portas no que diz respeito a uma operação de banca de retalho. A aquisição do quarto maior banco em Portugal faz parte do plano estratégico do grupo francês, confirmou esta sexta-feira o presidente executivo (CEO) do grupo BPCE, Nicolas Namias, em conferência de imprensa.

São franceses os compradores do Novo Banco – e estes prometem não avançar com quaisquer planos de corte de custos mas, sim, investir numa ótica de “muito longo prazo para beneficiar a economia portuguesa“.

O presidente do grupo francês, Nicolas Namias, garante que esta é uma “transação amigável” e não é uma aquisição cujo interesse económico passe por sinergias e cortes de custos (como, deixou implícito, seria a oferta dos espanhóis do Caixabank).

O BPCE vai pagar um total de 6,4 mil milhões de euros pelo Novo Banco, 25% dos quais vão para o Estado – com quem promete negociar de forma “respeitosa”, embora deixe claro que não haverá negociações sobre o preço global, que é definitivo.

A compra do Novo Banco, anunciada esta sexta-feira, 13 de Junho, corresponde à entrada do grupo francês BPCE na banca de retalho em Portugal, ficando com o quarto maior banco nacional.

Contudo, a presença no mundo financeiro em Portugal não é nova. Os franceses detêm já o Banco Primus, de crédito ao consumo, a Oney, também da área de financiamento, e ainda a Natixis, de banca de investimento, com um centro de desenvolvimento no Porto.

O acionista maioritário do Novo Banco, a Nani Holdings S.à r.l., já assinou um Memorando de Entendimento para a venda da sua posição acionista aos franceses do BPCE. Segundo um comunicado enviado às redações, em causa está “um montante equivalente a uma valorização de aproximadamente 6,4 mil milhões de euros, no final de 2025, para 100% do capital social”.

Com esta venda, o Novo Banco recebe 75% dos 6,4 mil milhões de euros, ou seja, cerca de 4,8 mil milhões de euros, multiplicando por quase cinco a injeção de capital de mil milhões de euros que fez quando adquiriu os 75% do banco que resultou do colapso do BES. Já o Estado português recebe os restantes 25%, cerca de 1,6 mil milhões de euros, mas repartidos entre o Fundo de Resolução e a Direção-Geral do Tesouro.

A verba a receber pelo Estado fica, assim, muito abaixo do valor colocado no Novo Banco: depois de uma injeção inicial de 4,9 mil milhões de euros, para capitalizar a instituição, o Fundo de Resolução ainda entregou ao Novo Banco cerca de 3,5 mil milhões de euros ao abrigo de um acordo que permitia ao Lone Star reclamar essas verbas.

Esta semana, o grupo bancário BPCE já se tinha posicionado como o principal candidato à compra do Novo Banco à Lone Star Funds, tal como tinha avançado a Bloomberg, que cita fontes próximas do assunto, que falaram sob condição de anonimato.

“Esta transação conclui o processo de transformação do Novo Banco, realizado com o apoio dos seus stakeholders, tornando-o num dos bancos mais rentáveis da Europa, com um objetivo de rentabilidade sobre capital tangível (RoTE), de médio prazo, superior a 20%”, lê-se no comunicado.

Segundo o Novo Banco, “a decisão do acionista maioritário de avançar com uma venda direta ao BPCE representa uma oportunidade estratégica, posicionando o Novo Banco para integrar um dos maiores e mais sólidos grupos financeiros Europeus”, uma vez que o BPCE já “uma forte presença em Portugal através do centro de desenvolvimento tecnológico da Natixis, localizado no Porto”, como escreve o ECO.

Antes da assinatura deste memorando de entendimento, a Lone Star detinha uma participação de 75%, adquirida em 2017.

A negociação foi liderada pelo fundo Lone Star, dono de 75% do Novo Banco, mas o Estado e o Fundo de Resolução irão acabar por vender os restantes 25% por causa de cláusulas contratuais que obrigam o Estado a vender no caso de o LoneStar vender toda ou quase toda a sua participação. Ainda assim, numa tentativa de mostrar “respeito”, o grupo francês fala em negociações com o Estado para a venda da sua posição. “Não é uma formalidade, nunca é, tenho muito respeito pelas autoridades portuguesas”.

Ministro das Finanças “atento”

O Ministério das Finanças já indicou, no entanto, que irá “acompanhar” a venda por parte do Lone Star, alienando também a sua participação.

Aliás, em comunicado do gabinete do ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, realça-se que esta operação garante uma “maior diversificação dos investidores e acionistas dos bancos que operam em Portugal, evitando assim uma desnecessária concentração geográfica, como o Governo advertiu e se mostrou contra. Também garante a manutenção da atual estrutura do mercado bancário nacional, sem que ocorram problemas resultantes de um eventual processo de concentração, nomeadamente de uma reestruturação, e salvaguarda os níveis de concorrência no sistema bancário português”.

Estado e FdR obrigados a vender participações

Depois da assinatura deste memorando de entendimento, a compra poderá estar fechada no primeiro semestre de 2026 e, questionado pelos jornalistas na conferência de imprensa, Nicolas Namias garantiu que planeia manter a atual gestão do banco, liderada por Mark Bourke, que fez um “trabalho incrível” nos últimos anos. A perceção no setor bancário, de acordo com a informação recolhida, é que Mark Bourke, que subiu de administrador financeiro a presidente após a saída de António Ramalho, não tem planos pessoais de continuar em Portugal por muito mais tempo.

O gestor foi nomeado pelo fundo norte-americano Lone Star, que comprou 75% do banco em 2017 e recuperou quase todo o investimento que fez (mil milhões) só com os dividendos recebidos no final do ano passado. Agora, assina um acordo para vender o Novo Banco 6,4 mil milhões – 4,8 mil milhões para o fundo e 1,6 mil milhões para o Estado. O próprio Estado diz que recupera, com a venda e com os dividendos recebidos, dois mil milhões.

De acordo com fontes do setor, os franceses do BPCE fizeram uma oferta mais elevada pelo Novo Banco do que o concorrente, os espanhóis do Caixabank (donos do BPI, que teriam a intenção de, depois, fundir os dois bancos, ficando João Pedro Oliveira e Costa como presidente executivo). Além da questão do preço, o Caixabank acabou por “desanimar-se” com a operação, disse fonte próxima, depois de o governo português ter manifestado uma clara oposição a um negócio que passasse por um aumento da presença espanhola no sistema bancário nacional.

A operação é “benéfica para o BPCE”, sendo também “boa para a economia portuguesa”, porque o banco consegue uma maior diversificação geográfica e uma diversificação de balanço já que, em contraste com a operação francesa, a maior parte dos créditos em Portugal são com taxa variável – o que garante maior diversificação e proteção do balanço face à predominância da taxa fixa nos créditos em França. Para o Novo Banco, “é sempre bom para um banco ter um grande acionista” como o BPCE, afirmou Nicolas Namias. O próprio Ministério das Finanças atravessou-se pelo grupo francês: “O BPCE é um banco de elevada credibilidade, solidez e performance. A proposta do BPCE permitirá a criação de valor e o apoio à economia nacional e às empresas portuguesas”.

Quem são os franceses BPCE

Quem acaba por vencer a corrida pelo Novo Banco é o grupo BPCE, que se formou através de uma grande fusão em 2009, no rescaldo da crise financeira que teve como clímax a falência do norte-americano Lehman Brothers.

Essa crise, que se alastrou a vários bancos franceses e europeus, colocou duas entidades financeiras sob pressão (incluindo pressão política) para se fundirem – o Presidente era Nicolas Sarkozy, que se empenhou nessa fusão, incluindo com um financiamento público de sete mil milhões de euros).

As duas entidades eram: O Banque Populaire, fundado em 1878 na cidade de Angers, um grupo de bancos cooperativos que formou o Natixis (originalmente Natexis), um banco de investimento que teve problemas graves na sequência da crise financeira norte-americana, incluindo um investimento no esquema piramidal de Bernie Madoff – onde o banco derreteu 450 milhões de euros.

A Caisse D’Epargne, uma entidade (cujo nome se pode traduzir por Caixa de Poupanças) que surgiu em Paris há mais de 200 anos, em 1818. Antes da fusão de 2009, a Caisse D’Epargne tinha-se assumido como um grande grupo de instituições mutualistas que começaram por ser caixas económicas mas se transformaram em bancos ao abrigo da legislação criada no final do século passado.

Com as respetivas diferenças, tanto uma como a outra tinham uma génese mutualista – uma espécie de mistura entre o Montepio e o Crédito Agrícola que, tal como as organizações ligadas ao grupo BPCE, assentam em estruturas que operam com um grande nível de autonomia. A propriedade do banco é das caixas económicas locais, que são, por sua vez, legalmente detidos pelos seus clientes enquanto associados – são 9,8 milhões de acionistas individuais.

Em Portugal há vários anos

O BPCE, que em 2024 aumentou os lucros 25% para cerca de 3,5 mil milhões de euros, já tem presença em 50 países mas sobretudo através da banca de investimento e outras operações. Se comprar o Novo Banco, Portugal será, no entanto, o primeiro país fora de França onde o grupo vai

passar a ter uma operação de banca comercial. O grupo emprega 100 mil trabalhadores em todo o mundo e serve cerca de 35 milhões de clientes.

Mas, noutras áreas, o BPCE já está presente no mercado financeiro português há vários anos, sobretudo através de três empresas: o banco de investimento Natixis, que tem desde 2017 um centro tecnológico no Porto, o Banco Primus, sediado em Paço de Arcos e que é especializado em crédito para a compra de automóveis e motos, e a Oney, muito focada no crédito ao consumo, sobretudo modelos de pequeno crédito ao consumo (buy now, pay later). Aos 3.000 trabalhadores que já tem em Portugal junta agora os do Novo Banco, ficando com sete mil empregados.

O BPCE celebrou, também, várias parcerias que lhe granjearam entrada noutros mercados – a parceria recente mais relevante foi com a seguradora Generali (dona da Tranquilidade em Portugal), com vista à criação de uma joint venture na área da banca de investimento.

Em 2024, o Groupe BPCE lançou um novo plano estratégico a que chamou “VISÃO 2030“. “Delineando as principais prioridades estratégicas do Grupo e as suas linhas de negócio até 2030, este plano está firmemente focado no crescimento e na diversificação das suas atividades”, diz o grupo.

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