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Nunca é tarde

 Um país por cumprir

Na era dos cinemas duplex nos centros comerciais, os cineclubes servem para vermos filmes como “Tarde Demais”, de José Nascimento, retrato das contradições deste Portugal da União Europeia minado por arcaismos vários que teimam em não nos deixar. “Tarde Demais” conta-nos o enredo, em jeito semi documental, de um caso que foi capa de jornais em 1995. A tragédia de quatro pescadores, náufragos, no meio de Tejo, com os trabalhos de terraplanagem no futuro Parque das Nações e a colocação dos pilares da ponte Vasco da Gama como pano de fundo. Apesar de estarem tão perto da cidade, dois dos pescadores acabariam por sucumbir. Como foi possível que isso acontecesse, que não houvesse meios de segurança eficazes e rápidos para os salvar?! Foi esse absurdo que o realizador quis mostrar, nada fazendo, durante as filmagens, para ocultar o brilho das luzes da Expo e da Ponte Vasco da Gama, na altura da tragédia ainda em construção.

“Tarde Demais”, de José Nascimento,
DR

“Este é um filme sobre uma coisa que é muito nossa”, dizia na altura José Nascimento em entrevista a um jornal diário, “ninguém liga a ninguém. A nossa sociedade é muito pouco humanizada, não se pensa na qualidade de vida das pessoas”.

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Concretamente sobre o caso que o seu filme retratava, acrescentava Nascimento: “Quando vieram as normas da CEE para os estuários dos rios (…) toda a frota artesanal entrou em extinção. (…) Por causa disso as capitanias começaram a extinguir-se. Os próprios cabos do mar estavam-se nas tintas para controlar os rios. E os pescadores não foram pressionados para melhorar as condições nos barcos. É isso que está relacionado com a história: foram ao mar como se ia há trinta ou cinquenta anos.(…) E o rio é perigossíssimo naquela zona”.

Continuemos a falar de cinema, salientando as especificidades de cada um dos países ibéricos. Quando um espanhol arrecadou, em Los Angeles, o Oscar para a categoria de “Melhor Filme Estrangeiro”, em Espanha pouco faltou para ser decretado feriado nacional, tal foi a festa que os nuestros hermanos se deram ao luxo de fazer. Particular entusiasmo se registou em Calzada de Calatrava, a pequena povoação agrícola de cinco mil habitantes que viu nascer Pedro Almodóvar.

Nesse mesmo ano, com uma só película, “Beleza Americana”, o luso-descendente Sam Mendes levou para casa cinco desses Oscares – melhor filme, melhor realizador, melhor actor, melhor argumento original, melhor fotografia – e em Portugal os media apresentaram-no como um “realizador britânico” que pretendeu dissecar, nua e cruamente, a sociedade norte-americana.

Jornais de referência como o “Público” (que enviou a LA uma jornalista para o efeito) mostraram até o jovem realizador abraçado à mãe, sem tecerem, porém, um comentário que fosse sobre a luso-descendência da nova coqueluche de Hollywood. Uma das excepções foi o 24 Horas, que não só destacou as raízes lusitanas do cineasta, como teceu um comentário sobre o “Beleza Americana”, dizendo que era “um olhar crítico sobre o modo de vida americano que poderá ser justificado pela origem portuguesa do realizador. E, daí, uma forma diferente de ver o novo mundo prometido aos seus antepassados”.

Fictício ou não, o personagem Major Alvega nunca se esquecia de corrigir quando interpelado pelos seus admiradores ou inimigos. Perante o “Ah!! Alvega! O famoso piloto britânico”, respondia: “Britânico, no sir! Luso-britânico”.

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Joaquim Magalhães de Castro
Joaquim Magalhães de Castro
Licenciado em História, tem trabalhado nas últimas décadas na imprensa de Macau e em diversos jornais e revistas portuguesas. É autor de mais de uma dezena de livros ( Recomendados para o plano nacional de leitura) e onze documentários televisivos.

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