Na vanguarda da política portuguesa, onde as ideias se batem contra os ideais e os discursos se perdem em labirintos de hipocrisia, surge mais um personagem digno de um episódio de comédia – ou talvez de tragédia – na vida pública do país. Miguel Arruda, o deputado que prega a moralidade enquanto se perde nas camadas de plástico e etiquetas de bagagens, tornou-se o novo ícone da irrelevância política. Mas, em vez de combater as grandes questões da sociedade, Miguel opta por uma dedicação peculiar: colecionar malas
Mas não se enganem, caro público, não são malas de luxo, nem daquelas que ostentam a marca de um nome sonante. Não, são malas do tapete rolante dos aeroportos de Lisboa e de Ponta Delgada. Malas pequenas, médias, grandes, de todas as cores e feitios. No início, ainda podíamos pensar que fosse algum tipo de erro, uma distração momentânea. Afinal, quem nunca retirou uma mala que não era a sua? No entanto, depois de meses, até os distraídos mais distraídos começam a perceber que algo está errado.
Será que Miguel Arruda, tão ocupado com as suas viagens entre o continente e as ilhas, se esqueceu de entregar as malas aos legítimos donos? Ou talvez tenha ficado preso a um espólio de bagagens como quem coleciona arte? Um novo estilo de arte, quem sabe: “Mala-arte”, em que o próprio conceito de pertença é borrado e o valor se resume à cor e à forma das coisas. Mas, não, não se iludam, isso seria dar-lhe demasiado crédito. O que parece mais provável é que, em algum momento, se tenha encolhido, temendo a vergonha de devolver o que claramente não lhe pertencia.
Ao olhar para esta cena, não se pode deixar de questionar: qual o verdadeiro problema de Miguel Arruda? Será o seu gosto por colecionar objetos perdidos, ou a necessidade inexplicável de puxar as malas uma a uma, como se marcasse a sua própria travessia no espaço e no tempo? Afinal, o que são uns trocos de aeroporto comparados aos grandes feitos legislativos de um deputado?
Esta história, que poderia ser meramente ridícula se não fosse profundamente simbólica, desenha o quadro de uma classe política cada vez mais distante daquilo que seria razoável esperar. Num país onde se escondem milhares de euros em livros, onde a moralidade é uma fachada e os escândalos se sucedem como quem vira uma página num livro entediante, o que resta aos cidadãos? Se antes tínhamos um governo a tapear os seus desmandos com a retórica da austeridade e da ética, agora, temos um deputado a colecionar malas perdidas.
E se as malas de Arruda fossem uma metáfora da política portuguesa? Se ele, como tantos outros, se estivesse apenas a arrastar pelas esteiras da banalidade política, sem realmente perceber qual é o seu lugar ou o que realmente representa? O poder, tal como a mala, é muitas vezes confundido com a propriedade, e este é o grande erro de quem ocupa a política: julgar que, por carregar algo, o possui de facto.
Aos portugueses, cabe-nos agora decidir: estamos a viver num país onde um deputado se perde nas bagagens e nos faz questionar o seu valor, ou estamos a viver num país onde a perda de sentido é já tão profunda que sequer notamos o que acontece à nossa volta? Porque, caros leitores, quando as malas se tornam mais importantes que as questões reais da sociedade, quando a política se transforma numa sucessão de gestos fúteis e de discursos vazios, talvez já não seja a mala que devemos devolver, mas sim a própria moralidade.