Estava uma tarde soalheira na Feira Raiana quando Joaquim Morão, figura icónica e controversa do panorama político local, se preparava para mais uma entrevista no canal Beira Baixa TV. O ambiente estava animado, repleto de sons e cores típicas deste evento que atrai multidões todos os anos, ao contrário deste ano, com uma fasquia ambiciosa de 100.000 pessoas estabelecida pelo seu delfim Armindo Jacinto. Com a entrada paga, as expectativas estão longe de ser cumpridas, a não ser que ocorra um milagre nos quatro dias que faltam. Contudo, o comendador não esperava a surpresa que lhe estava reservada: um vídeo da Feira Raiana de 1997.
Na tela, uma versão mais jovem de Morão surgia com uma energia contagiante. Com um sorriso confiante, ele anunciava a transferência da feira para o local onde hoje se realiza, um feito que descreveu como um “golpe de asa”. Esta expressão, tão peculiar e cheia de significado, marcou a memória de muitos e tornou-se quase um lema do comendador.
Ao ver-se no vídeo, Morão não conteve um sorriso nostálgico. “Tive que fazer um golpe de asa,” repetiu ele, como se quisesse sublinhar a importância daquele momento. E, de facto, o comendador é conhecido pelos seus golpes de asa, essas manobras audazes e muitas vezes inesperadas que marcaram a sua carreira. No entanto, não podemos ignorar que esses mesmos golpes lhe trouxeram não só sucesso, mas também inúmeros processos judiciais.
Ao vê-lo, até se pode pensar no fundo do pensamento dele:
“Apesar de andar com a asa ferida, não deixo de ir voando,” com tantos processos. “Agora, é verdade, voo mais baixinho. Mas houve tempos de grandes voos.” A metáfora da asa ferida é inegavelmente potente. Morão, com a sua retórica hábil e astuta, pode reconhecer lá bem no fundo do seu pensamento com os obstáculos e as adversidades que enfrenta, mas nunca admite a derrota.
A ironia de toda esta situação não escapa a ninguém. Joaquim Morão, sempre visto como um mestre dos golpes de asa, continua a voar mesmo com os pesos dos processos pendendo-lhe das asas. A sua capacidade de se reinventar e de se adaptar às circunstâncias adversas é impressionante, embora seja impossível ignorar a sombra das suas controvérsias passadas.
Ao refletir sobre a sua trajetória, Morão mostra-se um homem resiliente, alguém que não se deixa abater facilmente. A Feira Raiana, com toda a sua tradição e importância cultural, é também um reflexo do comendador. Mudou de local, cresceu, adaptou-se, mas mantém a sua essência. Tal como Morão, que, apesar de tudo, continua presente, marcando a sua posição.
A entrevista termina com um olhar de cumplicidade entre o jornalista e o comendador. Joaquim Morão, com todas as suas contradições e controvérsias, é um personagem que não deixa ninguém indiferente. E enquanto houver feiras e vídeos antigos para recordar, haverá sempre espaço para mais um golpe de asa do comendador.
Assim, a Feira Raiana de 2024 não será lembrada apenas pelos seus expositores e visitantes, mas também pela reflexão de um homem sobre os seus próprios golpes de asa, feridas e voos. Recebeu a merecida e cara, quase 10.000 euros, chave de ouro da vila de Idanha-a-Nova pelas mãos do atual presidente da câmara, Armindo Jacinto, o seu delfim, numa homenagem na inauguração da feira. Portanto, chave já tem e, quem sabe, que novos voos o futuro reserva para Joaquim Morão?