O Bloco de Esquerda despediu, nos últimos anos, dezenas de pessoas, por falta de orçamento. Ao não conseguir pagar às pessoas, usou um esquema comum aos partidos: fizeram dos funcionários assessores de organismos públicos e quem acabava por pagar esses ordenados eram e somos todos nós, através dos impostos.
Limpemos já as mãos à parede – todos os partidos fazem ou fizeram isto. Não foi um esquema inventado pelo Bloco, nem este será o último a usá-lo. Isto apenas revela que há uma lesma resinosa e venenosa na forma como os partidos miram os seus poderes: de forma abusiva. Ficam sem legitimidade e, menos ainda, ética. Mas isto, caro leitor, é mato. Basta procurar pacientemente as notícias que estão espalhadas pêlos jornais online e nos arquivos, para topar toda a cena.
Na sociedade, pueril em política, como é a portuguesa, ainda há uma ideia estúpida de que a moral, a ética e os valores extremos da decência é exigida mais à Esquerda do que à Direita. É isto consequência da revolta militar de 1974 ter sido colada à ideologia dos partidos que se tornaram pop, como o PCP, o PS e o PPD, mais 30 grupelhos de esquerda com a FER, a FIR, a FOR e a FUR…. Sim, até o PPD ia em direcção ao Socialismo e, daí, o socialismo era a descoberta da roda para um país amordaçado à direita desde as sopinhas do Sidónio.
A Esquerda deu todos os flancos nos últimos 50 anos. Aburguesou-se ainda mais. A Esquerda portuguesa nunca foi operária – nem a do PCP. A política cá da terra era de aristocratas, antes de passar para a geração dos tecnocratas e, por estes tempos, para os lorpas das juventudes partidárias. Um péssimo caminho, que nada augura de bom para a malta que se esfalfa. Há, calculemos por baixo, três milhões em dez que são pobres. Não vivem, sobrevivem. E em vez de andarem a construir aeroportos em cada Beja, TGVs em cada promessa, era curioso pegar no dinheiro e acabar com a nojeira em que se tornou o SNS, o Ensino, os meios de transporte públicos, a segurança Social.
Mas nem desse dinheiro dado de mão beijada, a “bazuca” ou PRR, sabemos usar e estamos à rasca para o gastar. Não temos envergadura nem agilidade para fazer bem, para investir bem, para ajudar bem, para crescer bem. Nada disso. A “bazuca” anda a financiar palermices e, como o dinheiro não se gasta, qualquer dia temos que o devolver, como se fôssemos a Suíça com petróleo e diamantes.
Este panorama é risível e absurdo. Só não nos faz rir porque há gente que sofre e morre por causa da incompetência, desde as Juntas ao cimo do Estado. Ora, neste cenário, queriam o quê do Bloco de Esquerda, amálgama de PSR, UDP e o cadáver do MDP/CDE? A guerra PSR contra a UDP nunca enviuvou dentro do partido. É difícil ser trotskista sem conhecer a história de Trotsky, apenas ouvir refrões requentados sobre tal ‘homem bom’ – tão bom como o Zé Estaline, que até lhe foi de saca-gelo à moleirinha.
Faz falta: exigir à Direita ética e legitimidade, exigir à esquerda que se cale com verdades absolutas de dois séculos e, naturalmente, progredir. É nesta palavra que a Esquerda se deve concentrar, como no humanismo, na solidariedade e na equidade.
Depois não se queixem se o marinheiro e o homem da mala de Aníbal I, o Inútil, serem eleitos.