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O Grande Circo de Idanha: Espetáculo Político, Embargo Andante e Um Município À Beira Da Ruína

Idanha-a-Nova, outrora uma promessa de desenvolvimento e dinamismo no interior de Portugal, é hoje um palco desolador de uma peça política grotesca. O presidente Armindo Jacinto, na sua derradeira atuação de mestre de cerimónias, dirige este espetáculo com a elegância de um ilusionista em decadência. Enquanto o público — a população de Idanha — se debate entre a desertificação e a estagnação, a câmara municipal brinca com orçamentos, distribui contratos luxuosos e promete um futuro que nunca chega. No fundo, é como se o concelho estivesse a ser gerido por uma trupe de artistas falhados, mais preocupados em inflacionar egos do que em atender às reais necessidades dos cidadãos.

Raiano 2024: O Festival Onde Só Jacinto aplaude

Um exemplo gritante desta gestão de circo é o Festival Raiano de 2024. Vendido com a expectativa de atrair 100 mil visitantes, a realidade foi um festival deserto, com menos de 20 mil presentes. Uma oportunidade perdida para dinamizar a economia local, transformada num teatro de auto-elogio pago a peso de ouro. O fracasso? Esse é varrido para debaixo do tapete, enquanto se destacam as entrevistas e campanhas de imagem, todas patrocinadas pelos cofres públicos. Um festival não para o povo, mas para o espetáculo do poder.

Carros de Luxo, Povo em Apuros

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Se o festival é a cortina de fumo, o aluguer de carros de luxo é o número principal deste circo. A autarquia não se coíbe de gastar 365 mil euros em viaturas de topo, uma quantia que, para os munícipes, soa a afronta. Enquanto as famílias lutam para pagar as contas e cuidar dos seus, a câmara passeia-se em carrões dignos de milionários, numa ópera bufa que insulta a decência de quem trabalha todos os dias para sobreviver. E as crianças? Ah, essas têm a sorte de receber 209 mil euros para transporte escolar. Um valor que deveria ser uma obrigação do município, é tratado como uma concessão, um “favor” arrancado a muito custo.

O Escândalo da Saúde: Um Cartão Para Nada

No campo da saúde pública, o espetáculo é ainda mais sombrio. O Cartão de Saúde 0-114, anunciado como a solução mágica para os problemas de saúde da população, tornou-se uma farsa digna de novela de quinta categoria. O contrato expirado e as disputas entre seguradoras deixaram os cidadãos sem acesso a cuidados de saúde essenciais. A resposta da câmara? Silêncio. Ou pior, um “gravíssimo” de indiferença gélida, enquanto a população sofre na pele a incompetência de quem deveria zelar pelo bem-estar coletivo.

Participação Cidadã: Uma Farsa Deslavada

E que dizer do tão badalado “Orçamento Participativo”? Um conceito anunciado com pompa, mas que se revela uma verdadeira piada de mau gosto. Com uns míseros 170 mil euros distribuídos por sete freguesias, o resultado só pode ser um: um punhado de pequenas obras cosméticas, sem impacto real no dia-a-dia dos munícipes. Dez mil euros por freguesia? Para pintar uma parede ou talvez plantar uma árvore. Enquanto isso, as verdadeiras necessidades — como saúde, educação e infraestrutura — continuam a ser negligenciadas.

Boom Festival: A Ilusão de Vida Num Município Morto

Não há como negar: o Boom Festival é a joia da coroa do concelho. Por uma semana de dois em dois anos, Idanha-a-Nova torna-se o centro do mundo alternativo, com milhares de pessoas a inundarem o território. Mas quando o último DJ desliga o equipamento, o que sobra? Nada além de ruas desertas e uma população envelhecida. Em vez de um plano estratégico para combater a desertificação e atrair novos habitantes, a aposta recai sempre em eventos pontuais, como se um festival pudesse sustentar uma economia moribunda.

A Desertificação Aplaudida de Pé

Idanha-a-Nova perdeu 70% da sua população desde 1950. Sete décadas de declínio demográfico não são um problema recente, mas a gestão de Armindo Jacinto fez questão de perpetuar o abismo. O concelho celebra títulos e distinções — Bio-Região, Geopark Naturtejo, Cidade Criativa da UNESCO — mas nada disso enche os pratos ou garante futuro. Os jovens fogem, as casas permanecem vazias, e a câmara continua a assobiar para o lado, mais interessada em construir rotundas do que em criar condições para fixar população.

Orçamento: A Grande Farsa

O Orçamento Participativo de 2024 é a última farsa desta gestão. Limitado a áreas culturais, ambientais e desportivas, ignora por completo as reais necessidades da população. Saneamento básico? Infraestruturas? Saúde pública? Tudo isso é relegado para segundo plano, como se viver num concelho com ruas em ruínas e serviços de saúde precários fosse uma questão menor. O que interessa é que se veja “participação”. O circo não é apenas político, é também burocrático, com todos os atos cuidadosamente encenados para manter as aparências.

Fim de Mandato, Fim de Esperança?

O fim do mandato de Armindo Jacinto está à vista, mas o espetáculo continua. Sem soluções concretas e com uma gestão que privilegia o verniz em detrimento da substância, Idanha-a-Nova afunda-se cada vez mais. O circo político, com os seus números de malabarismo e ilusionismo, está prestes a terminar. Mas quem sofre com o desfecho trágico deste espetáculo são os cidadãos, que há muito deixaram de aplaudir. O tempo dos circos chegou ao fim, e o público — ou o que resta dele — está exausto.

Idanha está a morrer. E a câmara? Aplaude.

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Fernando Jesus Pires
Fernando Jesus Pireshttps://oregioes.pt/fotojornalista-fernando-pires-jesus/
Jornalista há 35 anos, trabalhou como enviado especial em Macau, República Popular da China, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Paralelo 38, Espanha, Andorra, França, Marrocos, Argélia, Sahara e Mauritânia.

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