Nas eleições legislativas nacionais, o Partido Socialista levou um valente abanão em Castelo Branco. A surpresa? Nenhuma. O desfecho era mais que previsível para quem vive nesta cidade há quatro anos e tem assistido, com olhos entre o desespero e a incredulidade, à forma como Leopoldo Rodrigues transformou o PS local numa sombra de si próprio
Leopoldo Rodrigues não é apenas presidente da Câmara Municipal. É, também, presidente da concelhia do PS. E foi, por isso, o rosto e o motor (gripado) de uma estrutura política que falhou redondamente em mobilizar os eleitores. A responsabilidade? Totalmente sua. O eleitorado, já cansado da sua gestão trapalhona, devolveu-lhe a moeda com juros e correção. O PS não perdeu votos apenas por cansaço nacional. Perdeu porque em Castelo Branco tem um líder local que se especializou na arte de desiludir.
A cidade sofre com um executivo camarário apático, sem obra de relevo, sem visão, sem rasgo. Buracos nas ruas, obras inacabadas, anúncios vazios, cartazes coloridos e eventos populistas tomaram o lugar de políticas públicas consistentes. E quando um presidente de câmara passa mais tempo a cortar fitas de festas do que a resolver os problemas do concelho, a população toma nota.
Como se não bastasse o deserto de ideias na autarquia, Leopoldo Rodrigues arrastou o PS concelhio para um pântano de divisão e desorientação. A concelhia transformou-se num ringue de guerrilhas internas, sem rumo, sem estratégia, e sem qualquer capacidade de mobilização. Com um partido desagregado por dentro, era expectável que o resultado nas urnas fosse catastrófico. E foi.
O ponto alto da falta de noção deu-se no próprio dia das eleições. Enquanto o PS enfrentava o voto de desconfiança dos cidadãos, Leopoldo publicava uma fotografia sua dentro de um avião no Beiras Airshow, com a legenda “Pronto para descolar”. Uma metáfora involuntária mas certeira: ele descolou, sim — da realidade, da competência, e agora também do apoio popular.
Pior: até os cartazes da campanha legislativa, com os dois deputados do círculo eleitoral, omitiram “Castelo Branco” e preferiram falar em “Beira Baixa”. Uma escolha simbólica que resume bem o estado actual das coisas: uma cidade apagada, sem orgulho, sem projecção, e a reboque da falta de liderança. Em vez de afirmar Castelo Branco como capital de distrito, o PS local parece envergonhar-se dela. E isso paga-se caro nas urnas.
Se o Partido Socialista quiser recuperar algum fôlego nesta cidade, a primeira decisão é óbvia: Leopoldo Rodrigues tem de sair. E não apenas da concelhia. Tem de sair do palco. Já provou, vezes demais, que não tem perfil nem capacidade para liderar. Continuar a insistir nele seria prolongar o naufrágio.
O mau resultado nas legislativas não foi culpa de Lisboa. Nem do contexto nacional. Foi culpa de um presidente local que decidiu governar com autocolantes e balões de ar quente. Os eleitores não são tolos. E mostraram, com clareza, que já não caem em promessas embrulhadas em festivais e iluminações.
Leopoldo Rodrigues é o rosto da derrota do PS em Castelo Branco. E só com o seu afastamento se poderá começar a limpar o caminho para a reconstrução. Porque enquanto ele continuar a pilotar este avião, a única certeza é a de que a cidade continuará em queda livre.