Nos últimos dias as televisões portuguesas acompanharam ao pormenor as tentativas de salvamento do Titan e seus muito abastados passageiros, esquecendo as centenas de pobres e pretos migrantes que terão morrido na sequência do naufrágio do barco em que tentavam atravessar o Mediterrâneo para chegar à Europa.
Falecidos os abastados – que pena, quantas entrevistas se perderam a esses aventureiros – eis que surge outro tema para encher os telejornais, breaking news, alertas, notícias em última hora e outros flashes que captem a atenção dos telespectadores.
O Motim Prigozhin!
E tantas foram as explicações e conjunturas sobre o que de facto aconteceu, designadamente analisando se Putin terá saído fragilizado ou reforçado na sua liderança, que também eu resolvi alegar os meus argumentos.
Mas, desde já, clarifico o que penso sobre o atual regime russo: trata-se de um sistema dominado por oligarcas, onde impera o capitalismo selvagem, “imposto” pelos governos neoliberais que se consolidavam no Reino Unido, EUA, etc, após a queda da URSS. Todavia, a sua história e segurança nacional levam a Rússia a atitudes com as quais podemos não concordar, mas que deverão ser levadas em conta.
Este motim foi encenação/ meia encenação/ ou, o que é mais provável, mera acção corporativa de militares que desejam ser melhor pagos e ter mais poder (Grupo Wagner)? Seja como for, Putin terá aproveitado para isolar Prigozhin e fazer alterações no ministério da defesa, perante o que se passa na Ucrânia, invasão que pensavam ir correr melhor.
Esta acção levantou o véu sobre problemas existentes, alguns antigos outros recentes e expectáveis. Ninguém resolveu nada, apenas abafaram. Mas, penso eu, este acordo entre o governo russo e os revoltosos foi a melhor solução, assim se evitando um possível banho de sangue.
Não pode haver divisão interna ou levantamento de questões estruturais sem a guerra em curso parar, numa paz equilibrada e que leve em conta a realidade no terreno. Divisões internas, neste momento, serão a fórmula mais eficaz para a Rússia perder a guerra, com terríveis consequências para a região.
Depois de terminar o actual conflito, muito haverá para alterar internamente. Assim o permitam uns e o consigam outros, para o bem do povo russo, da Rússia e do mundo.