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O mundo da gravata e dos senhores doutores

Inspirado numa das polémicas do momento, recupero um texto que escrevi há cerca de 10 anos. Há, de facto, textos que, infelizmente, não perdem atualidade.

Quase há 30 anos, vivi na primeira pessoa a atração pelo mundo da gravata e dos senhores doutores. Lembro-me de sentir um tremendo orgulho por passar a ser aquilo que era, e continua a ser, socialmente valorizado. Esse orgulho, tenho de o reconhecer, foi em muito projetado pela minha família, mas, maioritária e naturalmente induzido, pelo meio social onde me inseria.

«Se quisermos ser honestos, sabemos que se o nome for precedido de um “senhor doutor”, mesmo que o senhor doutor seja um zero à esquerda, o seu estatuto social sobe consideravelmente. Se ao título, acrescentarmos uma gravata, o respeito social é exponenciado até ao topo da hierarquia. Era assim e continua a ser assim!

Este exemplo simbólico ajuda a explicar em grande parte aquilo que somos coletivamente, remetendo-nos frequentemente para um mundo sem conteúdo, onde o brilho é artificial e as competências são questionáveis.

No mundo da gravata e dos senhores doutores… reflete-se, planeia-se, definem-se estratégias, movem-se influências, mas quase nunca se vai à raiz do problema e raramente se encontram soluções porque normalmente não se passa da palavra à ação.

Para não ferir suscetibilidades, quero deixar claro que este mundo de “senhores doutores” não se cinge exclusivamente aos senhores doutores da vida, alargando-se este grupo a todos os outros que se fazem preceder de títulos que são naturalmente excluídos nos bilhetes de identidade ou nos cartões de cidadão.

Simplicidade, igualdade, reconhecimento social… independentemente do extrato social ou do título individual!

É apenas mais um desafio ao nosso futuro coletivo porque uma sociedade madura constrói-se no terreno com competências concretas e não numa realidade virtual alimentada por egos insuflados.»

Escrevi este texto há cerca de 10 anos com base em observações locais. Constato hoje, 10 anos passados, que o fenómeno é muito mais global do que o imaginava. E esta constatação deixa-me preocupado com o nosso futuro coletivo.

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Vasco Damas
Vasco Damas
Tem 54 anos e vive na vila de Tramagal (Abrantes). É consultor imobiliário, tendo exercido funções de gestor no ramo da distribuição de materiais de construção e bricolagem, onde liderou equipas e contribuiu para o crescimento das pessoas, levando-as a ultrapassar os limites que julgavam ter. Valoriza o equilíbrio entre o trabalho e a vida familiar (seu porto de abrigo), o convívio com os amigos e a atividade cultural e desportiva, jogando nos veteranos dos Dragões de Alferrarede.

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