Chegou ao fim a 59.ª edição do Festival da Canção, da RTP, e já está escolhido o representante de Portugal no Festival da Eurovisão, que decorre em maio, em Basileia, na Suíça. Numa votação verdadeiramente alucinante, em que não houve um consenso entre o júri regional e os votos do público, a vitória acabou por ser da banda madeirense NAPA
A banda constituída por Francisco Sousa (guitarra), João Guilherme Gomes (vocal e guitarra), João Rodrigues (bateria), Diogo Góis (baixo), e João Lourenço Gomes (piano) conquistou 7 pontos do júri nacional e 10 pontos do público. Ou seja, nem num caso, nem no outro, levou a pontuação máxima. Feitas as contas, alcançou o mesmo resultado do que Diana Vilarinho e sua canção “Cotovia”. Mas, no caso da intérprete, esta recebeu 12 pontos do júri e apenas 5 do público. No final, deu-se um empate entre as duas, mas como o desempate se faz pela maioria de votos do público, acabaram por ser os NAPA e a sua música “Deslocado” a levar a vitória.
Como habitual, a situação já está a gerar uma onda de críticas nas redes sociais. Na página oficial do programa na rede social Instagram, são vários os comentários contra a escolha da banda madeirense. “Uma vergonha o júri. A favorita do público teve 0 pontos. O júri disparou em todas as direções. Josh, Fernando ou Diana mereciam e dariam dignidade a Portugal. Lamentável o que aconteceu hoje. Que repensem o festival. O júri lamentável!”, aponta um fã. Outro acrescenta: “Não vou mentir adoro os NAPA mas acho que não vão chegar longe, espero estar enganada”. Há ainda quem apoie o fim do voto do júri. “12 pontos deram os portugueses à Henka, um grito a pedir progresso e diferença. Júri que atribui pontos com base em regionalismos, para quê ver o Festival da Canção? Não pensamos na Eurovisão e não pensamos na vontade dos portugueses. Mais vale tirar o júri”, escreve outro fã.
Ainda assim, são eles quem vão representar Portugal na Eurovisão e tentarão passar à grande final na primeira semi-final do certame, a 13 de maio.
COTOVIA, Diana Vilarinho — A música que mais representa a cultura portuguesa, com recursos a instrumentos musicais tradicionais, voz de tonalidade de fado. Quanto a mim, uma das favoritas na representação da cultura portuguesa.
TRISTEZA, Josh — Letra que reflete o estado atual da conjuntura mundial. A voz foi eloquente, foi uma canção cantada com alma. A performance estava fenomenal, com a proposta do artista em desequilíbrio, dando mais força à letra sobre as oscilações do estado de espírito da tristeza.
RAPSODIA DA PAZ, Emmy Curl — Para mim, a surpresa da noite! Proposta musical altamente inovadora, com início de vozes em dissonância, o rufar de tambores junto com um «groove» de baixo em estilo folk, acompanhado por uma letra que remete à construção da paz. Fez-me viajar como se estivesse a ver uma pintura de um quadro estilo new age, surrealista, mas profundo. Uma música à frente para estar num festival. Proposta inovadora, uma das minhas canções favoritas!
MEDO, Fernando Daniel — Um pop corriqueiro, nada acrescentando de forma a marcar um festival, apesar de ter sido uma das favoritas.
ADAMASTOR, Peculiar — Uma performance de força, com muita eletrónica à mistura. Algo, de fato, peculiar e marcante pelos tambores a relembrar os tiros da guerra. Uma música de crítica aos tempos atua mundiais. Música e letra forte. Gostei também.
A MINHA CASA, Marco Rodrigues — Uma linda balada orquestral com letra poética. Como balada, nada acrescenta de novo ou que marque pela diferença.
CALAFRIO, Jéssica Pina — Proposta interessantíssima, estilo jazzístico. Também uma das minhas favoritas.
NINGUÉM, Bluay — É uma ode à inclusão social, excelente a proposta dos bailarinos que dão força à ideia de inclusão. A música tem nuances muito interessantes, a voz quente do Bluay deu beleza à música, em conjunto com belos vocais pontuais. Se ganhasse esta canção, seria uma lição de vida à atualidade.
I WANNA DESTROY U, Henka – Um Heavy Metal bastante harmonizado e com toda a garra e força característica de Henka. Performance forte, mas uma letra muito «down» , negativa, instrutiva à destruição do próximo, só por este facto bem mereceu não ter ganho, apesar da canção ter aprovada pelo público.
EU SEI QUE O AMOR, Margarida Campelo – Um sorvete delicioso para os ouvidos, letra e voz bem conseguida. Um leve tom jazzístico sem exagerar nas dissonâncias. No meio a música cresce um pouco, características que normalmente incentivam a mais pontuação. Não é a toa que esta música recebeu pontuação máxima do júri. Era de facto merecedora de ser a vencedora!
APAGO TUDO, Bombazine – Um «Disco Sound», de repente parece que voltamos aos anos 90. E nada mal que seria! Música de carácter dançante e positiva, a mostrar toda a energia dos Bombazine. Mas nada de novo apresenta, a não ser uma recordação à musicalidade do passado. Musica ótima para ouvir e cantarolar no dia-a-dia, mas não para ganhar um Festival da Canção.
E por fim chego à canção vencedora:
DESLOCADO, NAPA – Canção também um pouco a lembrar outros tempos. Remete a lembrança um pouco a Rita Lee… A música não cresce, sem força de performance e força de voz, apesar de um momento de algumas belas inflexões vocais do vocalista. Nada de novo. (Capaz de este ano internacionalmente a pontuação ser muito fraca). Novamente a sensação de anos 80, 90. A canção não é má, pelo menos leva verdadeiros músico ao palco do concurso! (acho que levar só eletrónica para um festival é um desperdício de oportunidade para os músicos). Vejo a eletrónica só como um complemento ou um acrescento pontual aqui e ali. Mas nada deve substituir o empenho e força vital de um músico.
Mas havia neste festival propostas muito mais interessantes sem dúvida. Há três canções que podiam representar muito melhor Portugal, Eu sei que o Amor, canção para ouvidos apurados. E não é isso que um concurso da Canção deveria ser? Uma ode há harmonias bem conseguidas e estruturadas, voz bem colocada, excelente performance….e o que se tem visto é que o Festival da Canção Nacional e Internacional por vezes mais parece uma demonstração de aberrações que por vezes ali passam… esquecendo a verdadeira essência de um concurso de música…. Por vezes quer se inovar tanto que as apresentações caem no ridículo!
A COTOVIA também seria proposta valiosa pela recuperação de sonoridades das nossas raízes e pela identificação à cultura portuguesa, e RAPSODIA DA PAZ pelo seu carácter musical e vocal inovador.
Agora resta esperar pela primeira semi-final do certame, a 13 de maio e perceber como Portugal irá ficar pontuado! Valerá a pena? A ver vamos…