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O Teatro do Medo: A Guerra Como Entretenimento e Desastre Anunciado

Vivemos tempos em que a guerra se tornou o mais caro dos espetáculos. Não faltam palcos: a Ucrânia devastada, os corredores de Washington, os gabinetes do Kremlin, e até os estúdios de televisão, onde comentadores e “especialistas” analisam a carnificina como se fosse um dérbi entre grandes rivais. Uns aplaudem as “jogadas táticas” de Biden, outros discutem as “ameaças nucleares” de Putin com a descontração de quem comenta as transferências de jogadores no mercado de verão. Mas por detrás deste circo mediático está um medo palpável e legítimo: a possibilidade de que esta brincadeira vá longe demais.

Joe Biden, numa pose que mistura o xerife e o piromaniaco, autoriza o envio de armas de longo alcance para a Ucrânia, permitindo que sejam usadas em território russo. Não há dúvidas: isto não é só “defender o amigo”, é meter gasolina na fogueira e ainda dar-lhe uma abanadela para ver o que acontece. Do outro lado, Vladimir Putin, com o seu manual de terror em mãos, insinua que não hesitará em apertar o botão nuclear, lançando ameaças ao estilo “quem brinca com fogo, queima-se”.

Aqui, sentados confortavelmente em frente à televisão, assistimos a tudo como se fosse um reality show de péssimo gosto. Comentadores de fato e gravata explicam as estratégias de guerra com a ligeireza de quem comenta o VAR num jogo da Champions. Generais no ativo e reformados, que deviam estar a cuidar do jardim ou a ensinar xadrez aos netos, mostram-se mais animados do que nunca, explicando como se pode “virar o jogo” a favor de um lado ou do outro. E nós? Nós aceitamos esta normalização do horror, como se tudo fosse inevitável, uma maré que não pode ser travada.

Mas há perguntas que ninguém parece disposto a enfrentar: não seria o momento de falar de paz, de tratados, de negociações? Por que razão esta energia toda, esta vontade bélica, não é canalizada para a diplomacia? É que enquanto eles jogam às “potências mundiais”, nós, o resto do mundo, ficamos a ver o dinheiro queimar em munições, tanques e drones, enquanto milhões passam fome. Se há algo de verdadeiramente nuclear aqui, é o absurdo da desigualdade: armamento de última geração para uns, sopa rala e filas de refugiados para outros.

E Donald Trump? O homem que em tempos prometeu acabar com as guerras, tanto na Ucrânia como no Médio Oriente? Aquele que gritou aos quatro ventos que a América ia deixar de ser “o polícia do mundo”? Bem, talvez tenha sido só mais uma promessa eleitoral, um slogan que ficou tão vazio como os silos de trigo em países devastados. É fácil vender sonhos em campanha, difícil é ter coragem para os concretizar.

Olhando para este panorama, não se pode evitar pensar que a estupidez humana atingiu níveis nucleares. Estamos a brincar com fósforos num armazém de pólvora, e o cheiro a queimado já é evidente. Entre os discursos inflamados dos líderes mundiais e as análises ligeiras dos especialistas, esquecemo-nos de que, se esta guerra escalar, não haverá vencedores. Haverá cinzas.

A história mostra que a guerra, para além de ser uma tragédia humanitária, é sempre uma demonstração de arrogância. É a recusa de admitir que há alternativas, que há mesas onde se podem assinar tratados, que há mãos que se podem apertar. Mas parece que é mais fácil manter o espetáculo. Afinal, parar a guerra não rende audiências, não vende armas e, ao que parece, não alimenta egos inflados.

Resta-nos exigir sensatez, embora este conceito pareça tão exótico quanto a paz nos dias que correm. Porque, no final, continuar a gastar fortunas em armas enquanto o mundo grita de fome não é apenas alarvidade: é um crime. Um crime que todos, de certa forma, permitimos ao mantermos o silêncio.

Por isso, que se ponham os egos de lado e se agarrem as mesas de negociação. Porque a brincar, a brincar, estamos perigosamente perto de transformar este planeta num palco sem audiência, onde a única coisa que resta é o vazio de uma guerra que ninguém poderá comentar.

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Fernando Jesus Pires
Fernando Jesus Pireshttps://oregioes.pt/fotojornalista-fernando-pires-jesus/
Jornalista há 35 anos, trabalhou como enviado especial em Macau, República Popular da China, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Paralelo 38, Espanha, Andorra, França, Marrocos, Argélia, Sahara e Mauritânia.

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