No rescaldo da reportagem televisiva vinda a público no final da semana passada, que envolveu a Câmara Municipal de Idanha-a-Nova num escândalo sem precedentes, começa agora a revelar-se uma teia sinistra de solidariedades e comprometimentos, transversal a todo o executivo liderado por Armindo Jacinto.
Os factos revelados pela peça jornalística em causa resultam de decisões políticas a que não foram alheios os restantes elementos da Câmara Municipal, em particular o vereador a tempo inteiro, João Carlos de Sousa, e a vice-presidente Idalina Costa, já condenada pelo crime de falsificação de assinatura, enquanto gestora de uma IPSS, e que terá inclusivamente validado com a sua firma alguns dos contratos mencionados na reportagem.
O assunto causou grande agitação e tem sido seriamente debatido no seio de alguns sectores mais conservadores do Partido Socialista local, que, a braços com a necessidade de se indicar um nome para entrar na corrida eleitoral autárquica de 2025, afastam a possibilidade de a escolha poder vir a recair em qualquer daqueles nomes, e mesmo em qualquer outro do círculo próximo de Armindo Jacinto. O receio dos socialistas é que ao escândalo mediático se possa seguir um processo judicial que envolva algum dos elementos da equipa liderada por Jacinto. «O candidato tem de ser um elemento com fortes ligações à Idanha e ao PS, mas tem de ser alguém que tenha estado afastado da política local nos últimos anos, e que seja imune a todos estes escândalos.», afirmou fonte do Partido Socialista.
Quem parece estar a tirar proveito do atraso do PS em definir claramente aquele que será o seu candidato, é o Partido Social Democrata, cuja dinâmica sentida nos últimos tempos faz devolver aos militantes e simpatizantes a mesma esperança que, em 1997, os conduziu à conquista da autarquia, justamente em período de fim de ciclo, tal como o que agora se verifica.
Mas se em 1997 o PSD se defrontou com um PS coeso e confiante, herdeiro do forte legado de Joaquim Morão, cuja vasta obra serviu de bandeira durante a campanha, a realidade atual é bem diversa, agravada pela indefinição do PS, o que permite uma esperança redobrada aos sociais-democratas. «Já o conseguimos uma vez, em iguais circunstâncias. Nada nos impede de o conseguir de novo agora», afirmou a O Regiões militante do PSD.
Por seu turno, nesta longa corrida de fundo, quem dá mostras de desorientação e dificuldade em acompanhar a dinâmica de vitória que se faz sentir nas hostes sociais-democratas, é o movimento dos independentes, liderado por José Gameiro. E aquilo que no período pós-eleitoral, que se seguiu a 2021, se apresentou como uma possível alternativa política, não passa agora afinal de um boneco com pés de barro, e de uma pálida imagem daquele tempo, agravada com a recente saída de quadros qualificados do MOV. PT, para engrossar as fileiras do PSD.
Segundo o que o regiões conseguiu apurar, José Gameiro está a sentir enormes dificuldades em conseguir construir uma equipa credível candidata à autarquia, o mesmo sucedendo nas principais freguesias do concelho, caso do Ladoeiro e da Zebreira, localidade em que o último jantar de Natal desta corrida apenas conseguiu reunir perto de 40 apoiantes, entre amigos e familiares.
Segundo fonte ligada a uma freguesia em que o Movimento conseguiu eleger alguns elementos, esta dificuldade pode estar relacionada com a falta de capacidade de liderança política de José Gameiro. «O líder do Mov. PT Nunca esteve connosco para preparar uma reunião da assembleia de freguesia. Nunca fomos convidados para qualquer reunião preparatória de uma Assembleia Municipal, ou qualquer outra, para transmitirmos os problemas da nossa terra. Depois de eleitos, como que nos desprezou, sentimo-nos abandonados, sem saber o que fazer. Agora é que vinha outra vez. Mas desenganou-se.», afirmou com tristeza o ex-simpatizante do MOV.PT.
Posto isto, verifica-se que o teatro político está montado em Idanha-a-Nova. Porém, para se conhecer o verdadeiro cenário, falta ainda subir o pano, o que pode já não demorar muito.