A capital italiana tornou-se, mais uma vez, o centro espiritual do mundo. Após a morte do Papa Francisco, ocorrida na madrugada de segunda-feira, a cidade está tomada por um misto de luto, devoção e expectativa. A Basílica de São Pedro, símbolo máximo da cristandade, transformou-se num altar de despedida, onde milhares de fiéis e líderes mundiais se preparam para dar o último adeus ao pontífice argentino que marcou uma era

Uma Despedida Histórica e Sem Precedentes Recentes
Desde o anúncio do falecimento do Papa Francisco, o fluxo de pessoas rumo ao Vaticano tem sido constante e comovente. Famílias inteiras, religiosos, jovens e idosos – vindos de todos os cantos do mundo – esperam pacientemente horas a fio para ter apenas alguns segundos diante do corpo do Papa. O caixão repousa diante do Altar da Confissão, envolto por um silêncio impressionante, interrompido apenas por orações murmuradas e lágrimas discretas.
Em apenas dois dias, mais de 50 mil pessoas passaram pela basílica. A estimativa é de que esse número ultrapasse os 300 mil até o dia do funeral, marcado para sábado, 26 de abril. O Vaticano, em articulação com as autoridades civis italianas, considera prolongar o horário de visitação noturna, tamanha é a afluência de fiéis.
Francisco: O Papa do Povo
Nascido Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco foi o primeiro pontífice latino-americano e o primeiro jesuíta a liderar a Igreja Católica. Com um estilo pastoral próximo, linguagem simples e gestos simbólicos — como recusar os luxos do Palácio Apostólico e optar por viver na Casa Santa Marta — conquistou o respeito não apenas dos católicos, mas de líderes de diferentes religiões e ideologias. Seu legado é indissociável de sua opção preferencial pelos pobres, da defesa do meio ambiente e do esforço constante por uma Igreja menos clerical e mais misericordiosa.
O seu desejo de um funeral “modesto” — sem pompa, com caixão simples e sepultamento direto na terra — foi respeitado em cada detalhe da organização vaticana. Ainda assim, pela dimensão de sua figura global, o evento tornou-se um dos mais complexos do século em termos logísticos.
Roma Sob Vigilância: Segurança e Diplomacia em Alerta Máximo
A grandiosidade do funeral não se limita ao seu simbolismo espiritual. Com cerca de 150 chefes de Estado e líderes religiosos confirmados — incluindo o presidente francês Emmanuel Macron, o patriarca Bartolomeu I de Constantinopla, o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy e o príncipe William em representação do Reino Unido — a Itália mobilizou uma das maiores operações de segurança da sua história recente.
Mais de 10 mil agentes estarão em ação entre polícia, carabinieri, forças armadas e agentes da Interpol. Drones foram banidos da área vaticana, sistemas de bloqueio de sinais estão ativos e a zona aérea foi parcialmente fechada, com patrulhamento aéreo intensificado. As autoridades temem, não apenas atentados, mas também o risco de pânico e tumultos devido à enorme concentração de pessoas.
Uma Cidade que Respira Devoção
Para os habitantes de Roma, o momento é vivido com emoção e um certo orgulho cívico. Voluntários se juntaram espontaneamente para oferecer água e comida aos peregrinos, muitas lojas penduraram bandeiras do Vaticano em sinal de luto, e igrejas em toda a cidade permanecem abertas em oração contínua.
“É como se estivéssemos a viver um capítulo da história”, diz Francesca, 46 anos, professora de história que levou os filhos pequenos à Praça de São Pedro. “O Papa Francisco era alguém que entendia o coração das pessoas. Estar aqui hoje é quase uma missão.”
E Depois do Adeus?
Após o funeral, o corpo de Francisco será sepultado na cripta da Basílica de São Pedro, próximo aos túmulos de seus predecessores, incluindo João Paulo II e Bento XVI. Em paralelo, começa a contagem decrescente para o Conclave, onde os cardeais eleitores se reunirão para escolher o novo líder da Igreja. A expectativa é de que o processo inicie entre os dias 5 e 10 de maio.
Internamente, há um forte apelo por continuidade das reformas iniciadas por Francisco, especialmente no que toca à transparência financeira, descentralização e valorização das igrejas locais em países do Sul Global, como África, Ásia e América Latina.
Um Pontífice que Mudou a Igreja – e o Mundo
O mundo despede-se de Francisco com admiração. Mais do que um Papa, foi um líder espiritual global em tempos de crise. Do acolhimento aos migrantes à denúncia das injustiças climáticas, Francisco colocou a Igreja no centro dos grandes debates contemporâneos, sem perder a dimensão pastoral e humana. Sua morte abre uma nova página na história da Igreja Católica — uma página ainda em branco, carregada de expectativa e esperança.