O secretário-geral socialista critica o primeiro-ministro por ter desvalorizado o relatório da Inspeção-Geral de Finanças e garante que o PS não vai permitir que a maioria do capital da transportadora seja privatizado. Esta posição de Pedro Nuno Santos surgiu depois de todos os partidos da oposição pedirem a demissão do ministro das Infraestruturas e da Habitação do processo de privatização da TAP.
Pedro Nuno Santos entende que Miguel Pinto Luz não deveria estar a conduzir o processo de privatização da TAP. Referindo-se em concreto a tudo o que aconteceu em 2015, altura em que o então secretário de Estado dos Transportes ajudou a assegurar a venda da companhia aérea a David Neeleman, o socialista vem agora defender que o ministro das Infraestruturas não tem condições políticas para concluir o novo processo de privatização da TAP.
Em declarações aos jornalistas a partir de Miranda do Douro, Pedro Nuno Santos sugeriu que “era muito avisado que o atual ministro das Infraestruturas não conduzisse o processo” de venda da companhia aérea atendendo ao currículo de Pinto Luz nesta matéria. “Não fez um bom trabalho, não é de esperar que faça agora”, atirou o socialista.
O secretário-geral do PS não escondeu ainda a estupefação ao ver Luís Montenegro desvalorizar o relatório da Inspeção-Geral de Finanças (IGF) sobre a venda da TAP a Neeleman, dizendo, entre outras coisas, que foi agora a vez de uma instituição pública e independente concluir que a companhia aérea foi, à falta de melhor expressão, “dada”.
Pedro Nuno Santos aproveitou ainda para deixar um recado ao Governo de Luís Montenegro: o processo de privatização da TAP terá seguramente de passar pelo Parlamento e os socialistas não vão assistir indiferentes à venda da companhia aérea. “O Parlamento não vai permitir a privatização da maioria do capital do TAP. O Governo não vai fazer o que bem entende”, avisou o líder socialista.
Esta posição do líder socialista é partilhada pela maioria dos partidos com assento parlamentar. De facto, na sequência da divulgação do relatório da Inspeção-Geral de Finanças (IGF) às contas da TAP, que aponta para indícios de crime na privatização da companhia aérea em 2015, a oposição acusou Miguel Pinto Luz de falta de idoneidade para gerir o dossiê da venda da transportadora aérea, já que era o secretário de Estado das Infraestruturas na altura da reprivatização ruinosa de há nove anos.
Todos querem ouvir o responsável no Parlamento, assim como Maria Luís Albuquerque, a ministra das Finanças da altura e agora proposta pelo Governo para comissária europeia, e Sérgio Monteiro, que antecedeu Pinto Luz no cargo de secretário de Estado das Infraestruturas. O ministro das Infraestruturas já disse que “vai ao Parlamento as vezes que forem necessárias”. O primeiro-ministro, Luís Montenegro, recusou falar do tema.
Todos querem Pinto Luz ”despedido”
Depois de classificar de “gravíssimo” a relatório da IGF que concluiu que a privatização da TAP ao consórcio Atlantic Gateway, liderado por David Neeleman, a líder da bancada parlamentar do PS, Alexandra Leitão, questionou se “Miguel Pinto Luz tem condições para dirigir uma nova privatização,
quando foi o principal ator de uma privatização que tem graves suspeitas de utilização de dinheiro da TAP para comprar a TAP”.
O Chega vai votar a favor de uma audição do ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz, na Assembleia da República, argumentando que “os portugueses precisam de saber” em que condições é que a reprivatização da TAP foi feita. “O negócio foi uma trapalhada”, salientou Pedro Pinto. Para o líder da bancada do Chega, o atual governante está numa situação “muito débil” e acusou Luís Montenegro de se ter “posto a jeito” quando decidiu convidar Pinto Luz para integrar o novo Governo.
Para a coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, o ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz, “não tem idoneidade para gerir o dossiê da TAP”, tendo em conta que foi “cúmplice do assalto” à companhia aérea na privatização “ruinosa” de 2015, uma vez que na altura era secretário de Estado das Infraestruturas. E pergunta ao primeiro-ministro “o que vai fazer com este ativo tóxico do Governo”.
“A operação de privatização da TAP foi tudo menos transparente e bem-sucedida, e Miguel Pinto Luz sabe disso. é por isso que agora se esconde atrás do primeiro-ministro. Cabe agora ao primeiro-ministro decidir o que fazer com este ativo tóxico do Governo, o que vai Luís Montenegro fazer com Miguel Pinto Luz, que é o maior ativo tóxico que este Governo tem e que foi responsável por uma privatização ruinosa no passado”, atirou Mortágua.
Cabe ao primeiro-ministro decidir o que fazer (…) com Miguel Pinto Luz, que é o maior ativo tóxico que este Governo tem e que foi responsável por uma privatização ruinosa no passado.
O BE vai chamar Miguel Pinto Luz ao Parlamento para prestar esclarecimentos. O partido vai propor um debate sobre a situação na TAP, na comissão permanente do próximo dia 11 de setembro, com a presença do ministro das Infraestruturas e da Habitação.
A líder do grupo parlamentar do PCP, Paula Santos, lembrou que, nesse dia, já estava prevista a audição da antiga ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque a propósito da privatização da ANA. “Vamos propor que a audição seja alargada ao processo de privatização da TAP”, anunciou a deputada.
O Livre vai chamar “os responsáveis políticos” pelo negócio da venda da companhia aérea, em 2015. “Isto parece bastante grave, por isso apresentámos um requerimento para ouvir, com urgência, Maria Luís Albuquerque, Sérgio Monteiro e Miguel Pinto Luz”, indicou a líder da bancada, Isabel Mendes Lopes.
O PAN também apresentou no Parlamento um requerimento para que o antigo secretário de Estado, Sérgio Monteiro, o atual ministro das Finanças, Miranda Sarmento e o antigo presidente da Parpública, José Realinho de Matos sejam ouvidos na Assembleia da República. Para Inês Sousa Real, é “fundamental que todos os esclarecimentos sejam prestados” e recusa que alguém “fique acima da legislação”.