O Regiões, um farol, uma lufada de ar fresco de Jorge Azinheiro
Tendo sido bafejado por um bambúrrio, beneficiado directo de uma tragédia, o vivaço gerente da caixa e ex-balconista de uma família de comerciantes da terra natal, ei-lo alcandorado a indispensável do toni da onu, na época senhor todo o poderoso do distrito. Era presidente de uma autarquia, tipo importante que todos procuravam. Sor presidente, se me puder fazer este favor, sor presidente precisava de chegar à horta com o carro e os penedos não deixam, sor presidente presidente de ajuda.
A todos respondia positivamente, mesmo quando anotava os nomes e os problemas numa folha de papel, que o dono do tasco convertido momentaneamente numa reunião de todos os pedintes com o sor presidente, e chegado uns bons metros à frente amarrotava o dito papel com toda a informação e o deitava fora. Tempos depois aparecia a obra, ou parte dela, e todos se reviam na concretização do pedido e na facilidade de contacto. Tudo fluía.
Bambúrrio seguinte; aparecimento de fundos comunitários em barda. O saneamento, o abastecimento de água ao domicilio, antes uma quimera era realizado, buracos e actividade por todo o lado.
O saneamento, o abastecimento de água ao domicilio, antes uma quimera era realizado, buracos e actividade por todo o lado.
Apesar deste frenesim, a juventude debandava em números homéricos: milhares por ano. Não se fixava. Nascia o eucalipto e as ligações várias, a corrupção germinava no seu estado mais puro, o partido começava a galopar pela mão do jovem tenente José Sócrates.
O método era simples: obras, muitas, inflação dos custos, diferença paga em envelopes que iam uma parte para os bolsos dos angariadores outra parte para o partido.
O chequim era o angariador-mor. Arregimenta ele próprio um exército de fiéis, que o seguem e fazem tudo o que diz, perspectivando serem beneficiários futuros desta súbita abundância e sobretudo da circulação fácil dos envelopes.
Neste intróito, forjou uma aliança com um cacique do partido contrário. Objectivo: afastar os empecilhos. Assim foi. Criou-se um jornal onde, com dinheiros de “empresários” se discutia, isto é, se noticiava a vida da capital, obviamente falando de meias-verdades, emporcalhando o líder que se pretendia afastar. Processo, por denúncias. Afastamento e ocupação.
Mudou-se para a capital.
Nasceram os jaquinzinhos só descobertos, pelo óbito do sogro.
Casas, lojas, garagens, ouro, eis a colecção.
Quem o substituiu, os melhor, quem ele indicou, comprava casas com dinheiro vivo, fruto do mesmo esquema.
Quando o chequim se muda para a capital do país, o método tornou-se mais grandioso: havia muitas eleições para ganhar, havia muitas obras a fazer, a gerir e sobretudo a criar oportunidades. Unha com carne com o Salgado, tudo forjado pela ligação na Fonte Santa, ei-lo dono e senhor do baú. Dinheiro a rodos.
Descoberto, ei-lo arguido, mais perto de ser réu que arguido, o gémeo do partido contrário, agora rico vai ajudá-lo.
Os processos rolam, rolam e nada.
Na terra de origem, está tudo contaminado, todos emporcalhados e cheios de processos.