Qual foi o meu espanto ao descobrir que uma meia dúzia de figurantes da região de Castelo Branco têm a nobre tarefa de vigiar atentamente as notícias dos órgãos de comunicação social. Estes vigilantes das redes sociais, principalmente no Facebook, já ostentam com orgulho a insígnia de “fãs”. Contudo, a sua presença constante, faça chuva ou faça sol, levanta algumas questões inquietantes
Dizem que os comentários nas redes sociais são a nova praça pública, mas em Castelo Branco, parece que se tornaram um segundo emprego. Entre funcionários públicos e trabalhadores do setor privado, há quem dedique mais tempo ao Facebook do que às suas reais responsabilidades laborais. Ora, é aqui que a “porca” torce o rabo. Como pode alguém, supostamente empregado para servir a comunidade ou uma empresa, passar horas a fio na internet em plena jornada de trabalho?
No setor privado, o prejuízo é direto. O desempenho destes «comendadeiros» em horário de trabalho pode levar uma empresa à falência. A sua falta de conduta e responsabilidade ao não executarem as tarefas para as quais são pagos coloca em risco contratos fundamentais, aqueles que garantem os salários e impostos da própria empresa. Nestes casos, a irresponsabilidade pode até justificar responsabilização legal, pois os danos causados pela negligência não são apenas teóricos, mas reais e palpáveis.
Para os funcionários públicos, a situação é ainda mais grave. A inércia e a incapacidade repercutem-se diretamente na eficiência dos serviços que deveriam prestar à comunidade. Pior ainda, são pagos por todos nós, os contribuintes. Em vez de abdicarem dos seus postos de trabalho para alguém que realmente queira e mereça trabalhar a sério, preferem continuar a sua carreira de críticos e influenciadores medíocres.
Estes profissionais do comentário digital transformaram as redes sociais no seu palco. Com a produção incessante de opiniões, muitas vezes desprovidas de substância, o trabalho pelo qual são remunerados inevitavelmente fica para trás. Talvez, o mais sensato seria estes aficionados do Facebook candidatarem-se a um emprego na Meta. Lá, poderiam estar conectados 24 horas por dia, vivendo o seu sonho de comentar cada minúcia que surge no feed. Para além de fãs, tornar-se-iam as estrelas do Facebook, finalmente no seu habitat natural.
Outro aspeto preocupante é a ignorância patente destes «comendadeiros» sobre o processo de edição jornalística. Muitos não sabem sequer o que é um “editorial”. Com toda a sua destreza digital, poderiam ao menos pesquisar e entender que um editorial representa a opinião oficial de um órgão de comunicação social. Em casos onde as matérias do jornal contêm uma carga opinativa forte mas não são separadas como editoriais, trata-se de jornalismo de opinião. Esta falta de compreensão básica resulta em comentários desinformados (estes nem destreza intelectual têm para interpretar uma leitura básica como a publicação do Borda d´água) e, frequentemente, ridículos.
Mas a comédia não termina aqui. Estes «comendadeiros» profissionais estão ativos durante o horário de trabalho, dia após dia. Não são aqueles que, após um longo dia de trabalho, relaxam com uma conversa nas redes sociais. Não, estes são viciados na atenção virtual, contando os “likes” como se fossem comprimidos essenciais para uma boa noite de sono. Nas ruas de Castelo Branco, caminham como estrelas andantes, alimentando o ego com a notoriedade que os seus pobres comentários lhes proporcionam.
Faça sol ou faça chuva, lá estão eles, os reis do comentário. Estes “fans” do Facebook, que tanto se gabam das suas façanhas digitais, não percebem que se tornaram tema de chacota. Na esplanada, os seus nomes surgem não pelos feitos grandiosos, mas pela infelicidade dos seus comentários. Contudo, na sua bolha de autoengano, continuam a acreditar que são essenciais ao debate público.
Em resumo, enquanto Castelo Branco precisa de trabalhadores dedicados e competentes, estes figurantes preferem viver no reino ilusório das redes sociais. E assim, a vida real fica em suspenso, à espera que um dia os reis do comentário desçam do seu trono digital e voltem ao trabalho que realmente importa.