O secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), Mário Nogueira, já confirmou que não se vai recandidatar ao cargo nas eleições que se realizam durante o congresso nacional, nos dias 16 e 17 maio, em Lisboa, deixando a liderança da federação após 18 anos. Os dois atuais secretários-gerais adjuntos da Fenprof são os candidatos a sucessores de Mário Nogueira, que deverá passar a ter dois dirigentes. A lista, que será proposta no 15.º Congresso, foi aprovada por unanimidade e tem como futuros líderes Francisco Gonçalves, do sindicato de professores do Norte, e José Feliciano Costa, do sindicato de Lisboa.
Pelos 42 anos de história, pelas longas e duras lutas que travou com mais de duas dezenas de ministros da Educação e/ou Ensino Superior, pelo número de filiados que tem — com uma das maiores taxas de sindicalização, se não mesmo a maior, dentro do universo da CGTP —, a Fenprof (Federação Nacional dos Professores) é uma das organizações sindicais mais reconhecidas em Portugal. Mas o facto de ter sido liderada durante os últimos 18 anos por Mário Nogueira, figura que se tornou incontornável no sector da Educação, também não será alheio à sua notoriedade.
Ao fim de quase duas décadas, o histórico sindicalista vai deixar o cargo de secretário-geral da Federação e passará a pasta não apenas a um, mas aos dois homens que, nos últimos três anos, têm assumido o cargo de secretário-geral-adjunto e a preparar-se para a transição.
Com 67 anos, o rosto incontornável da luta dos professores vai reformar-se e não se recandidata ao cargo de secretário-geral nas eleições que se realizam durante o Congresso Nacional de Professores, que decorre a 16 e 17 de maio.
Na liderança da Fenprof desde 2007, o atual secretário-geral já tinha admitido que o congresso poderá ser “um momento de renovação dos quadros”, garantindo que se manterá na federação. “Jamais era capaz de abandonar a Fenprof”, afirmou, acrescentando que, quanto à liderança, “é o momento próprio de sair”.
“Foram 18 anos muito bem acompanhado. Se não fossem os meus camaradas dos sindicatos e das coordenações, não tínhamos feito o que fizemos. Alguém tem de dar a cara, mas o trabalho é coletivo”, afirmou.
A 3 de março, em declarações ao DN, Mário Nogueita tinha negado que já tivesse decidido sobre a sua saída, lembrando na altura que a discussão ainda não tinha sido feita.
Filho único, Mário Nogueira nasceu em Tomar a 11 em janeiro de 1958 e foi aí que conclui o curso liceal. No magistério, em Coimbra, desenvolveu o interesse pelo cinema francês e pela política. Ao segundo, deu seguimento prático: foi deputado na Assembleia Municipal de Coimbra e, durante 17 anos, dirigente da Associação Académica de Coimbra, terminando o curso em 1978/79, com posterior licenciatura em Educação Especial.
Apoiante da primeira candidatura presidencial de Otelo Saraiva de Carvalho e dos Grupos Dinamizadores de Unidade Popular, frente que juntou UDP, MES, FSP e PRP, aderiu à União dos Estudantes Comunistas (UEC) em 1977.
Trinta anos depois, tornar-se–ia o amado e muito odiado secretário-geral da Fenprof. É assim há 18 anos. Assim deixará de ser já próximo congresso da federação (Lisboa, 16 e 17 maio de 2025).
Direcção colegial
Os dois atuais secretários-gerais adjuntos da Fenprof são os candidatos à liderança deste sindicato, que deverá passar a ter dois dirigentes, numa “liderança colegial” com um programa de continuidade.
José Feliciano Costa, secretário-geral adjunto da Fenprof e presidente do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa, é apontado com um dos possíveis sucessores de Mário Nogueira, tal como Francisco Gonçalves, também coordenador do Sindicato dos Professores do Norte há quatro anos.
A lista, que será proposta no 15.º congresso, foi aprovada por unanimidade e tem como futuros líderes Francisco Gonçalves, do sindicato de professores do Norte e que pertence ao agrupamento Gonçalo Mendes da Maia, na Maia, e José Feliciano Costa, do sindicato de Lisboa e do Agrupamento de José Afonso, na Moita.
O próximo secretariado nacional da Fenprof “vai manter um modelo colegial”, revelou Mário Nogueira, explicando que os atuais secretários-gerais adjuntos serão assim os dois nomes propostos para eleição no congresso que se realiza de maio.
Na lista do secretariado da Fenprof, o Conselho Nacional da Fenprof “deverá continuar a ser dirigido por uma professora: a Anabela Sotaia”, do sindicato da região centro e um rosto da CGTP.
O Congresso é o órgão que elege os órgãos da direção, mas servirá também para aprovar um programa de ação para o novo mandato que se iniciará a 18 de maio, assim como uma resolução para a ação reivindicativa, com os objetivos que irão perseguir no próximo mandato e o que irão “fazer no futuro mais próximo”, explicou Mário Nogueira.
O secretário-geral avançou já com alguns dos temas que serão alvo de debate, como a revisão do estatuto da carreira docente, as carreiras dos professores do ensino superior, os problemas que se vivem no ensino particular e cooperativo ou a questão dos aposentados.
Também serão aprovadas moções, que não serão alheias à vida dos docentes e sindicatos, “como a questão da paz”, o ambiente e as questões climáticas ou “a necessidade de inclusão de todos, que pode ser a deficiência, os imigrantes, os refugiados ou quem por questão de género tem um identidade diferente” e a defesa da democracia.
O 15.º congresso realiza-se dois dias antes das eleições legislativas: “É melhor assim, porque não sabemos ainda os resultados das eleições nem o Governo que vai resultar, mas sabemos que, seja ele qual for, o caderno reivindicativo dos professores não vai mudar”.
O Congresso realiza-se em Lisboa com mais de meio milhar de delegados, dos quais 76,3% foram eleitos pelos professores, em reuniões nas escolas, salientou Mário Nogueira.
O encontro vai reunir docentes de todo o mundo, até porque na Fenprof “não há espaço para a extrema-direita, discursos de ódio ou intolerância”, salientou o ainda líder da maior estrutura sindical representativa de professores.
Na véspera do Congresso vai realizar-se um seminário internacional na sede da Fenprof.