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Papa Francisco e a Paz na Ucrânia: uma última saudação ao Papa Francisco

Trump não é flor que se cheire! Mentiroso, decisões precipitadas, gabarolas. Mas como só pensa em negócios, evita guerras que não sejam comerciais, já o sabemos. Pouco ou nada faz para terminar com o genocídio em Gaza, uma vez que a pressão dos judeus americanos é grande no sentido de continuar a apoiar Netanyahu, além de que continua com o sonho da Riviera no Oriente

Contudo, está mesmo a tentar encontrar um acordo para parar a guerra na Ucrânia, não quer gastar mais tempo e dinheiro neste conflito, o seu principal inimigo é o poderio económico da China. Já foram várias as propostas dos EUA às partes em conflito, Rússia e Ucrânia, enquanto a Europa pouco ou nada faz para intervir, de forma construtiva, neste processo de tentativa de acordo. Lembrando as palavras de Papa Francisco, que em 2022 afirmou que “a NATO foi ladrar à porta da Rússia” e numa entrevista à televisão pública Rádio Televisão Suíça, em 20 de março de 2024, clamou que “é necessário acabar com esta loucura!”, adiantando ainda que não é “vergonha negociar antes que as coisas piorem”.

 Zelenski não gostou da participação de Francisco na Vía Crucis em 2023, em que uma mulher ucraniana e outra russa ergueram a cruz como mensagem de paz e reconciliação entre os dois países. Acresce que Francisco alertou que “não é possível haver paz sem um verdadeiro desarmamento”, na sua última mensagem, que foi dirigida “a todos os que, no mundo, têm responsabilidades políticas para que não cedam à lógica do medo”. Não foi por acaso que o Papa disse o que disse. Pensamos ser boa altura para recordar, resumidamente, como chegámos a este terrível conflito.

Quando a URSS se desmembrou, o mundo tornou-se unipolar, com os EUA e aliados a “mandarem no mundo”. Foram criadas fronteiras decididas pelos países que saíram vitoriosos do fim da “guerra fria”, criando soberanias que passaram ser constituintes do Direito Internacional. Os EUA e a Europa planearam expandir a OTAN em 1992, logo após o colapso da União Soviética. Apesar de prometer à Rússia que a OTAN não se expandiria para o leste, os EUA continuaram a adicionar novos membros. Essa expansão foi vista como uma estratégia para cercar a Rússia, especialmente na região do Mar Negro. Putin alertou o Ocidente, em 2007, sobre a expansão da OTAN para o leste. Em 2008, ele disse diretamente aos EUA que entrada da Ucrânia e da Geórgia na OTAN era inaceitável. Os EUA ignoraram as preocupações da Rússia, apesar dos alertas internos (exemplo: um memorando do diretor da CIA, William Burns). Os EUA apoiaram, em 2014, a derrubada do presidente ucraniano Yanukovich. As potências ocidentais rapidamente reconheceram o novo governo, ignorando acordos anteriores. Isso levou à anexação da Crimeia e ao conflito no leste da Ucrânia. A Rússia procurou uma solução diplomática por meio dos Acordos de Minsk.

Nações ocidentais, incluindo a Ucrânia, supostamente nunca tiveram intenção de cumprir os acordos. O Conselho de Segurança da ONU apoiou o Minsk 2, mas a grande média ocidental praticamente ignorou isso. O governo Biden adotou uma postura mais agressiva ao insistir na expansão da OTAN. Em 2021, os EUA afirmaram explicitamente que a Ucrânia se tornaria membro da OTAN. Putin propôs um acordo de segurança para impedir essa expansão, mas os EUA recusaram. Zelensky considerou inicialmente a neutralidade no início de março de 2022. As negociações mediadas pela Turquia estavam perto de um acordo de paz. Os EUA e o Reino Unido terão bloqueado o acordo, para continuar a enfraquecer a Rússia.

Goste-se ou não, o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán é um dos poucos líderes europeus que criticam abertamente as ações da OTAN. Outros líderes europeus expressam preocupações em particular, mas publicamente seguem a linha dos EUA. Muitos líderes fora do Ocidente (por exemplo, China, Índia, Brasil) defendem uma solução diplomática. Eles rejeitam a ideia de que a OTAN tem o direito de se expandir às custas da estabilidade global. O termo “invasão não provocada” é repetido frequentemente, sem considerar eventos anteriores e tornando-se assim uma falsa afirmação por omissão propositada.

Ao invadir a Ucrânia, a Russia foi contra o Direito Internacional. Tentámos mostrar as razões para tal ter acontecido. Não foi a primeira vez que países poderosos o fazem, veja-se o que aconteceu no Iraque, na Siria e no Afeganistão, mas também no Kosovo, na anexação do Sahara Ocidental por Marrocos e dos Montes Golans por Israel. Principalmente os EUA, com o apoio do tal Ocidente Alargado, invadem, alteram regimes, com a justificação de que está a defender “o mundo livre”, assim adaptando o Direito Internacional aos seus interesses.

Uma coisa é certa: nenhum país aceitaria ficar rodeado de armas, algumas nucleares, contra si apontadas ameaçadoramente. Em 1961 os EUA tentaram invadir Cuba quando existiu a hipótese da URSS colocar armas nucleares na República dirigida por Fidel de Castro. E a solução, depois de um longo período de tensas negociações, foi alcançado num entendimento entre Kennedy e Kruschev.

A guerra não acabará se a intenção apenas passar por continuar apostar no rearmamento da Europa. Meros devaneios de quem teme a irreversível Nova Ordem Internacional, onde outros países participarão de forma atuante. Já por várias vezes me referi a esta realidade. Acredito que a Rússia apenas deseja a neutralidade da Ucrânia, o respeito pelos direitos culturais da população de língua russa da Ucrânia e um acordo de segurança em toda a Europa. Se for conseguido um acordo com os russos em torno de um pacto de segurança global, não haverá lugar para uma OTAN e muitas guerras serão evitadas. E, estou certo, a China entrará neste jogo, pois também não deseja a guerra, nem sequer económica.

Escrevo esta crónica no dia do funeral de Francisco. Termino com mais palavras suas: “para o fim das guerras, a verdadeira resposta não são mais armas, mais sanções, mais alianças político-militares, mas sim um foco diferente, uma forma diferente de governar o mundo, agora globalizado, e de configurar as relações internacionais”. Tenhamos esperança que se consiga a paz! E as guerras terminam com a correlação de forças existente no terreno: quanto mais tempo se adiar a paz, em pior situação ficam os ucranianos.

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Joaquim Correia
Joaquim Correia
“É com prazer que passo a colaborar no jornal Regiões, até porque percebo que o conceito de “regiões” tem aqui um sentido abrangente e não meramente nacional, incluÍndo o resto do mundo. Será nessa perspectiva que tentarei contar algumas histórias.” Estudou em Portugal e Angola, onde também prestou Serviço Militar. Viveu 11 anos em Macau, ponto de partida para conhecer o Oriente. Licenciatura em Direito, tendo praticado advocacia Pós-Graduação em Ciências Documentais, tendo lecionado na Universidade de Macau. É autor de diversos trabalhos ligados à investigação, particularmente no campo musical

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