A Polícia Judiciária (PJ) identificou cinco adolescentes em Odivelas, Vila Nova de Gaia, Leiria e Aveiro que lançaram ameaças nas redes sociais sobre potenciais ataques a escolas “por brincadeira”, revelou fonte daquela polícia. Mas, apesar de se ter comprovado que tudo não passava de uma brincadeira, a PSP apela a qualquer pessoa que detecte “algum problema ou uma simples movimentação suspeita” nas proximidades dos estabelecimentos de ensino para que contacte as autoridades.

A Polícia Judiciária (PJ) identificou vários menores como os autores das ameaças que surgiram nas redes sociais relativas a potenciais ataques a escolas, revelou hoje aquela polícia, adiantando que “foram identificados cinco jovens, com idades de 14, 15 e 16 anos, em Odivelas, Leiria, Aveiro e Vila Nova de Gaia que estiveram envolvidos nas ameaças de ataques a escolas através das redes sociais, alguns com problemas psicológicos e com famílias complicadas”.
O coordenador da Unidade Nacional Contra Terrorismo da PJ, Alves da Cunha, refere que os jovens, que assumiram a autoria das publicações nas redes sociais, disseram à polícia que não tinham noção da dimensão e do impacto das ameaças e que “foi apenas uma brincadeira”.
As ameaças de ataques a escolas começaram na semana passada e preocuparam a PJ, porque continham fotos de armas e foram rapidamente partilhadas milhares de vezes, acrescentou Alves da Cunha. Mas, “durante a investigação constatou-se que eram fotos retiradas da internet, o que só por si esvazia bastante o grau de ameaça”, contou o coordenador.
A Judiciária recorreu a diligências de cooperação policial internacional e ao Instagram, onde foram publicadas as primeiras mensagens, e a partir daí foi possível localizar o primeiro autor, um jovem de 14 anos de Odivelas que foi interrogado, tal como a mãe.
“Esta primeira ameaça criou um enorme alarme social e daí estar em causa o crime de ameaça contra a paz pública”, referiu Alves da Cunha adiantando que o processo já está no Ministério Público do tribunal de família e menores e na comissão de proteção de crianças e jovens de Odivelas.
Segundo o coordenador, a PJ monitoriza diariamente as redes sociais, numa perspetiva de prevenção para que estes “fenómenos miméticos” ou crimes de ódio ou incitamento ao mesmo “sejam rapidamente estancados”, evitando assim o alarme social.
Em comunicado a polícia tinha adiantado que não há quaisquer indícios da radicalização ou extremismo destes jovens e que estas situações terão ocorrido na sequência de publicações na rede social Tik Tok, com origem no estrangeiro, onde é feita alusão ao massacre de Columbine, nos Estados Unidos, ocorrido há 24 anos.
Recorde-se que, em 20 de abril de 1999, os estudantes Eric Harris e Dylan Klebold invadiram o colégio Columbine High School, na cidade de Littleton, no Colorado, Estados Unidos, e abriram fogo contra alunos e funcionários. Após matarem 12 colegas de classe e um professor e ferido 23 pessoas, os jovens cometeram suicídio.
Perante o aproximar da data do aniversário deste massacre, a PJ e a PSP tem monitorizado algumas ameaças que têm surgido nas redes sociais e que dão conta da possibilidade de ataques em escolas da área de Lisboa esta quinta-feira, dia em que se completam 23 anos desde a chacina na escola de Columbine, nos EUA .
Em caso de suspeita contacte PSP
Em comunicado, a Direção Nacional da PSP fez saber que está a trabalhar com as escolas e com a população escolar. “Apelamos a que qualquer pessoa que tenha acesso a informação adicional (por exemplo, pessoas envolvidas na difusão destes conteúdos) contacte de imediato a PSP”.
A policia pede ainda a quem, “nos estabelecimentos de ensino” detetar “algum problema ou uma simples movimentação suspeita” contacte de imediato a PSP, “preferencialmente a equipa de polícias da Escola Segura da área”.
Num outro comunicado, a PSP recorda que, na semana passada, “foi confrontada com a publicação de mensagens nas redes sociais, onde se divulgava uma ação de invasão de uma escola do concelho de Odivelas, com recurso a armas de brancas e de fogo”. De imediato, foram “desencadeadas diligências para averiguar a veracidade das referidas mensagens”, sendo que os factos foram participados ao Ministério Público, “sem prejuízo do contacto estabelecido com as direções dessas escolas, no sentido informar que a PSP está empenhada em garantir a segurança escolar, como diariamente o faz, através do seu policiamento de proximidade efetuado pelas equipas da Escola Segura”.
Embora existam “indivíduos identificados e a serem acompanhados pelas autoridades competentes, a PSP encontra-se a monitorizar a situação em apreço e está a acompanhar o funcionamento dos estabelecimentos de ensino e a população escolar”, salienta a polícia na nota divulgada.
Hugo Costeira, presidente do Observatório de Segurança Interna, defendeu, em entrevista esta quinta-feira à Rádio Observador, que, “este género de brincadeira, a ser brincadeira, é de mau gosto e roça claramente um espírito criminal”, explicando que as autoridades não podem ignorar as ameaças, até porque o “histórico” confirma que, em casos como estes, é habitual que se façam avisos de antemão.
Brincadeira de mau gosto
“Muitas vezes, quem quer cometer este género de crimes faz ameaças online e depois acaba por concretizá-los. Todas estas mensagens têm obrigatoriamente de ser valorizadas”, diz Hugo Costeira, não descartando a hipótese que considera mais provável, que é a de que tudo não passe mesmo de uma “brincadeira de mau gosto”. “Ajudava que houvesse condenações exemplares e que as pessoas aprendessem que nas redes sociais há coisas com que não se pode brincar e que há consequências”, defendeu.
No comunicado, a Polícia de Segurança Pública esclarece que tem estado a receber, “por intermédio das redes sociais”, informações “por parte de diversos cidadãos que entenderam, e bem, confirmar que a PSP se encontra a par do assunto”. E, por se tratar de um assunto que está a gerar preocupação, a PSP deixou alguns conselhos de como agir.
“A PSP apela para que se mantenha o clima de serenidade e que se garanta a normalidade das atividades escolares”, pode ler-se no documento.
A PSP recorda, também em comunicado, que entre as emergências que devem ser reportadas via 112, estão as situações que envolvam pessoas em risco de vida/necessidade imediata de assistência médica, crimes a decorrer ou que acabaram de acontecer no momento da chamada, incidentes graves (inundações, aluimentos, incêndios florestais, acidentes rodoviários graves ou que impliquem risco para a circulação) e ainda a descoberta de crianças e seniores perdidos, nomeadamente aderentes aos programas da PSP Estou Aqui Crianças e Estou Aqui Adultos, para comunicar a sua localização e número da pulseira.