Apoiantes de um movimento de extrema-direita inglês acreditam que o autor do ataque com faca que matou três crianças, segunda-feira, é muçulmano. Decidiram, pois, invadir a vigília de homenagem às vítimas. Atacaram a mesquita, atiraram tijolos aos polícias, danificaram carros e “insultaram a comunidade que está de luto”, nas palavras condenatórias do primeiro-ministro britânico.
Apoiantes da Liga de Defesa inglesa, movimento de extrema-direita e anti-islâmico, atacaram a mesquita onde decorria uma vigília pela morte das três crianças esfaqueadas num evento de dança, em Southport, localidade costeira no norte de Inglaterra, perto de Liverpool. A possível relação? Especulações feitas nas redes sociais de que o atacante era muçulmano e migrante.
Três meninas com seis, sete e nove anos — a mais velha era portuguesa — foram mortas, segunda-feira, num ataque com faca, enquanto participavam numa festa numa escola de dança inspirado pela cantora Taylor Swift, para crianças entre os seis e os 11 anos. Outros oito menores e dois adultos ficaram feridos. O autor do esfaqueamento é um adolescente de 17 anos, que foi detido pela polícia no local, e cuja identificação não pode ser revelada por motivos legais.
Quase 40 polícias ficaram feridos na terça-feira à noite devido a distúrbios violentos em Southport, no noroeste da Inglaterra, no final de uma vigília pela morte de três crianças num esfaqueamento num parque recreativo, informaram esta quarta-feira as autoridades.
“Atendemos 39 pacientes no total, todos polícias: 27 foram levados para o hospital e 12 foram atendidos e tiveram alta no local”, informou, em comunicado, o Serviço de Ambulâncias inglês. Dos polícias feridos, oito sofreram ferimentos graves, incluindo fraturas, enquanto outros sofreram ferimentos na cabeça e no rosto, disseram as autoridades.
A polícia de Merseyside, no noroeste da Inglaterra, admitiu que os envolvidos nos desacatos podem ser apoiantes da Liga de Defesa Inglesa de extrema direita. Foram incendiados carros, atirados tijolos a uma mesquita local, danificada uma loja e ateado fogo a caixotes de lixo.
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, disse que a população de Southport está chocada com “o horror” da situação que ocorreu na segunda-feira.
“As vítimas e famílias merecem o nosso apoio e o nosso respeito. Aqueles que sequestraram a vigília pelas vítimas com violência e brutalidade insultaram a comunidade no seu luto”, escreveu hoje Starmer na rede social X.
Já o vice-comissário da Polícia de Merseyside, Alex Goss, disse que os seus agentes enfrentaram “violência grave em Southport” e “infelizmente, os agressores destruíram muros de jardins para conseguir usar tijolos e atacar a polícia”.
“Esta não é a forma de tratar uma comunidade, especialmente uma comunidade que ainda está a recuperar dos acontecimentos de segunda-feira”, acrescentou Goss em declarações à imprensa local.
A agitação ocorreu após um ataque com faca em Southport, na segunda-feira, num centro de férias com o tema de Taylor Swift. No ataque, Alice Dasilva Aguiar, de nove anos, Bebe King, de seis, e Elsie Dot Stancombe, de sete, morreram após ficarem gravemente feridas.
Com o Reino Unido a preparar-se para uma segunda noite de tumultos, a polícia londrina foi forçada a usar equipamento antimotim junto a Downing Street, residência oficial do primeiro-ministro, para controlar a multidão liderada por vários elementos ligados a movimentos de direita radical. Os protestantes usaram artefactos pirotécnicos e arremessaram latas contra os agentes e tentaram furar o bloqueio da polícia de choque em frente à Downing Street.
Muitos dos participantes no protesto, designado de Enough is Enough, usavam bonés vermelhos com os dizeres “Make Britain Great Again” – uma referência ao movimento “Make America Great Again” de Donald Trump. Outros vestiam camisolas com referências e imagens do fundador da Liga de Defesa Inglesa, Tommy Robinson, e do líder do Reform UK, Nigel Farage.
Ente os gritos de ordem estavam também frases como “Governem a Britânia”, “salvem as nossas crianças” e “parem os barcos”, num posicionamento anti-imigração que foi inflamado pelas falsas alegações de que o atacante (um menor, de 17 anos) que matou as três meninas e feriu outras oito (cinco delas com gravidade) seria um requerente de asilo.
Estes protestos ocorreram depois de uma noite bastante violenta em Southport – cidade de Merseyside, no noroeste de Inglaterra, onde ocorreu o ataque – na qual cerca de 53 polícias ficaram feridos na sequência dos tumultos que a polícia atribui a apoiantes do grupo de extrema direita Liga de Defesa inglesa.