Governo Prepara-se para vender Tap ao desbarato
Após ter financiado, em 2015, a compra da TAP pela Atlantic Gateway com dinheiros públicos, o Governo anunciou que vai avançar com o processo de privatização da TAP, ponderando ficar com 10% a 20% do capital para ter presença no conselho de administração e capacidade de intervenção em questões de interesse nacional. Mas, a Comissão de Trabalhadores da transportadora aérea já desmentiu essa intenção governamental e anunciou várias formas de luta “para evitar a privatização” e a “defesa e a melhoria das condições laborais” dos trabalhadores.
A Comissão de Trabalhadores (CT) da TAP convocou um Plenário Geral na quarta-feira (15 de fevereiro), sobre a privatização, a que se opõe, seguida de uma marcha até ao aeroporto, anunciou esta a coordenadora, Cristina Carrilho.
Segundo confidenciam algumas fontes, os trabalhadores querem evitar, desta forma, que o Governo volte a privatizar a TAP com dinheiros da própria empresa, recordando que, em 2015, terá sido a própria TAP, com capital público, e não o consórcio privado formado por David Neeleman e por Humberto Pedrosa, a Atlantic Gateway, quem suportou o custo da capitalização da companhia no âmbito da privatização, no montante de 226,75 milhões de dólares (211,15 milhões de euros ao câmbio actual), e que constituíram o pilar do negócio
“Por uma TAP pública ao serviço do país e dos portugueses, os de cá de dentro e os de lá de fora”, é o mote do Plenário Geral de trabalhadores que, na perspetiva de Cristina Carrilho, vai servir para fazer “uma avaliação do que se está a passar na empresa, agora com a privatização em cima da mesa”. “A Comissão de Trabalhadores da TAP sempre defendeu a TAP pública e, portanto, vamos falar sobre este assunto, debatê-lo com os trabalhadores e definir formas de tentarmos evitar essa privatização”, afirmou Cristina Carrilho.
Para a CT, a finalidade do plano de reestruturação a que a companhia aérea está a ser sujeita é torná-la viável e rentável e se tal for alcançado com uma gestão pública, não há necessidade de privatizar.
O mesmo defendem algumas fontes contactadas pelo O Regiões que recordam “a má experiência do consórcio Gateway”, liderado por Humberto Pedrosa e David Neeleman, lembrando que “todas as privatizações que foram tentadas na TAP correram sempre muito mal e, se não fosse o Estado a pôr a mão, a TAP já tinha desaparecido há algum tempo”.
A coordenadora da Comissão de Trabalhadores, que diz não saber o ponto em que se encontra o processo de privatização, “se a empresa for comprada, e o que tem sido dito na comunicação social é que será uma companhia aérea multinacional, que tem os seus ‘hubs’ (centro de conexão) no sítio onde operam e, por exemplo, se for a IAG [Iberia-British Airways], há aqui Barcelona, há Madrid aqui mesmo ao lado e, portanto, poderá o ‘hub’ ser desviado para uma dessas cidades”, apontou Cristina Carrilho.
Para a CT, esta é uma situação que “vai afetar, com certeza, a economia do país”.
Vender Barato
A estrutura representativa dos trabalhadores da TAP salienta que “a intenção, com os cortes e as denúncias dos AE (acordos de empresa) é fazer os trabalhadores ficarem mais baratos, para que a privatização seja mais agradável, digamos assim, para quem comprar”, defendeu a
coordenadora, realçando que poderá até estar em causa o eventual “desaparecimento da TAP”.
Em Outubro de 2020, quando saiu da TAP incompatibilizado com o então ministro Pedro Nuno Santos, David Neeleman levou consigo 55 milhões de euros, afirmando então o Governo, e a TAP, que esse valor transitava para o Estado através das prestações acessórias. Quanto ao restante, agora calculado em 169 milhões de euros (perfazendo 224 milhões na moeda única), estavam com a holding pessoal de Humberto Pedrosa.
O empresário, dono do grupo Barraqueiro, acabou por sair do capital da TAP em Dezembro de 2021, e ficou sem direito às prestações acessórias em Novembro do ano passado, quando se realizou uma operação de diminuição e aumento de capital da TAP SGPS, agora 100% nas mãos do Estado (tal como a TAP SA).
Entretanto, o Governo está a ultimar um documento para análise interna com os pontos a favor e contra de uma privatização total ou apenas parcial. O documento será analisado numa primeira fase pelo primeiro-ministro e pelos ministros com responsabilidade direta no processo, das Finanças e das Infraestruturas, sendo depois alargado ao Executivo em geral.
O ministro das Finanças, Fernando Medina, anunciou que vai levar a privatização da TAP, em breve, ao Conselho de Ministro, não explicando se o Estado vai privatizar 100% do capital social da companhia ou se vai manter alguma participação.
Os resultados da empresa só vão ser conhecidos em março, mas o ministro das Finanças referiu que a companhia tem “resultados positivos bastante antes do tempo que estava previsto no plano de recuperação”, que prevê para 2022 um prejuízo de 54 milhões e lucros a partir de 2025.
Têm sido apontados como interessados a Lufthansa, o grupo IAG (que tem a British Airways e a Iberia) e o grupo Air France-KLM.